Mesmo vindo de um país periférico (fora do eixo transatlântico de Nova York - Londres), com um PC bem equipado, talento e um pouco de sorte, é possível ter uma chance no mercado de música pop internacional, muito além do seu pequeno país de origem. É possível chegar lá sem comprometer a sua criação e sem vender a sua alma para uma multinacional.
As possibilidades da nova era, dos computadores e equipamentos de som acessíveis, além de canais de distribuição alternativos, está dando aos artistas independentes de um país periférico como a Noruega que - salvo A-ha e a queima de igrejas históricas (patrimônio da humanidade) pelas bandas de black metal no início dos anos 90 - nunca conseguiu fazer muito barulho no mundo da música para as massas.
Todos os artistas têm em comum o gosto pelo Depeche Mode, techno e house, com uma infância e pré adolescência fazendo som no Amiga, brincando com imagens no Vídeo Toaster e tocando os seus teclados Casio, para depois avançar para softwares mais completos como "Pro Tools".
Artistas como Kings of Convenience, Röyksopp e a pequena gravadora
Tellé, todos da pequena cidade de
Bergen (Seattle
nórdica?), na Noruega distante, são exemplos de que este quadro está mudando.
A dupla
Kings of Convenience lançou o seu segundo álbum "Quiet is the New Loud" (uma reedição do primeiro) distribuído internacionalmente pela gravadora
independente francesa Source na Europa. É a casa do Air, cuja sonoridade eles às vezes lembram, embora estejam mais para Belle & Sebastian. Nos EUA, a distribuição é feita pela Astralwerks (a mesma de Chemical Brothers e Basement Jaxx). O álbum entrou na lista dos 50 melhores de 2001 pelo venerável, embora tradicionalmente xenófobo, semanal inglês NME (ficou em 32º lugar, entre Björk e REM) - um fato inédito para um artista norueguês.
Outro fato inédito para um produto sonoro da periferia foi alcançado pela compilação "Tellé" (apresentando artistas da gravadora de mesmo nome), que foi votada como uma das melhores do ano pelas revistas inglesas especializadas em som eletrônico Muzic e DJ Magazine. E não é para menos.
Distribuído pela gravadora inglesa, a independente Wall of Sound, a compilação apresenta um repertório entre o eletrônico e o acústico. Há os que colocam mais peso na sonoridade e batidas eletrônicas visando as pistas, como Annie,
Björn Torske e os atuais queridos da imprensa inglesa,
Röyksopp, e também os mais melodiosos e downtempo, mas não menos eletrônicos, como
Ralph Myers & The Jack Herren Band.
A compilação conta também com a melancólica "Gold (For the Price of Silver)" de Kings of Convenience, remixado pelo DJ Erot. Tem respiros eletrônicos acompanhando partes da figura rítmica, enquanto uma voz tristonha fala "run along to the rhythm of the song".
Outro destaque da compilação é a alegre e irônica "Greatest Hit" de Annie (o nome verdadeiro é Anne Lille Berge Strand), que sampleia "Everybody" de Madonna em uma parceria com o
DJ Erot (Tore Kroknes). Com a sua voz sonsa, uma linha melódica de jorros sonoros de sintetizador e uma batida bem disco, Annie e DJ Erot produziram uma combinação que é irresistível.
Outras faixas irresistíveis são as duas da dupla Röyksopp, "So Easy" e "64 Position", uma versão ao vivo. A dupla apresenta uma límpida produção de paisagens sonoras que vai de ambient a house, na linha Daft Punk, com direito a sirenas, vocoders e batidas disco.
O espírito é na linha do faça você mesmo, a atitude é de tomar controle sobre as próprias carreiras e acreditar que o mundo deve prestar atenção. Na maior feira de música popular, a tradicional Midem, na França, que acontece agora em janeiro, estão marcadas apresentações dos Kings of Convenience, Bjorn Torske e Röyksopp, para todo mundo conhecer. O Príncipe da Noruega também vai e até os suecos, arqui-inimigos tradicionais dos noruegueses, estão elogiando. Um dos maiores jornais da Suécia, Dagens Nyheter, elogiou numa reportagem de página inteira "a maior chance do pop eletrônico da Noruega".
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