Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Som é o que os músicos, produtores e DJs fazem. E fazer som é diferente de fazer música, no sentido tradicional. A música é composta de ritmo, melodia e harmonia. Mas a duração é também um elemento a ser considerado.
Um dos elementos mais importantes das criações sonoras tecnológicas pop é tirar (samplear) trechos (loops) e pedaços de som (soundbites) de seu contexto habitual e costurá-los com instrumentos ou tratamentos eletrônicos. É assim que os novos produtores fazem suas paisagens sonoras inusitadas, às vezes belas, às vezes alarmantes; é o som ad-infinitum, sem começo nem fim.
Essa é a base da criação dos mais importantes DJs e produtores de hoje, como Juan Atkins, Derrick May, Laurent Garnier, Carl Craig, Carl Cox, Richie Hawtin, Autechre, Speedy J., C.J. Bolland, Kevin Reese, KLF, The Orb, Underworld e Aphex Twin.
Todos criadores de paisagens sonoras sampleadas e sinteticamente criadas, às vezes acompanhadas de batidas pesadas (tecno, house, drum'n'bass etc), às vezes sem nenhum acompanhamento, em sua maior parte, sem vocais. Vocais, quando aparecem, são criados sinteticamente ou filtrados pelo vocoder, em pequenos trechos repetidos.
Todos eles são tributários dos americanos La Monte Young e Terry Riley, os pioneiros desse tipo de colagem eletrônica com loops infinitos, reconhecidos como os pais do minimalismo na música.
Young, que se autodenomina o inventor da "dream music", considera que todas as suas composições (a primeira, do final dos anos 50) são uma só obra, ainda inacabada, que ele continua a compor até hoje, a cada nova peça.
O músico cria sutis variações feitas a partir de uma massa sonora gravada, criada por vozes e instrumentos de sopro, com a qual ele interaje, ao vivo.
Já Riley, em "Musica for the Gift", de 1963, utilizava dois gravadores que tocavam sem parar um trecho de "So What", de Miles Davis, em interpretação de Chet Baker. A velocidade das gravações, no entanto, era diferente, o que criava um efeito de atraso e contrapontos inusitados.
Ambos já trabalharam diversas ocasiões com o músico John Cale, e participaram do grupo Fluxus, e a audição de cada uma de suas obras costuma começar de noite e acabar com o nascer do sol -pelo que podem ser considerados precursores das raves de hoje.
Young chama suas apresentações de "Teatro da Música Eterna" ("Theater of Eternal Music"), e suas obras se baseiam em seqüências matemáticas desenvolvidas por ele. Suas considerações mais recentes sobre a "música eterna" podem ser encontradas no site
http://melafoundation.org, na seção "news" (notícias").
Junto com sua mulher, Marian Zazeela, o músico concebeu a "Dream House", um lugar onde sua música seria executada ininterruptamente. A casa existe, em Nova York, embora tenha horário para funcionamento.
Discografia comentada:
Terry Riley Gravações de Riley estão disponíveis em CD e são fáceis de achar, pois são distribuídas por grande gravadoras. Veja abaixo dois títulos representativos:
"Rainbow in Curved Air"
(Columbia, 1967)
"Music of our Time"
(Elektra, 2001)
La Monte Young Uma vez que o músico considera que seu trabalho é um "work in progress", que ainda está inconcluso, é difícil dividi-lo em volumes e fazê-lo caber num disco. É difícil encontrar as poucas gravações que há, mesmo assim, vale a pena tentar. O disco abaixo é o lançamento comercial, não autorizado pelo compositor, de um trecho de seu trabalho "The Tortoise, His Dreams and Journeys".
"Inside the Dream Syndicate, Volume 1: Day of Niagra"
(TOE, 1974)
Lou Reed Uma avalanche de guitarras distorcidas, processadas pela tecnologia de ponta da época:
"Machine Metal Music"
(RCA, 1976)
Autechre, Speedy J., C.J. Bolland,
Photek, Pete Namlook, Soma, Laurent
Garnier e Joey Beltram Coletânea de três discos com trabalhos de DJs e produtores
"Dream Injection, Vol. 5"
(Sub Terranean, 1997)
Carl Cox O DJ e produtor lançou esta coletânea com uma seleção de trabalhos seus, do Green Velvet e do Underworld.
"Fact 2 (Future Alliance of
Communication and Technology 2)"
(Edel Pinnacle/Sony)