Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
O terceiro álbum da banda inglesa Lamb, de Manchester, "What Sound" (Mercury, 2001,
já lançado no Brasil) traz um esquisito trip hop cuja base é a tensão entre suaves melodias, vocais estilo "menininha que canta a vida como ela é", e belos fundos orquestrados, distorções eletrônicas e batidas nervosas que flertam com o drum'n'bass - todas em formato pop com introdução e refrão.
Diferente do sentimentalismo e do melodrama de Portishead e das tentativas de Morcheeba em fazer uma versão diet de Massive Attack, o estilo do Lamb é mais direto, mais assumidamente pop, mas sem perder de vista a pista de dança e sem abrir mão do seu experimentalismo sonoro.
Mesmo assim, "What Sound" é mais relaxado do que os álbuns anteriores da dupla Andy Barlow e Louise Rhodes, que formam o
núcleo de Lamb.
Não há um hit do naipe de "
Cotton Wool", mas desta vez a proposta é a de música de design. Parece um trabalho mais pensado do que espontâneo: o som é cool, com o objetivo de agradar e, na maioria das faixas, consegue. Em um total de 10 faixas, ao menos sete são muito belas.
As pérolas ficam por conta do lamento em "I Cry", as intimistas "Heaven" e "Small" e a descarada canção de amor "Gabriel". Esta última conta com uma introdução de piano e vocal direto, acompanhada de um fundo de violinos gravado no lendário estúdio de Abbey Road. Pede pra ser tocada em rádio.
As canções são quase baladas, puxadas pela voz e as letras de Louise Rhodes. Nos momentos menos felizes ela tenta fazer a linha dor de cotovelo, em que acaba soando chorona e anasalada. Quando Rhodes canta com menos afetação e com mais inflexões folk, como em "Heaven" e "Small", o resultado é pop sofisticado.
Diferentemente dos
álbuns anteriores, "What Sound", trouxe mais colaboradores para dar uma direção mais eletroacústica, intimista e sofisticada para o som do duo que agora virou
banda.
São jeitosas as linhas de baixo acústico nas faixas "I Cry" e "Heaven". Em "Sweet", o baixo fica por conta de Me'Shell NdegéOcello e o acompanhamento de guitarra na faixa "I Cry" é do onipresente vanguardista americano Arto Lindsay (produtor de Marisa Monte e Caetano Veloso, entre outros).
Na faixa instrumental "Scratch Bass", a melodia é uma seqüência de "scratches" em cima de uma pesada linha de baixo distorcido com um interessante "reverb". É a faixa mais dançante do álbum.
Os co-produtores e arranjadores Dave Gascombe,
Guy Sigsworth e o violinista e regente Gavin Wright também respondem pelo design sonoro. Este último é co-responsável, junto com Andy Barlow, pela maior parte dos arranjos de orquestras que acompanham as faixas. O violinista Wright trouxe também um pouco do clima sonhador do seu próprio grupo experimental,
The Penguin Cafe Orchestra. O regente Wright e a The London Session Orchestra tocaram com todos os grandes do mundo pop -desde os Pet Shot Boys até The Verve e Richard Ashcroft- e agora fazem os fundos épicos de Lamb.
Segundo o seu
site oficial, Louise Rhodes tem passado temporadas no Brasil para aprender a tocar surdo. É promissor para futuros trabalhos.
Ouça
Lamb na Rádio UOL