Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Não devemos esquecer Compay Segundo e Los Van Van, mas o grupo cubano Sin Palabras indica que Cuba oferece ritmos contemporâneos bem mais energéticos que os tradicionais mambo e salsa.
Você pode ainda não ter ouvido falar, mas logo a percussão de Sin Palabras animará as pistas espertas perto de você. O grupo traz um som diferente do chamado latin house dos anos 90. É mais pesado, mais sofisticado e menos mecânico.
Sin Palabras mistura uma impressionante massa percussiva acústica de afro com mambo, rumba, canções de
santeria, teclados e uma batida programada puxando para o house de Chicago.
A massa percussiva acústica é tão precisa que parece programada. A junção com o tratamento eletrônico, tanto nos vocais como nas bases orquestradas e nas batidas, dá o resultado sofisticado e um som dançante rico em camadas e nuanças. Seu apelo sonoro vai muito além das pistas de dança.
É a sofisticação de uma linguagem pop internacional com o sabor local de Cuba que diferencia Sin Palabras dos outros trabalhos contemporâneos que misturam instrumentos tocados ao vivo com bases eletrônicas.
A ligação com santeria cubana permeia todas as faixas do último álbum do grupo, "Km0" (
Naïve), lançado em fevereiro último. É o terceiro álbum da banda e traz dez faixas, todas dedicadas a um
santo local, há títulos como "House of Yemaya", "Obatala Party e "Born Again". Um dos percussionistas, Iran "El Chinito" Lopez, explica no
web site do grupo que "existe uma batida para cada santo".
Também da tradição de santeria, vêm os vocais de Javier "El Cuchillo de la Habana Vieja" Pina e
Yaimi Lay. Ambos jovens, 29 e 22, mas hábeis percussionistas treinados na tradição local. Vieja era um dos cantores principais do Conjunto Folklorico Nacional de Cuba e tem amplo conhecimento da tradição iorubá local, e canta em dialetos afro-cubanos.
O título, "KmO", vem do nome dado a um trecho do bairro de Malecon, na beira-mar, no centro de Havana, onde o grupo mantém seu estúdio. Quilômetro zero é o "começo" de Havana e é também o começo de uma promissora carreira internacional da banda na cena techno.
Sin Palabras começou a seu turnê (Brasil não está incluído) para divulgar o disco "Km0" no final de maio em Paris e está lançando ainda neste mês de junho algumas das suas recentes colaborações com
DJ Kirill de Chicago.
Lançou dois discos independentes, gravados em Cuba ("House of Drums" de 1999, e "Orisha Dreams" de 2000), abriu o Techno Parade em Paris em 1999, participou no Roskilde Festival na Dinamarca nas suas mais recentes edições, e fez um bem-sucedida parceria com o estilista Kenzo que está disponível na
rede.
O Sin Palabras nasceu em 1995. Naquele ano, o DJ francês
Jean-Claude Gué chegou à Ilha à procura de cantores de santeria, que ele queria misturar com suas bases eletrônicas. Recém-chegado, encontrou Eduardo "El Charanguero" Lazaga, percussionista com La Charanga Habanera, um grupo que misturava salsa e hip-hop, muito no gênero dos Orishas. Encantados um com o universo do outro, a percussão com a eletrônica, vislumbraram grande futuro para esta mistura.
Juntaram-se com outros dois pesos-pesados do
mundo percussivo cubano, José "El Teacher" Eliado e o acima citado Iran "El Chinito" Lopez e pronto, Sin Palabras.
Sin Palabras já entrou em dois programas "Ondas Latinas" de José Simão.
» Ouça a música "
House of Yemaya" em "Ondas Latinas"
» Ouça a música "
Salsita" em "Ondas Latinas"