Rodrigo Silveira
|
Jan Fjeld
Norah Jones e Bryan Ferry vêm de gerações e escolas musicais diferentes (embora ambos tenham estudado artes plásticas na
faculdade e apresentam um repertório basicamente romântico. São trilhas perfeitas para um clima intimista.
Jones, com seus 22 anos, estréia no mercado fonográfico com "Come Away With Me", e Ferry lança o seu 11 º disco-solo, "Frantic". A primeira é uma sutil e sofisticada coleção de canções na voz de uma das mais gratas revelações vocais da atualidade, e o segundo traz Ferry, o eterno blasé encarnado, de volta com uma coleção que o consagra rei da canção romântica.
"Come Away With Me", Norah Jones (BlueNote/EMI 2002) O álbum de estréia da cantora e compositora norte-americana Norah Jones é belíssimo, simples, sofisticado e traz uma contagiosa revisitação do jazz, soul, country e folk-pop. É aquela voz que você ouve cantando e pensa: "humm, já conheço esta voz... de quem é? é parecida com a voz de... quem?" Mas não, é pouco provável que você já tenha ouvido a voz particular de Jones. Ela viveu os útlimos anos cantando em pequenos bares no bairro de Greenwich Village, em Nova York, como artista solo ou se apresentando junto com um grupo de vanguarda nova-iorquino Wax Poetic. E, apesar dos seus 22 anos e de sua voz suave e levemente áspera, faz composições como "Cold Cold Heart" de Hank Williams e "Turn Me On" de John D. Loudermilk, (um clássico na voz de Nina Simone), virarem ardentes e potentes canções de amor.
Jones canta, toca violão e órgão (vintage) Wurlitzer e vem acompanhada de baixo, guitarra e bateria. A produção sofisticada é do Arif Mardin, responsável pelos grandes sucessos de artistas como Aretha Franklin, Bee Gees, Carly Simon e Chaka Kahn. O seu forte é direção de voz. Neste álbum, os arranjos são sutis, não têm grandes crescendos, virtuosismos ou ginásticas vocais. Como disse Mardin certa vez sobre como ele trabalhou a voz de Aretha Franklin: "o seu registro é maior do que o de Pavarotti, isto todo mundo sabe, mas o meu trabalho é convencê-la de que não há necessidade de tanta ginástica". Menos, muitas vezes, é mais. Eis o caso de "Come Away With Me".
Na voz e nas canções de Jones, você ouve as influências de Nina Simone, de Billie Holiday e de Joni Mitchell, mas a voz da Jones é mais sutil, há mais ar na pronúncia das letras. É mais estudado do que improvisado, é mais pop e menos jazz embora a sua gravadora seja uma das grandes do jazz, a BlueNote.
Reza a lenda que Norah Jones descobriu há poucos anos que o seu até então desconhecido pai é um renomado citarista indiano, o Ravi Shankar. Mesmo assim, ela entrou no cast da BlueNote através da força de uma fita demo e não através da influente linhagem. Julgando pelo álbum de estréia, é bem provável.
Nascida em Nova York, mas criada no Texas, onde estudou música e artes plásticas, Jones se mostra uma hábil compositora e embora a faixa-título e as suas duas outras composições próprias, "Nightingale" e "The Long Day", puxem mais para o lado folk, Jones é uma séria concorrente ao título de diva do cool romântico - hoje ocupada por Sade Adu.
» Ouça
Norah Jones na Rádio UOL
"Frantic", Bryan Ferry (Virgin, 2002) Bryan Ferry se transformou em crooner inglês depois de ser corneado pela sua então esposa, a super model Jerry Hall, e está lançando um energético disco-solo que pesa no lado romântico, na melancolia. Ex-roqueiro de vanguarda, fundador do seminal Roxy Music, Ferry apresenta treze faixas entre composições próprias e regravações como "It's All Over Now, Baby Blue" e "Don't Think Twice, It's All Right", ambas de Bob Dylan, e "Goodnight Irene" de Phil Leadbetter - todas as letras tratando do tema amor. A maior parte, amor próprio, mas mesmo assim, é amor.
Como em todos os seus álbuns solos, as referências são muitas e em "Frantic", como em anteriores, há alusões a um mundo perfeito, não-alcançável. O sonho de encontrar um amor ideal, sem as cobranças e os ciúmes do mundo real.
Colaborou com Ferry em seu 11 álbum solo, Dave Stewart, antigo parceiro da Annie Lennox nos Eurythmics, Jonny Greenwood de Radiohead, e parceiro de longa data e co-fundador de Roxy Music, Brian Eno.
Os destaques ficam para as românticas e épicas "A Fool for Love", "San Simeon" e "I Thought" - este último uma colaboração com Brian Eno - em que Ferry choraminga "que fica fora a noite inteira, procurando um novo amor". É triste, mas é bonito e romântico.
Quem algum dia na vida gostou de algo de Bryan Ferry ou de Roxy Music ficará satisfeito: "Frantic" rima com "romantic" e é um luxo de rock adulto. É quase tão cool como um Chet Baker e é muito mais denso e inteligente que um Nick Drake.
E se não for suficientemente romântico, há também a boa e saudosa compilação "Slave to Love, The Best of Ballads" (Virgin 2000) onde você acha pérolas na voz de Ferry como "Slave to Love", "Smoke Gets In Your Eyes" e "These Foolish Things".
» Ouça
Bryan Ferry na Rádio UOL