Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Chega ao mercado um novo carregamento de rap, a bordo da Fenemê. A independente FNM (
Fábrica Nacional de Música) foi batizada carinhosamente assim por causa da antiga FNM, a Fábrica Nacional de Motores, que funcionou no Brasil até os anos 70, produzindo caminhões e alguns carros como o JK e um dos modelos do Alfa Romeo.
Pois a Fenemê do som, que tem um ano de vida, acaba de lançar no Brasil 15 títulos de alguns dos principais nomes do rap da atualidade, como Ludacris, Já Rule, Bubba Sparxxx e DMX. Ignorados pelas grandes gravadoras que dominam o mercado no Brasil, alguns desses caras têm passagens pelo topo das paradas de sucesso americanas, vendendo milhões de CDs.
A Fenemê não pensa em igualar aqui as vendas do mercado americano. Segundo João Paulo Mello, diretor-presidente da gravadora, existe sim mercado para esse gênero musical, concentrado no Sul do País, em São Paulo e com núcleos em Fortaleza, Rio e Recife, e vender de 6 a 8 mil unidades de cada título já está ok. Mesmo assim, Mello brinca: "Vou pegar meu caminhãozinho e passar por cima de todos os grandes".
Leia e ouça aqui Ludacris, Já Rule, Bubba Sparxxx e DMX.
Ludacris - Word of Mouf (FNM/Universal/DefJam, 2001)
"Word of Mouf" é o terceiro disco deste rapper de Atlanta, Geórgia, EUA e o primeiro a sair no Brasil. Ludacris é safo e é muito bom. Os seus raps são melhores e mais contundentes que a maioria dos seus contemporâneos, independentemente da vertente: gangsta, g-funk ou rap do sul. Os raps são sexualmente explícitos, chulos, pesados. É música pra rebolar, estilo charme, e é pra quem não se importa com um "fuck" alí e um "suck" acolá. Vale pelo humor, pelo bom suínge e pelo sexo explícito.
O álbum "Word of Mouf" inclui "Area Codes", uma suingada faixa no estilo Warren G (tem a colaboração de Nate Dogg, antigo parceiro de Warren G), onde o rapper se gaba de ter uma mulher ("hoe" que é puta) em cada área ("area code" equivale o cep).
Outra faixa suingada é a grudenta "Saturday (Oooh! Ooooh!)".
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Ja Rule - Pain is Love (FNM/Universal/DefJam, 2001)
Ja Rule lembra 2Pac Shakur tanto pelo timbre (um pouco mais rouco) como na forma que rappeia. Apesar da pose de gangsta,
Ja Rule, como 2Pac, é um romântico _incompreendido, está só no mundo e em constante procura por um grande amor. O álbum é repleto de baladas no estilo "
thug" de 2Pac, tratando de temas como dar uma volta de carro, fumando maconha e tentando achar uma mina que queria alguma coisa a mais que uma simples troca de idéias.
Há no álbum uma curiosa "colaboração" entre 2Pac e Já Rule na faixa "So Much Pain" onde o produtor, Ivo Gotti trabalha sobre a música "Pain" de 2Pac. Dá calafrio.
A faixa-título (que fecha o álbum) "Pain is Love" é tão brega que é boa. Tanto nos arranjos adocicados com violinos (sintetizados) como no tema melodioso tocado em algo que soa como sininho chinês.
Além de tudo isso, no refrão Ja Rule pergunta: "Dá pra explicar porque o amor não me ama". Pode? Por incrível que pareça, é muito bom.
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DMX - The Great Depression (FNM/Universal/DefJam 2001)
Em "The Great Depression", seu quarto álbum, DMX não mostra sinais de cansaço. O som é old school e cheio de riffs pesados de guitarras, meio speed metal. É o mais politizado e ameaçador da seleção. DMX é também o mais letrado desta turma.
No rap, um bom produtor é tão importante, se não for mais, que o próprio MC. DMX assume ambas as partes e é sócio da gravadora,
Ruff Ryders.
Na produção do disco, DMX conta também com ajuda de outros produtores como Just Blaze,
Swizz Beatz, Blink e Black Key. Este último, responsável pelos tradicionais, mas excelentes "Who We Be" e "We Right Here". DMX chamou a diva
Stephanie Mills para brincar com o clássico de
Mtume, "Whatcha Gonna Do (with my lovin'). O resultado é pop e, como a versão original de Mtume (e o remake versão techno de Inner City), continua contagioso.
"The Great Depression" é refinado, porém mantém o estilo ataque sonoro do bom rap; DMX é mais introspectivo nos seus raps, mas não é amargo, reclamão nem repetitivo _o maior defeito das produções de rap atual.
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Bubba Sparxxx - Dark Days, Bright Nights (FNM/Universal/Interscope, 2001)
Pesando no lado funk, "Dark Days, Bright Nights" é o álbum de estréia do rapper branco Bubba Sparxxx (que é bem mais negão do que Eminem). O álbum traz uma efervescência de sons, barulhos, batidas e referências ao mundo do "blaxploitation". Nascido pobre no interior do estado de Geórgia, sul dos EUA, Sparxxx apareceu no ano passado nos EUA com a música "Ugly", incluída neste álbum, surpreendendo um EUA bem racista com a sua cor branca. "Ugly" é uma colaboração com o super produtor Timbaland - ao lado de
Dr. Dre, é o mais disputado dos produtores do mundo hip hop atual. "Ugly" cita outro sucesso do produtor, "Get Ur Freak On", mega sucesso de
Timbaland/Missy Elliot. É animado, divertido e dançante.
O álbum traz também colaborações com outros produtores do barulho, como os sulistas do
Organized Noize nas arrastadas, poderosas mas elegantes faixas "All the Same" e "Bubba Sparxx" onde o rapper mostra a que veio. Bubba traz no "Dark Days, Bright Nights" um murmúrio funkeado e sofisticado.
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