Rodrigo Silveira
|
Jan Fjeld
Chega nesta segunda-feira o novo mini LP "The 92 vs 02 Collection" de um dos mais interessantes criadores de hip hop alternativo atual, o Prefuse 73. São quatro novas músicas disponíveis em formato CD e vinil, e você já pode ouvir clicando
aqui.
É downtempo eletrônica com um toque de jazz. São improvisações feitas na mesa de mixagem. As quatro músicas inéditas: "Desks, pencils, bottles", "When Irony wears thin", "It never entered" e "Love You Bring" (as duas últimas com apenas suaves batidas no fundo) soam como elegias eletrônicas ao pôr-do-sol. Parece
Autechre mixando
De La Soul. É ambient hip hop, psicodélico e muito bom.
Prefuse 73 é o nome artístico de Scott Herren, um nerd que faz música. E um músico que toca computador. Embora as suas composições não tenham melodias, refrões fáceis ou batidas secas, Scott Herren se compara a Prince: ele compõe, produz e toca todos os instrumentos (teclados e toca-discos) em todas as faixas no "The 92 vs 02 Collection".
As músicas novas ampliam e relaxam as batidas e a pesquisa sonora que Prefuse 73 apresentou no seu excelente primeiro álbum
solo, "Vocal studies + Uprock narratives" (
Warp, 2001) (sem distribuidora no Brasil). Este álbum ganhou notoriedade pelo experimentalismo e a inusitada sonoridade. Traz batidas mais quebradas, picotadas e mais hip hop do que as faixas de "The 92 vs 02 Collection".
O mini álbum novo de Prefuse que sai agora é firme na tradição hip hop: as bases são colagens, samples e as faixas utilizam rappers de modo incomum.
O uso dos raps no vocal criou controvérsia no mundo hip hop. Herren não utiliza o MC no sentido tradicional. "Vocal studies + Uprock narratives" pode ser considerado um disco instrumental, embora todas as faixas tenham algo de vocal. Todas as faixas nos discos de Prefuse 73 utilizam, em um momento ou outro, vocal como batida. Às vezes soam como estudos eletrônicos em ritmos africanos, em que usa elementos (trechos/samples) da era hard bop de Miles Davis em particular, e jazz em geral, mas com muita improvisação na mesa de mixagem e no pro-tools. Herren sampleia rappers e vocais em geral, picotando-os, fazendo loops e ritmos (batidas) com eles. O que importa é a sonoridade, a estranheza e a batida.
E, mesmo quando Herren abre o microfone para um MC - um rapper improvisando em cima de uma batida - ele corta e picota o rap na mesa de mixagem e no computador. É assim na faixa "Last Light" com Sam Prekop, em que o rap vira batida.
Em função deste experimentalismo, Prefuse 73 virou um acontecimento na ala alternativa da comunidade hip hop. Lembra DJ Shadow e DJ Krush, sem as sombrias paisagens sonoras. Prefuse 73 faz uso de interferências, estática, de sons que andam de um canal para o outro criando assim uma melodia não-linear, soando como alguém tentando sintonizar o seu rádio. Há poucas repetições de um tema ou seqüência de notas, comuns em hip hop. É algo mais assimétrico. Algumas das músicas em "Vocal studies + Uprock narratives" são nervosas como um hip hop tradicional, e outras mais suaves, mais lounge, lembram
Boards of Canadá.
Scott Herren é nativo de Atlanta, Geórgia, EUA, e mora atualmente em Barcelona, Espanha, onde montou sua gravadora, a
Eastern Developments, junto com os amigos Carlos Nino (também fundador do selo DubLab) e Estro. Seus projetos-solo continuam saindo pela Warp.
Como definiu em uma recente entrevista sobre os
primeiros projetos para o selo: "Somos um grupo de amigos e estamos abrindo uma lojinha para trazer música boa para as casas das pessoas. Não estamos redefinindo nada, não estamos competindo com ninguém, estamos só trazendo a música que acreditamos que o mundo deva ouvir."
A partir desta semana você já pode entrar no
site da Warp, para reservar a sua cópia de CD ou vinil das quatro novas faixas que devem chegar nas lojas (muito provavelmente nenhuma perto da gente) no início de julho. Já reservei o meu.