Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
O rapper, compositor e produtor inglês Roots Manuva é um outsider, um maldito no mundo hip hop, onde reinam hegemônicos os rappers dos EUA. Manuva está fora do show biz: não abre show para All Saints, não freqüenta as mesmas festas que os irmãos Gallagher e não pede pra Fatboy Slim fazer os seus remixes.
Nos raps, trata temas como alienação, paranóia e as injustiças do mundo de uma forma politizada e bem diferente dos seus colegas norte-americanos ou até mesmo dos seus conterrâneos. Estes são, em geral, mais preocupados em alardear as suas proezas sexuais, reclamar da falta de oportunidades, assuntos que Manuva trata com fleugma ou, no máximo, ironia.
Mesmo assim, Roots Manuva é um dos acontecimentos mais importantes desta cena desde o aparecimento de Tricky com o seu seminal "Maxinquaye" em meados dos anos 90. Como Tricky, Roots Manuva tem o dom de amarrar elementos aparentemente simples e formar algo complexo, intenso e um tanto paranóico.
Neste mês, Roots, ou Rodney Smith, o seu nome de batismo, está lançando "Dub com Save Me", um álbum com dez faixas -
a maioria dub - compostas e produzidas durante a gravação do seu segundo álbum, "Run Come Save Me" (BigDada/Astralwerks 2001) ainda sem distribuidor no Brasil. São faixas que não couberam no "Run come Save Me" (BigDada, 2001), lados B, versões alternativas de músicas do álbum anterior e remixes. E, até aí, nada especial.
O bom do dia é que além de estender a sua pesquisa sonora, as suas maluquices de estúdio e o uso de uma profunda e ameaçadora linha de baixo, Roots Manuva continua apresentando raps confrontadores, confusos e malévolos. Além do mais, ele usa a mesa de mixagem - fazendo dubs - como instrumento. E ele é um virtuoso em todas as áreas.
Roots Manuva produz o seu próprio material sobre nomes como Lord Gosh e Hylton Smythe, e não se considera um rapper. Afirma ele na faixa "The Lynch" do álbum que sai ainda este mês: "Não sou um rapper, sou uma ligação psíquica com um mundo paralelo".
Das dez faixas, destacam-se as poderosas "The Lynch" e "Tears", que foram disponibilizadas para download no site do Roots no ano passado. A primeira é um pesado mix de dub com hip hop (dub hop?) e a segunda uma forte candidata ao sucesso nos bailes com a sua arrastada, mas gostosa e provocante, batida. Declama Manuva: "não sou um socialite, estou mais para socialista (I'm not a socialite, more like a socialist)".
Mesmo com o seu status de maldito, Roots Manuva cravou um lugar nas paradas com
seus dois álbuns e remixes de pessoas como DJ Shadow, MJ Cole e
Super Furry Animals. Fez as cabeças balançarem nos seletos salões onde rap, hip hop, dub ou reggae formam o cardápio musical nos dois lados do Atlântico. A música "Juggle Things Proper", do seu primeiro álbum, fez também um sucesso nos bailes no Brasil afora, com sua saltitante e pesada batida. E isso apesar das visões de homens horrorosos na TV e da previsão de um iminente desastre mundial.
» Ouça trechos de faixas do "
Dub come Save Me" no Manuscrito
» Ouça o primeiro álbum de Roots Manuva na Rádio UOL,
Brand New Second Hand » Visite o
site oficial de Roots Manuva