Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
A dupla inglesa Zero7 comprova que produtores são as novas estrelas do pop. Duplas como Daft Punk, Air, Chemical Brothers e
Groove Armada tocam até alguns instrumentos, além de operar teclados e computadores e cantar ocasionalmente. Mesmo assim, são essencialmente formadas por produtores.
Quando tratamos de produtores, pouco importa sua cara, sua origem ou quem são. O que importa é a música que eles fazem. No caso específico de Zero7 e o seu agradável álbum de estréia, "Simple Things" (Ultimate Dilemma, 2001, que sai no Brasil este mês pela FNM), a produção é sofisticada e as sonoridades melancólicas, às vezes até celestiais. As ondas de sintetizadores sob as espaçosas mudanças de acordes e camadas de cordas dão a impressão que a música está flutuando no espaço.
Henry Binns e Sam Hardaker formam o núcleo de Zero7. Eles tocam teclados, compõem, fazem arranjos, mixam e operam o computador. São dois amigos do norte de Londres, ambos hoje com mais de trinta anos, que aprenderam os truques dos estúdios "
servindo chá" e trabalhando para gente como Pet Shop Boys, Robert Plant e Radiohead ao longo da década de 90.
No caso do Radiohead - através de
Nigel Godrich, outro amigo e parceiro nas longas horas de estúdio -, foram presenteados com a chance e a confiança de remixar a faixa "Climbing Up the Wall", de "OK Computer" (Parlaphone, 1997).
O sucesso da versão de "Climbing Up the Wall" de Binn e Hardaker foi tanto que os dois resolveram montar o seu próprio estúdio e fazer o que eles acreditavam ser o melhor, formar Zero7. Daí surgiram outros convites para versões e
remixes.
Binns e Hardaker não cantam e não tocam instrumentos (pelo menos não no tradicional de "tocar"): para isto têm músicos competentes e participações especiais. No álbum "Simple Things" há várias.
Para as partes vocais -das quatorze faixas do CD, sete têm vocais- chamaram Mozez, Sia Furler e Sophie Barker. O primeiro, dono de um timbre que lembra Martin Bernard um dos colaboradores do
Alpha. Já os timbres das meninas lembram o de Beth Hirsch, que canta duas faixas com Air, no álbum "Moon Safari" (Source, 1998).
Outros convidados especiais são Max Beesley, que tira um solo de piano Rhodes na faixa título (soa bem retrô); o flautista Dan Litman, que participa em "Red Dust", e o trompetista Graem Stewart, que participa da mesma faixa, quase jazzística. Pode ser tecno no espírito e na produção, mas o resultado sonoro é um ambient trip hop.
A dupla Binns e Hardaker também faz parte do seleto grupo de produtores/DJs/músicos a fazer uma compilação para a série de álbuns "
Another Late Night (with Zero7)", uma das mais bem sucedidas de trip hop, downbeat eletrônica e bossas finas (rare groove) em geral.
"Simple Things" parece uma compilação de suas próprias faixas favoritas. É um tour de force com belíssimas pinturas sonoras que evocam cores quentes e pensamentos intimistas por meio de suas melodias tímidas, arranjos sofisticados, vocais suaves e harmonizações elegantes.
De quebra, a versão brasileira do "Simple Things" tem duas "paisagens sonoras" bônus, não incluídas na primeira prensagem do ano passado: "Salt Water Sound" e "Spinning" representam uma generosidade para o nosso mercado sul-americano onde os lançamentos internacionais costumam sair com uma ou duas faixas a menos.
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