Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Ele é inglês, com nome de personagem de filme de ficção científica, fez sua fama no mundo do tecno pesado, na linha
raíz de Detroit, e agora está lançando um álbum cheio de vocais.
Nada disso é muito comum na cena tecno -a música sem estrelas, sem vocalistas, com melodia, batidas, construções e sonoridades bem definidas, para não dizer rígidas-, mas Luke Slater sempre foi um pouco diferente.
Julgando pelo seu mais recente CD "Alright On Top" (Mute, 2002), o diferencial pode dar certo. Em metade das dez faixas do álbum, Slater divide o trabalho com o vocalista e letrista
Ricky Barrow. Coisa incomum no universo tecno.
Há uma série de elaboradas e intensas, por vezes até sinistras, faixas de um funk pesado (tecno puro) sem vocal (a mais pesada é curiosamente a última do álbum). A maioria delas, no entanto, cai no electro, inspirado no synth pop de Depeche Mode.
Aliás, a maior banda synth pop de todos os tempos não é apenas uma referência: Slater uniu-se ao produtor de Depeche Mode Daniel Miller para
produzir "Alright On Top".
A sonoridade e as batidas do álbum reciclam muitos elementos retrô em vez de explorar novas frentes, como Slater fez muito bem no seu primeiro álbum pela gravadora Mute, "Freek Funk" de 1997.
Neste disco, foi além do tecno minimalista para pista -incorporou e explorou um pouco do house, do funk e de paisagens sonoras mais ambient. O Slater de 2002 se jogou num electro saudoso dos anos 80 -a onda do momento- embora não soe
apelativo.
No álbum não constam baladas ou faixas downtempo, nem samples de vocais fáceis da era soul de Moby, mas sim uma vontade de trazer o peso da sua densa programação de batidas para uma linguagem mais pop. Até Luke Slater está bem reconhecível, estampado na capa do álbum, vestido de Luke Skywalker. É quase pernóstico.
A escolha do segundo single, "Stars and Heroes", afirma sua vontade de se diferenciar, ampliando o foco da pista de dança para chegar também nas paradas de sucesso. A faixa é um poderoso electro com um bom e grudento refrão, na linha Depeche Mode ou New Order de meados dos anos 80. No single há quatro remixes da faixa, sendo que um deles é feito pelo DJ e produtor de sucesso atual, Felix da Housecat.
Slater espera ser o novo Fatboy Slim ou Moby da música eletrônica. Além de "Stars And Heroes", o primeiro single do álbum, "Nothing At All", lembra em alguns momentos as elaboradas produções sintetizadas de Giorgio Moroder para Donna Summer. Há também outras faixas com potencial para sucesso comercial como "I Can Complete You" -esta é mais retrô ainda, com vocal em vocoder.
Só na faixa que fecha o CD, "Doctor of Divinity", Slater mostra a sua marca registrada e tradicional na pulsante, hipnótica e ameaçadora faixa em que onduladas camadas de sintetizador e batidas perturbam até a espinha dorsal do ouvinte.
Slater flertou com o sucesso pela primeira vez sob o nome Translucent com a faixa "Momentary Vision", na virada da década de 80 para 90, com um som ameaçador, pesado e minimalista.
Na seqüência, juntou-se a Alan Sage, sob o nome Morganistic e Luke Slater's seventh Plane, e qualquer DJ de tecno que se preze carregou em seu "case" alguma produção desta dupla.
Sucesso neste contexto significa boa aceitação nas pistas dos pequenos e seletos clubes no continente Europeu, especialmente na Bélgica, Holanda e Alemanha, onde o tecno de Slater sempre teve mais aceitação.
Mas o inevitável já aconteceu há tempos, e o tecno virou pop. Quem faz tecno quer ser pop star e aparecer na TV. A cena tecno há muito não é mais um submundo cultuado de títulos e logotipos crípticos, com nomes inspirados em máquinas, softwares, drogas e personagens de HQs.
Agora, é big business, e, como é inerente ao big business, o céu é o limite. O título do álbum justifica: "Alright On Top".
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