Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Você nunca ouviu nada igual. O novo CD "Arrhythmia" (Warp Records 2002) do trio de rap nova iorquino Antipop Consortium é um ataque sonoro que tem o bom humor e a ironia de um
De La Soul, aliado a estranheza sonora de um dos pioneiros de música eletrônica atual,
Autechre. Antipop Consortium mostra que há saída da mesmice do rap atual com o seu lançamento vanguardista.
O grupo saiu do gueto do rap alternativo dos EUA, cruzou o Atlântico e assinou com a gravadora independente inglesa
Warp Records, acenando assim também para um público de música eletrônica experimental. Muitas das batidas arrítmicas e sons do CD, segundo do trio, saíram de um
Commodore 64 em curto-circuito.
O título "Arrhythmia" não se refere necessariamente a batidas quebradas, mas sim ao descompasso que o trio vive com relação ao mundo de rap norte-americano -em que correntes de ouro e autopromoção, embaladas por um som que está mais para rhythm'n'blues do que para hip hop, são a tônica.
Antipop Consortium foge da batida "padrão", conta histórias nonsense e utiliza breaks em faixas que têm mais em comum com colagens sonoras do que uma estrutura organizada de versos e refrões que se alternam.
Um disco de rap arrítmico é no mínimo inusitado para um gênero que prima pela base rítmica estável, sobre a qual a corrente verbal deita e rola.
Em "Arrhythmia" não há raps sobre o tamanho do membro viril, sobre a grandeza dos rappers ou em homenagem às figuras seminais do movimento ("name checking"). Em vez disto, há observações ácidas sobre o "império do mal" que, segundo o trio, o mundo hip hop norte americano se tornou, raps irônicos sobre o estado (paranóico) das coisas no mundo e experimentações sonoras.
A faixa "Mega", por exemplo, é um break cantado pela meio-soprano Nedelka Prescod cuja letra consiste tão somente na palavra "mega". A segunda faixa do álbum começa com o som de uma bola de ping pong batendo na mesa. A batida vira a base da música "Ping Pong". Há ainda raps nonsense sobre estar "morto em movimento" ("dead in motion") e sobre o assassinato da "escória do sabonete" ("soap scum").
O Antipop Consortium é formado pelos rappers High Priest, Beans e M. Sayyid, todos do bairro do Brooklyn, Nova York, que desde 1997 juntaram forças com o produtor E Blaize -o que faz deles, na verdade, um quarteto. Mesmo assim, o grupo continua se autodenominando um trio.
Neste recente "Arrhythmia", o Antipop Consortium continua fiel a seu lema de "incomodar o equilíbrio", declarado no muito aclamado álbum de estréia de 2000 "Tragic Epilogue" (Ark Records), e deixa claro que há sim, um futuro promissor para o rap.
Leia sobre o novo lançamento de Antipop Consortium
"Antipop Consortium vs Matthew Shipp" (Thirsty Ear, 2003).
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