Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Aviso importante: os graves do álbum "Life Is..." (!K7 2002) dos ingleses de Smith & Mighty pode causar danos às suas caixas acústicas. "Life Is..." é um álbum com música para baile que mistura o batidão do hip hop, do reggae, o sentimento de soul, as texturas do dub com o prazer de dançar. O álbum é cheio de melodias insinuantes, tempestuosas linhas de baixo e muito balanço.
Embora downbeat, a graça deste "som de Bristol" é justamente esta: o incessante e saltitante balanço.
Mesmo com nome de dupla,
Smith & Mighty é hoje um grande grupo. Neste terceiro álbum, os seus integrantes chegam mais perto da tensão do drum'n'bass do que do clima mais relaxado do trip hop e reggae de costume.
Antes mesmo de entrarem as batidas, as guitarras e o zumbido dos graves, na faixa "Life Has A Way", a voz de Rudy Lee começa: "We're living inna serious times" (Estamos vivendo em tempos sérios). E o mote dá o tom do álbum. As situações de tensão que as letras descrevem contrasta com o clima "baile" das músicas. Mas, continua a voz masculina: "forget your troubles and worries and dance to the bass and the drum".
Este foco no baixo e bateria é uma das marcas registradas de Smith & Mighty. Outra marca registrada são os efeitos dub contrastando com as vozes femininas, estilo diva soul. Na esperançosa "Flash of Joy" e nas belíssimas "Rise" e "Life Is So Eventful", as vocalistas Tammy Payne, Caroline e Louise Decordova levam com muita elegância as melodias sobre as quebradas batidas. As duas últimas faixas tratam a necessidade de continuar vivendo de melhor forma possível, mesmo com o iminente perigo de guerra e do colapso econômico. "Life is so eventful, how could we complain", canta Louise Decordova.
Todas as vocalistas colaboradoras do novo álbum, como nos dois
álbuns anteriores, são de Bristol e todos são amigos de longa data. Isso explica porque poucas pessoas além dos bailes de Bristol e da Inglaterra conhecem Smith & Mighty, uma
influência tão marcante na história do pop.
Smith & Mighty não fazem pose, são fiéis ao bairro, às raízes e são da pesada - no sentido som. Fazem som pra curtir, não pra grilar. A falta de uma aceitação maior pode ser pelo experimentalismo, pelos graves que estouram as caixas acústicas e pela falta de sucessos nas FMs. Mas mesmo com quase 20 anos sem grande sucesso, Smith & Mighty não desistiram.
O grupo vem fazendo o seu baile da pesada desde os meados dos anos 80, misturando trilhas sonoras de filmes antigos, clássicos da história do pop com hip hop, dub e reggae, o som eclético que ficou rotulado como o "som de Bristol" ou trip hop.
Os mais conhecidos representantes deste gênero não são Smith & Mighty, mas a santa trindade do trip hop formada por Massive Attack, Portishead e
Tricky - todos da cidade portuária de Bristol. Todos freqüentaram os bailes de Smith & Mighty. A então dupla produziu um dos primeiros singles do Massive Attack, "Any Love", que é uma música com muitas semelhanças com "Walk On", até hoje, o maior sucesso de Smith & Mighty desta época. Esta música é também o protótipo do som de Soul II Soul.
O novo álbum "Life Is..." atualiza parte desta história e apresenta várias opções para a saída do anonimato de Smith & Mighty. Um bom exemplo é a suave, uma das poucas do álbum, "Maybe It's Me", que recupera o vigor, a alegria e o espírito da música "Keep On Movin', grande sucesso de Soul II Soul no início dos anos 90. "Life Is..." é o baile da pesada versão 2002, que chegou para arrebentar.
» Ouça "Move You Run" com
Smith & Mighty e Tammy Payne na Rádio UOL
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site oficial de Smith & Mighty