A diva do etno pop Natacha Atlas se rendeu ao canto em inglês e fez música mais acessível para os ouvidos ocidentais no seu quinto álbum solo, "Something Dangerous" (Mantra/Sum, 2003).
No caso desta poliglota nascida num bairro marroquino de Bruxelas, filha de mãe inglesa e pai judeu sefaradita egípcio, isso não significa que o álbum traga uma versão diluída do seu trabalho que sempre primou pela mistura de elementos tradicionais com o eletrônico.
Pelo contrário, "Something Dangerous" traz colaborações com gente grande da música eletrônica atual como Andy Gray e Xenomania, uma belíssima colaboração com Sinead O'Connor e harmonias vocais que deixariam Destiny's Child com vergonha em várias das 14 faixas do álbum.
O encontro do acústico, especialmente do mundo árabe, com o tratamento eletrônico atual é a força nas músicas -a maioria da própria Natacha. Só que o resultado agora é menos étnico e mais pop do que nos álbuns anteriores.
"O inglês não é uma língua em que me sinta confortável em cantar. Tem algo na entonação que não soa árabe", revelou a cantora em
entrevista a esta coluna, em março de 2002.
Mesmo assim, a versão de Atlas e
Temple of Sound para "It's a Man's Man's Man's World", não tem nada de "desconfortável". Temple of Sound são ex-integrantes de Transglobal Underground, a banda com quem Natacha se projetou no início dos anos 90. Em sua versão, entítulada "Man's World" do clássico de James Brown, a cantora exibe toda a sua exuberância vocal cantando em inglês. A sofrida canção original vira uma lânguida e confortante música de ninar. Ouça "Man's World" em
alta ou em
baixa velocidade.
Outra cantiga de ninar do álbum é a pérola "Adam's Lullaby", uma colaboração com a Orquestra Sinfônica de Praga. É beleza pura. Ouça em
alta ou em
baixa velocidade.
"Eye of the Duck" traz também um colaborador de Transglobal Underground, Tuup, nos vocais. Salvo a boa participação nos vocais da rapper Princess Julianna e a batida rai-ragga, é a faixa mais "antiga" do álbum. O produtor Mike Neilsen, um dos "ratos" do Strongroom Studio em Londres, produziu uma faixa rádiofônica, mas soa datada. Ouça "Eye of the Duck" em
alta ou em
baixa velocidade.
Mais atual (atualíssima alias) é a faixa "Daymalhum", que traz uma batida electro sombria. Os teclados soam como um Depeche Mode inspirado mas não deprimido. É uma colaboração de Natacha com o produtor Andy Gray, parceiro de longa data de super DJ e remixador Paul Oakenfold. Gray é responsável pela produção de três faixas no álbum, embora este disco não tenha nada de house. Ouça "Daymalhum" em
alta ou em
baixa velocidade.
A beleza e força do álbum ficam no flerte com o ambiente que ela tão bem explorou no álbum
"Foretold in the language of dreams" (Mantra/Sum, 2002), além dos exuberantes arranjos vocais e os bons colaboradores. "Something Dangerous" traz uma elegante colaboração da Sinead O'Connor na faixa "Simple Heart". Natacha canta em árabe e Sinead em inglês. Ouça em
alta ou em
baixa velocidade. Esta faixa pode ser para Natacha Atlas, o que "Seven Seconds" foi para Youssou N'Dour: a colaboração do N'Dour com Neneh Cherry tirou o africano do underground e o levou ao topo das paradas de sucesso mundo afora. "Simple Heart" é assim, uma canção épica com grande potencial comercial.
A dupla inglesa de produtores Xenomania (Brian Higgins e Matt Gray) é responsável pela produção de mais dois dos belos duetos neste álbum, "Who's My Baby" e "When I Close My Eyes". O Xenomania já trabalhou com Cher, Blondie e Saint Etienne. Ouça "When I Close My Eyes", com Natacha cantando em árabe com a cantora Myra Boyle, co-autora da música, em
alta ou em
baixa velocidade.
>> Ouça o álbum
"Gedida" na Rádio UOL
>> Visite o site da gravadora
Mantra Recordings e assista o clipe da música "When I Close My Eyes". O site não é atualizado.