A diva de
nu soul Erykah Badu e a sua gravadora Motown não querem que o mundo considere o novo "World Wide Underground", (lançado mundialmente em setembro último) um álbum de carreira. Eles o definem como EP, provavelmente para não espantar o público fiel e grande de Erykah com este álbum de 11 faixas e mais de 50 minutos de grooves. Não há em "World Wide Underground" uma música "de trabalho", no jargão das gravadoras, aquela com refrão pegajoso, um sucesso que tocaria nas FMs da vida e promoveria o álbum, como foi a faixa "On & On" em seu primeiro e "Bag Lady" no segundo álbum - ambas grandes sucessos nas FMs do mundo. As músicas no novo álbum aparentam improvisações, não há refrões, estrutura padrão da música pop; há músicas de dois e até uma faixa com mais de dez minutos.
Mas pouco disto importa, o fato é que é o terceiro álbum (não contando a versão
ao vivo do seu primeiro) de Erykah Badu é muito bom. É o seu melhor trabalho até agora. Há muitos bons elementos de seus álbuns anteriores em "World Wide Underground". Embora os arranjos sejam mais simples, há menos instrumentos, não há exageros vocais e o foco é sempre nos grooves, na métrica das músicas, que ficam numa área entre soul e hip hop. Ou, melhor, como define a própria Erykah em uma das músicas, é "sophisticated gangsterism".
Como no gangsta rap, as batidas são funkeadas. Mas é tudo muito cool e as letras em nenhum momento tratam da violência do gagsta rap, que a própria Badu já havia abordado em seus álbuns anteriores. O som que Badu e
Freakquency tem um quê de inacabado. Há loops, grooves e trechos que aparentam improvisos, embora muito bem programados. E há outros que parecem divagações musicais. Onda que vai e vem.
Ouça na faixa "Bump It" o curioso jogo que a Erykah faz com a voz - anasalada e arrastada. A letra, quando há palavras, parece uma conversa que a vocalista está tendo com o seu engenheiro de som: "Push up fhe Fader / Bust the meter / Shake the tweeter". Ouça "Bump It" em
alta ou em
baixa velocidade.
A letra na faixa "Woo" é sobre o que seria entrar no estúdio e gravar a música que você está ouvindo. Como a maioria das letras neste álbum, trata-se o prazer de estar no estúdio e poder brincar com os instrumentos e botões, o prazer de fazer suingar. Ouça a cool "Woo" em
alta ou em
baixa velocidade. É chic show.
Outra faixa com letra sobre o que é fazer suingar é "Back In the Day (Puff)" - a mais próxima a um single do álbum, com um quase refrão. E, o "puff" não tem nada de Puff Daddy, é "puff" de dar uma tragada (puff) num baseado. A letra lembra como era gostoso "back in the day", quando as coisas eram mais fáceis e "a gente fazia o que queria, apertavam um e... puff". Conta com a participação de Lenny Kravitz na guitarra e há um trecho da música "Face to Face" do Flight, uma banda fusion anos 80, ao fundo. Ouça "Back In The Day" em
alta ou em
baixa velocidade.
Outra participação ilustre está na faixa "Think Twice" (inspirado em Donald Byrd, segundo Erykah) com um improviso do trompetista Roy Hargrove, estudante do famoso instituto Berklee de música e ex-parceiro de grandes nomes do jazz como Wynton Marsalis, Bobby Watson e Carl Allen. É uma quase balada feita de improvisações vocais e instrumentais - baixo, guitarra e trumpete - no estúdio, em cima de loops pré-gravados. Ouça "Think Twice" em
alta ou em
baixa velocidade.
A maioria das faixas são canções de amor, amor à música, como "Love of My Life" - uma ode ao hip hop de antigamente. Percebe-se que este álbum é bastante sentimental. Esta faixa conta com vocais de Queen Latifah,
Bahamadia e
Angie Stone. A música é de autoria de Angie Stone e as suas parceiras dos anos 80, o trio Sequence que além de Angie Brown Stone, contava com Cheryl Cook e Gwendolyn Chisolm. O trio era um dos pioneiros do hip hop junto com Sugarhill Gang e Grandmaster Flash. Ouça "Love of My Life" em
alta ou em
baixa velocidade.
Afinal, não importa se "World Wide Underground" é um EP ou álbum, o que importa são os mais de 50 minutos de bom som e mesmo que este álbum não seja gravado ao vivo, "World Wide Underground" parece uma noite com Erykah Badu: uma noite suingada, gostosa, mas sem a chateação das palmas e gritinhos do público.
>>Visite o site oficial da
Erykah Badu >> Visite o site oficial da
Motown >>Ouça
"World Wide Underground" na Rádio UOL