Seguem dicas das melhores coletâneas lançadas em 2003. A seleção não leva em conta em que ano o material contido nas coletâneas foi gravado, produzido ou lançado originalmente. Há uma predileção pelas coletâneas de dub. Aliás, este colunista aposta que 2004 será o ano em que o mundo pop vai redescobrir este gênero essencialmente terceiro-mundista. O nu electro de ontem é o dub de amanhã.
"Rhythm & Sound - the versions"
(Asphodel, 2003)A coletânea reúne oito versões basicamente instrumentais (lados B lançados em vinil 12 polegadas) de músicas que mostram um ponto de contato entre o tecno de Detroit e o reggae de raiz.
As produções foram gravadas entre Berlim, Nova York e Kingston. Em comum, a produção da dupla berlinense Rhythm & Sound, ou seja, Mark Ernestus e Moritz von Oswald. As faixas misturam arranjos eletrônicos, bem na linha "menos é mais", com o que há de bom e espacial no dub. Um barulhinho denso, quase atmosférico, permeia a maioria das músicas.
O instrumento principal é o baixo; as batidas são arrastadas e pesadas. As interferências vocais vêm em forma de palavras ("ready", "jah", "love") com muito eco. Os vocalistas são, na maior parte, jamaicanos - como Paul St. Hilair, Jennifer Lara e The Chosen Brothers Ouça os últimos na pesadíssima "History Version" aqui em
alta ou
baixa velocidade.
As versões mais reggae e menos dub (os lados A) também estão disponíveis numa coletânea chamada "Rhythm & Sound Versus The Artists", que não é nada mal - embora não supere as hipnóticas versões dub.
Lançada pela pequena gravadora norte-americana Asphodel, que conta também com artistas como John Cage, Diamanda Galas e DJ Spooky no seu catálogo, a coletânea está disponível nas melhores lojas online. Comprei no
Other Music, paguei US$ 11,99 e recebi em uma semana e meia.
"Richard Dorfmeister presents... a different drummer selection"
(Different Drummer, 2003)Para comemorar dez anos de existência, o selo inglês A Different Drummer, especializado em dub e suas vertentes, convidou Richard Dorfmeister (da dupla Kruder & Dorfmeister) para fazer uma seleção comemorativa e seu deu muito bem.
A escolha é primorosa, reunindo velharias do dub eletrônico -como a lendária "Sexy Selecter" de Rockers Hi Fi (originalmente lançado em vinil em 1993 com o nome de Original Rockers). Segundo os idealizadores da pequena gravadora de Birmingham, Inglaterra, foi esta faixa e seus elementos meio acid, meio dub, que os inspiraram para fazer uma gravadora. Ouça aqui "Sexy Selector" em
alta ou em
baixa velocidade.
Entre os artistas incluídos neste álbum há Overfproof Soundsystem (o nome artístico do dono do selo, Richard Whittingham), representado pela faixa "Watch What You Put Inna". Esta poderia fazer parte de qualquer álbum (mixado ou de produção própria) de Kruder & Dorfmeister, tendo entre os seus co-produtores nomes como Tweed e Frankie Valley. Ouça "Watch what you put inna" em
alta ou em
baixa velocidade.
Ouça mais sinuosas linhas de baixo, efeitos de eco esféricos, inserções de trechos de vocal e as distorções sonoras que os produtores de dub chamam de "esculturas aurais" clicando
aqui"underworld 1992 - 2002"
(V2/Sum, 2003)CD duplo que reúne o melhor de Underworld, o trio que agora é uma dupla - das mais influentes da cena eletrônica da década passada diga-se de passagem.
O melhor desta coletânea de melhores momentos é que não há versões editadas ou versões para tocar em rádio. São todas originais, lançadas visando o melhor resultado na pista e na audição. A maioria das músicas tem duração por volta de dez minutos e o CD inclui 16 faixas que levam o ouvinte através de várias etapas sensoriais.
Trata-se da banda que fez a melhor trilha sonora para a geração E (ecstasy). Mesmo assim, o Underworld vai muito além da pista: influenciou o hip-hop norte-americano, o dub jamaicano, o rock independente e a música contemporânea erudita.
A dupla que formou Underworld, Karl Hyde e Rick Smith, antes da entrada do super-DJ
Darren Emerson (novamente em carreira solo), começou a fazer música no início dos anos 80. Eles, juntos e por conta própria, faziam de punk a disco music; tocaram com Blondie e Prince até que formaram Underwold em 1988. Mesmo assim, os seus primeiros lançamentos, "Dirty" e "Bigmouth", incluídas nesta coletânea, foram lançadas sobe o nome de Lemon Interrupt. O primeiro furor no então submundo da música eletrônica foi com o épico "mmm... skyscraper I love you", de 1993. Ouça aqui em
alta ou
baixa velocidade.
As suas criações foram incluídas em comerciais para produtos como Adidas, Nike, Pepsi e Sony. Tiveram também colaborações com Björk, Depeche Mode, Leftfield e até Simply Red. Este é um álbum essencial. Ouça a música tema dos anos 90, "Born Slippy", em
alta ou
baixa velocidade.
Tiga "DJ Kicks"
(!k7!, 2003) O canadense Tiga, um grande truqueiro nas picapes, é um agitador da cena electro - não só na sua cidade natal, Quebec, onde ele mantém festas regulares há anos, mas também no mundo, agitando pistas de Buenos Aires a Tóquio.
No início de 2003, provavelmente devido ao seu bom mix de nu electro, Tiga foi convidado pelo selo alemão !K7! para participar da série
"DJ Kicks" com o melhor do seu set atual. A série, uma das mais respeitadas empreitadas de lançamentos de sets de DJs do mundo inclui, além de Tiga, ótimas coletâneas de DJs como Carl Craig, DJ Cam, Stacey Pullen, Playgroup e Kruder & Dorfmeister.
No "DJ Kicks" de Tiga há um mix muito divertido da banda alemã 2Raumwohnung - o nome da música é "Ich und Elaine". Ouça aqui em
alta ou
baixa velocidade. O disco também traz uma música muito boa dos ingleses
Swayzak. Ouça aqui uma seqüência que inclui a sua excelente faixa "Ikea".
Em seguida você ouve "Bang Bang Lover", de Charles Manier, que precede uma escolha bem boba, "The Biggest Fan", da dupla canadense Martini Bros., que trabalha com Tiga na sua gravadora Turbo Recordings. A seqüência é fechada com o remix do próprio Tiga para a sua música "Madame Hollywood". Ouça a sequência em
alta ou em
baixa velocidade.
Além do mais, esta coletânea do Tiga deu um pouco de sobrevida para o electro, o gênero mais hypado de 2002 e também de 2003.
"High Fidelity Dub Sessions. Chapter Four" e "Chapter Five"
(Guidance Recordings, 2003)O mote da gravadora Guidance Rocordings, que há alguns anos lança uma série de coletâneas chamada "High Fidelity Dub Sessions", é "Music is our spiritual guide through life" (Música é o nosso guia espiritual na vida).
Pode ser sim um pouco pretensioso, mas sem um pouco de pretensão nada é feito. A Guidance Recordings se propôs a lançar o que há de melhor em dub moderno - algo que todos alegam e, neste caso, não é descabido. As coletâneas são muito bem pesquisadas e variadas.
Nas duas edições da coletânea de 2003, "Chapter Four" e "Chapter Five", há de versões suingadas do jeito bem jamaicano até outras, assim, mais lounge com estranhezas - como dub de uns malucos da Finlândia. Escolhas mais óbvias como versões de Tosca,
Groove Armada e
Smith & Mighty completam os discos.
O melhor do Chapter Four é a versão de Reggae Disco Rockers da música "Baby", de Horace Andy, com o próprio Andy cantando. Ouça aqui em
alta ou
baixa velocidade. É sublime.