M.I.A. globaliza a "bunda music" em álbum de estréia
"Arular" (XL Recordings, 2005), lançado no início do ano na Inglaterra e com previsão de lançamento para junho no Brasil pela SUM Records, é o álbum de estréia da mezzo jovem M.I.A., de Londres, que está causando furor nas pistas mais antenadas do mundo, inclusive as brasileiras.
As razões deste furor são das mais óbvias. Além de ser um álbum energético e dançante, bem diferente de algo que você já ouviu, "Arular" traz som e batidas bastante influenciadas pelo ragga jamaicano - a "bunda music" de lá - e do funk carioca - a "bunda music" daqui. Além do mais, M.I.A. é a personificação da menina talentosa, poderosa e exótica. Bonita, magra e morena, seus pais são refugiados de Sri Lanka. M.I.A. tem tudo para ser a garota pop do momento.
Um dos elementos exóticos para inglês ver é a influência do funk carioca, que nas letras de M.I.A. vira "baile funk". A influência é tanta que
uma das faixas, a "Bucky Done Gun", conta com trechos da música "Engessão", uma faixa produzida pelo pai do funk carioca, DJ Marlboro. Ouça aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
O produtor de "Bucky Done Gun", o norte-americano
DJ Diplo, se apresentou no Brasil, pesquisou funk no Rio de Janeiro e pediu licença ao DJ Marlboro para utilizar trechos de "Engessão" como música incidental na sua produção. E, como gesto de reverência, Diplo convidou Marlboro para fazer remixes de "Bucky Done Gun". As duas versões que Marlboro aprontou, segundo o próprio, estão prontas e devem sair em vinil em junho, pela independente inglesa XL Recordings, para bombar a turnê mundial da cantora. Ouça a faixa que abre o álbum, "Pull up the People" aqui em
alta ou em
baixa velocidade. É uma bomba.
Nascida Mathangi Arulpragasam, M.I.A. também é conhecida como Maya (que é a pronúncia de M.I.A.). Seu pai era um militante da guerrilha
dos tâmiles (Tamil Tigers), que lutava pela independência para a minoria tâmila da ilha. Embora nascida na Inglaterra, M.I.A. passou infância na ilha. Fugiu com a família para Índia quando estourou a guerra civil nos anos 80 - seu pai era procurado pelo regime - e depois foi para a Inglaterra, com 10 anos.
Em sua carreira, M.I.A. não hesita em utilizar essas referências para criar a sua personagem exótica, uma moça revoltada que não aceita o mundo como ele é, que quer fazer justiça com as próprias mãos, que não hesita em pegar em armas.Talvez por isso, e por fazer uma mistureba interessante de estilos, ela tem algo diferente para oferecer. Ouça a "Sunshowers", música de Augusto Darnell, ou Kid Creol, como é mais conhecido, em
alta ou em
baixa velocidade.
Atualmente com 28 anos, formada em artes e cinema por uma das mais prestigiosas faculdades de Londres, a Central Saint Martin's School of Art, M.I.A. foi convidada por
Justine Frischmann, líder da banda Elastica, para fazer o projeto gráfico e fotos no segundo álbum da banda, "The Menace", de 2000. Assim, viu-se no meio do mundo pop inglês. Frischmann tinha visto um livreto com desenhos da M.I.A., que ela tinha publicado por conta própria.
Na turnê, trabalhando como documentarista do Elastica no final dos anos 90, M.I.A. conheceu também a canadense
Peaches , que abria os shows dos ingleses. Diz a lenda que, além de ter ensinado MIA a utilizar o seqüenciador Roland 505, Peaches foi uma revelação e forte inspiração. "Faça você mesmo, ao estilo bem punk", foi a mensagem de Peaches. E isso o álbum tem bastante. Ouça "Hombre" em
alta ou em
baixa velocidade. É a música com a letra mais sexualmente explícita do álbum que, em geral, são bastante difíceis de decifrar.
Todas as letras são de autoria própria e, como num bom funk carioca, são das mais absurdas: M.I.A. mistura temas de opressão, assassinatos, prostituição e terrorismo com frases e descrições das mais mundanas, como baixar ringtones no seu celular e pegar ônibus, em refrões grudentos nos quais avisa que vai jogar a bomba logo mais. São todas acompanhadas de batidas irresistíveis. O vocal é histérico em algumas faixas e mântrico em outras.
Uma das faixas mais mântricas, e uma das melhores do álbum, "Galang" é também o primeiro sucesso para além do gueto dançante. Além de render ótimas resenhas em revistas de moda como "Harpers and Queen" da Inglaterra, e as especializadas em música como "NME" e a conservadora "The New Yorker". O single foi lançado em setembro do ano passado e agitou bastante os Soulseeks da vida. Ela traz o seguinte refrão: "Blaze a blaze / Galang a lang a lang lang / Purple Haze / Galang a lang a lang lang". É sensacional. Ouça aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
Apesar de todas as referências conhecidas, "Aurular" é totalmente diferente de algo que você já ouviu. E, com a sua história nada inventada e atitude punk, M.I.A. é a menina do momento do pop inglês, e talvez mundial.
Vale conhecer o seu
site oficial. O design é dela e ficam claras as referências do mundo das guerrilhas.
No site da gravadora
XL Recordings há também informações atualizadas sobre as andanças da M.I.A. M.I.A.