Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Fã de música brasileira, a diva do etno pop
Natacha Atlas está de férias num sítio em Embu das Artes, perto de São Paulo.
Com quatro discos-solo, lançados a partir de 1995, Atlas apareceu no cenário pop no início dos anos 90 como solista do Transglobal Underground, grupo inglês pioneiro em fundir música árabe e eletrônica. Com mais de 10 anos de carreira, Atlas pode ganhar uma nova fatia de público brasileiro a partir desta terça, quando deve ir ao ar um capítulo da novela "O Clone" em que a cantora
interpreta a si mesma, em cena de um casamento.
Treinada em canto clássico e dança do ventre (raq sharki), Atlas canta a maior parte do seu repertório em árabe, a língua preferida da poliglota que tem também uma extensa pesquisa em música indiana e latina, além da eletrônica em geral.
Dona de uma voz poderosa e sedutora, ela cria um sinuoso e hipnótico canto, quase sempre em árabe. Por vezes, seu canto é puramente ornamental. Desde lamentos com batidas trip hop no fundo, incursões em puro house até o nervoso e quebrado drum and bass, Atlas prima pelos arranjos luxuosos, pela mistura de música árabe tradicional acústica com o pop eletrônico atual e sempre com a sua voz inconfundível.
Do sitio do tio brasileiro, Natacha Atlas falou com exclusividade para O Pulso sobre o seu mais recente disco "Ayeshteni" (Mantra/Sum) disponível no Brasil e sobre as gravações do
quinto disco solo, que devem começar em abril, em Londres.
Leia a seguir trechos da entrevista:
Você canta só uma música em inglês no álbum "Ayeshteni"?Cantei também uma música em inglês no meu álbum anterior, "Gedida", embora esta seja mais óbvia por ser um cover ("I put e spell on you" de Scremain' Jay Hawkins)
Por que você não canta em inglês?Não sei, não estou acostumada a cantar em inglês. Sai um som diferente.
Você acha que o fato de cantar em árabe dificulta sua entrada em um mercado maior, para o mundo pop?Sim. Mas contorno isso através das sonoridades, da música. Agora vou fazer algo que soa mais europeu, mais moderno. Andy Gray (produtor do novo disco) me ajudará nisso. Meu novo disco terá talvez algumas linhas a mais em inglês, mas não é uma língua em que me sinta confortável em cantar. Tem algo na entonação que não soa árabe.
Como aconteceu o convite para participar na novela?O convite veio através da coreógrafa e produtora musical da novela, a Claudia Ceni, que por acaso é amiga do meu tio. Ela já conhecia a minha música e quando descobriu que eu estava no Brasil, convenceu o diretor da novela a me chamar.
Então, você interpretará você mesma?Sim, sou eu mesma. Fazendo o que faço: música e dança árabe. Já gravei umas cenas que devem ir ao ar na segunda ou terça-feira, em que estou cantando em um casamento. Tem também uma outra cena de um clube noturno egípcio em que vou aparecer.
Você mostra músicas de "Ayeshteni" na novela?Sim. Faço algumas faixas deste, algumas faixas de "Gedida", uma faixa do meu primeiro álbum solo - "Diaspora"- e também três faixas de um álbum novo,
"Foretold - In the Language of Dreams" que deve sair em julho na Europa. Ainda não sei quando sairá no Brasil. "Foretold" é um disco ambient, meio esotérico, muito bom para meditar, e em geral, ouvir e relaxar. Não tem muitas batidas. É um pouco new age talvez, mas de uma forma mais psicodélica do que no sentido tradicional.
Qual a principal diferença entre "Ayeshteni" e os seus álbuns anteriores e o que significa o título?Significa "você me fez viver" ou "você me deu a vida", em árabe. "Ayeshteni" é bem tradicional. Talvez seja o mais tradicional de todos os que já fiz. Demos um tratamento contemporânea, mas não é tão atual como os meus álbuns anteriores, considerando o que está acontecendo hoje em hip hop e drum and bass.
O CD fui composto, arranjado e gravado no Cairo, no Egito e ficou com um clima de
shaabi muito forte. Acho que o pop árabe é um tanto tedioso e comportado na sua sonoridade e tentamos fazer algo mais contemporâneo, com mais substância nos graves, bem mais baixo e mais ritmo. O álbum é bem menos comportado do que o shaabi.
Os álbuns que você fez com o Transglobal Underground têm baixo e bateria bem pesados. Por quê?Dub e baixo pesado me atraem muito. Acho que as mulheres respondem ao baixo dançando. Você sente no quadril. Não sei direito o que é, mas sou muito atraída pelo dub, sempre fui.
O álbum que você começa a gravar agora vai ser algo como Natacha Atlas em dub?Não exatamente, mas terá algumas faixas na linha Massive Attack. A maior parte será gravada em Londres e vou trabalhar com DJs e produtores de dance da Europa e da Inglaterra em particular. Terá uma sonoridade mais contemporânea.
Quem serão os produtores?Andy Gray é um deles. Ele tem produzido muita coisa com
Paul Oakenfold, o DJ, você o conhece? Talvez eu faça uma faixa em colaboração com a Sinead O' Connor. Vou fazer uma música com um cara chamada Mike Nielsen, que trabalha no estúdio The Strongroom in London. Ele remixa caras como
Craig David e este tipo de música. Você conhece o
DJ Mr Scruff? Ele também colaborará no meu novo álbum.
Você trabalha com o anglo-indiano Nitin Sawhney no "Ayestheni" na faixa "Manbai". De onde vem esta ligação?Bom, conheço o Nitin Sawhney há mais de dez anos e fiz uma música no seu primeiro disco, "Migration". Vou também fazer uma faixa com ele no meu novo álbum.
Qual a sua conexão com a música indiana?Na Inglaterra tem um monte de música indiana, ou anglo-indiana, por todos os lados, e acho que sinto uma conexão com os músicos indianos. Temos uma base em comum, que facilita. Nunca tive nenhum problema em trabalhar com músicos indianos.
Você conhece algo da música brasileira?Sim, claro, gosto de Caetano Veloso e gosto muito de bossa nova e os primeiros trabalhos de Jorge Ben dos anos 60. E também o bossa nova do final dos anos 60, início dos anos 70. Atualmente tem uma música que gosto muito, de Bebel Gilberto, "Tanto tempo". Gosto muito deste tipo de música. Nitin Sawhney fez algo assim no seu álbum "Phropesy" em que Cheb Mami, um cantor árabe, cantou em cima de um samba, gravado por um orquestra brasileira aqui no Brasil. Virou um cruzamento de música árabe com a brasileira que gostei muito. Funcionou muito bem.
E quando você vai vir para se apresentar no Brasil?Ainda este ano, espero. Tenho agora um
agente que está tentando planejar shows para este ano, mas não sei quando. Estamos tentando aproveitar o máximo a participação da novela para divulgar meu trabalho
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Ayeshteni