Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Você se lembra da irreverência, do hedonismo e do bom e experimental pop com os batuques de protegidos de Malcolm McLaren, como Adam Ant e Bow Wow Wow, no início dos anos 80? Lembra daquela massa sonora em que predominavam batidas e as letras tratavam das mais variadas facetas da vida sexual, com refrões repetidos infinitamente? Agora adicione a estranheza e o vanguardismo de um Cabaret Voltaire, um pouco de Depeche Mode, atualize as batidas e a produção para chegar ao espírito electro pop do recente álbum "Dirty Dancing" (!K7 2002), do duo Londrino
Swayzak .
"Dirty Dancing" traz dez faixas com batidas cortantes, efeitos sombrios com crescendos e vocoders, produção ultra limpa e som cristalino - a marca registrada da dupla.
O álbum resume bem a idéia de que dá pra fazer boa música pop sem ser popular e que dá pra trabalhar dentro de um formato de cultura de massa sem necessariamente chegar às massas. "Dirty Dancing" é impecavelmente bem produzido. É apelativo, descarado e divertido. Até agora, o duo mantinha um nome de respeito na cena underground de música eletrônica, mesmo que nenhum deles seja DJ muito atuante, um requisito para reconhecimento neste mundo. Isto pode mudar com o atrevido "Dirty Dancing". Há vários sucessos em potencial. Veja só:
O que era "I Want Candy" na gororoba pós-punk de Bow Wow Wow, virou a cirúrgica "I Dance Alone" de Swayzak, pós-revolução sexual. A frenética faixa "I Dance Alone" tem borbulhantes sintetizadores e o seco "tss-que-tss-que-tss" (chimbal) do house, com uma voz meio Johnny Lydon (ex-Rotten) que grita frases sobre o "porque não quero a sua companhia nunca mais". Os vocais são da dupla
Adult. (assim mesmo, com ponto no final) de Detroit, trazendo algo cru e histérico, além da credibilidade para os fãs de electro. O toque punk fica por conta das letras niilistas.
A faixa "The Punk Era" é pesada e rascante, na medida em que um sintetizador Roland 303 pode arranhar, numa massa sonora que se arrasta pela pista. O mesmo efeito está presente em "Buffalo Seven", atualizando a referência aos sete lendários bandidos também homenageados na música "The Magnificent Seven", do The Clash de 1980. Ambas bem grudentas e boas para pista.
A letra da faixa "In The Car Crash" é inspirada no livro "Crash" de J.G. Ballard. É dramático e perverso, tratando o acidente como uma escapatória de energia sexual. Dá pra ouvir o som de metais se deformando, se cortando e desdobrando no impacto da batida.
Outra pérola é a faixa "Make Up Your Mind", que traz um atmosférico deep house com o vocal de Clair Dietrich, cobrando do seu amor uma definição: se ela (a outra) não significa nada pra ele, porque então tem que sair com ela? É clichê, sim, mas Clair canta com tanta convicção que o refrão faz sentido.
A dupla Swayzak é formada por James Taylor e David Brown, desde 1994. Lançaram vários singles, a maioria no estilo deep house. O primeiro álbum, o minimalista "Snowboarding in Argentina", é de 1998 e apareceu em várias listas de "Melhores do Ano" na imprensa especializada em música eletrônica. O álbum traz faixas previamente só disponíveis em vinil. O seu segundo álbum, "Himawari", é mais vago no sentido em que não há melodias e estruturas facilmente reconhecíveis. É ambient techno, mas com algumas notáveis colaborações vocais, com destaque para Kirsty Hawkshaw, que colabora com outros produtores como Paul Van Dyk e
Ian Pooley.
Neste seu
terceiro álbum, "Dirty Dancing" é diferente das vagantes e cinematográficas produções anteriores. Agora, Swayzak assumiu o seu lado mais pop apelativo, com músicas memoráveis. Nos anos 80, a new wave e os punks estavam se jogando nas pistas de dança. Hoje, a nova onda foi rebatizada de electro e o que restou dos punks, de seu espírito de não- conformismo, é a intenção de fazer algo vital e irreverente. Com "Dirty Dancing", Swayzak o fez.
» Visite o
site ingles de Swayzak - não atualizado, mas com muita informação.
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site americano de Swayzak - é literalmente uma página.