Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Em seu quarto álbum,
"Lovebox"(Jive/Globo, 2003), a dupla inglesa
Groove Armada faz concessões para o público norte americano - um público mais acostumado com rap e rock - para estourar o seu som bem inglês no lado de cá do Atlântico. Até agora, o som trazia mais elementos ragga e dub. Mas mesmo mais roqueira, a dupla continua firme e forte no seu bom pop, com peso na cozinha.
Depois de ter conquistado a Europa com o excelente
"Goodbye Country (Hello Nightclub)" de 2001, agora o Groove Armada quer que os EUA balancem ao som de "Lovebox". Afinal, mesmo com a queda nas vendas dos últimos anos, os EUA continuam o maior e mais lucrativo mercado fonográfico do mundo.
"Lovebox" soa como se fosse a parte dois do álbum de 2001. Continuam no novo álbum um bom naipe de ilustres convidados e a preocupação com uma boa melodia. Há mais guitarras, mais "sujeira" sonora do que nas produções anteriores, mas ainda é música para a pista. A vertente funk-ragga-folk de ontem vira funk-rap-rock de hoje, mas a impecável produção de sempre está intacta.
Logo de cara, o ouvinte recebe um ataque sonoro com a pesada "Purple Haze" (uma homenagem a Jimi Hendrix?), bem funkeada, com guitarras rascantes e a participação do rapper quase humorista, o jamaicano
Red Rat. Há outra colaboração bem esperta nesta faixa, a do grupo de norte-americanos que coletivamente se chamam de
Nappy Roots. A faixa é um arrasa quarteirão. A escolha de Nappy Roots é boa, o resultado sonoro é feliz, e os Nappies estão dominando os EUA atualmente com o seu rap de raiz do sul. Dá-lhe FM. Ouça "Purple Haze" aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
Há muito material para as rádios, no bom sentido. Há faixas com uma boa melodia, um bom arranjo e um bom refrão. Como no álbum anterior, Richie Havens dá uma palha e é responsável pelo vocal em uma das faixas mais amigáveis para este tipo de execução. "Hands of Time" é como "Little by Little" do álbum anterior, um belo híbrido de canção folk com guitarra acústica, batida hip hop e refrão grude.
Também candidato à FM e com uma forte referência do universo folk é a faixa "Remember", que traz um dos poucos samples do álbum, a belíssima voz da cantora inglesa
Sandy Denny. É uma épica balada com "backing vocal" da London Community Gospel Choir, contrastando com a voz de Sandy Denny, efeitos eletrônicos e uma lânguida batida. Ouça "Remember" aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
Se o hip hop soul produziu alguma diva, esta seria Neneh Cherry, que participa nas faixas "Groove is On" com o rapper Kriminul (colaborou também no álbum anterior) e "Think Twice" (uma música dela e do seu ex-marido Cameron Mcvey), em que ela soa como ela mesma. Este último é um belo blues com batida hip hop, parecendo algo que ela e o ex teriam feito para o seu álbum "Homebrew" de 1992. Não é novo, não é inusitado, mas é muito bom. A música "Groove Is On" traz uma letra nonsense e foca, mais uma vez, causar efeito na pista, com a sua batida big beat na linha Fatboy Slim. Ouça "Groove Is On" aqui em
alta ou em
baixa velocidade.
Mas mesmo as faixas mais house no sentido tradicional do gênero, como por exemplo a suingada "Easy" com vocal de Sunshine Anderson, ganham surras rítmicas de guitarra estilo metal. A norte-americana Anderson tem um pouco das vocalizes de grandes divas soul como Eykah Badu e Macy Gray. Esta última, não por acaso, é a sua empresária atual.
As faixas "Final Shakedown" e "Lovebox" também deixam claro o passado da dupla que, além de tocar em bandas funk, cresceu quando o house reinava nas pistas e o som de Manchester estava em voga. Os dois garotos Tom Findlay e Andy Cato tocam todos os instrumentos, compõem as músicas, operam a mesa de mixagem, produzem e ocasionalmente cantam em "Lovebox". Se você gostou de "Goodbye" Country (Hello Nightclub), dê uma ouvida no novo álbum. É igualmente bom.
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"Goodbye Country (Hello Nightclub)" na Rádio UOL
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"Vertigo" na Rádio UOL
>> Leia
entrevista com Groove Armada, antecipando a sua visita ao Brasil em 2002.
>> Conheça o site oficial de
Groove Armada