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27/10/2007 - 05h13
Eldar compensa o atraso de 45 minutos com suingue rejuvenescido

VINICIUS MESQUITA
Editor-assistente da Home Page do UOL


Alexandre Schneider/UOL

Apresentação do pianista Eldar em São Paulo (26/10/07)

Apresentação do pianista Eldar em São Paulo (26/10/07)


O pianista Eldar pagou um preço alto na abertura jazzística do Tim Festival, realizada no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, na noite de sexta-feira. Após 45 minutos de atraso, o garoto de 20 anos foi obrigado a tranqüilizar um público diminuto, mas ansioso e pouco entrosado com as novidades do chamado jazz europeu.

Sim, Eldar pode ter nascido no Quirguistão, mas vive nos Estados Unidos há quase 10 anos e fala tão bem inglês quanto qualquer um que tenha nascido em Kansas City, cidade escolhida pelos pais do garoto quando resolveram deixar o país de origem. Sua influência pela música russa, por exemplo, está reservada somente aos momentos de lazer, quando sobra tempo para apreciar o trabalho do jovem erudito Evgeny Kissin, 31 anos, pianista mais preocupado com as partituras de Mozart e Chopin do que propriamente com os improvisos do jazz.

Eldar, muito mais adaptado aos sons da América, seguiu o gosto do pai, homem que trabalhou pela antiga União Soviética durante os anos 80, mas sempre teve um vinil de Bill Evans ou Herbie Hancock guardado na valise para ensinar seu filho sobre do que se tratava o tal do jazz.

O pianista aprendeu a admirar logo cedo o suingue e os floreios delicados e virtuosos de Oscar Peterson e, não por acidente, abriu o show de seu trio (piano-baixo-bateria) com 'Place St. Henri', composição do próprio Peterson e peça fundamental do último CD, 'Re-Imagination', lançado este ano.

Na seqüência, Eldar mostrou a composição carro-chefe deste novo álbum, "I Remember When", que traz marcas da técnica de Erroll Garner, mas está muito mais baseada no rock folclórico de Bruce Hornsby, pianista que ficou famoso nos anos 80 por adequar improvisos quebrados em fórmulas quadradas do r&b.

Equipado com um piano elétrico ao seu lado, Eldar fazia questão de mostrar que não tinha perdido o contato com a turma de sua própria geração e, durante um ou outro compasso, transportava a mão esquerda ao Fender Rhodes para dar novos timbres a músicas como 'Daily Living' (composição própria) e o clássico mexicano dos anos 40 "Besame Mucho', ambas gravadas também em disco ao vivo no Blue Note de Nova York, em 2006.

No final, o público ensaiou um bis, entusiasmado pelo surpreendente show do pianista. Porém, mais do que depressa, Eldar escapou do palco para não atrasar ainda mais a programação do dia.

As atrações para sexta-feira deveriam ter começado às 20h30, mas Eldar subiu ao palco somente depois das 21h15. O atraso ocorreu principalmente porque boa parte das atrações veio de Paris e sofreu com a greve dos funcionários da companhia aérea Air France. O guitarrista francês Sylvain Luc, por exemplo, disse que levou 28 horas de sua casa para o hotel, em São Paulo.