Topo

"Foi bobeira nossa", diz baixista do James sobre 30 anos que levou para vir ao Brasil

Tim Booth durante show do James no primeiro dia do festival Coachella, em Índio, na Califórnia (13/04/2012) - Getty Images
Tim Booth durante show do James no primeiro dia do festival Coachella, em Índio, na Califórnia (13/04/2012) Imagem: Getty Images

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

30/04/2012 13h21

"Não sei porque demoramos tanto para tocar no Brasil, foi uma bobeira nossa". As palavras de Jim Glennie, baixista da banda James, demonstram mais do que a vontade de estar à frente de uma plateia brasileira. O músico lamenta uma série de atitudes que o grupo tomou ao longo de seus 30 anos de estrada. "O egoísmo e o desgaste entre nós impediram que aproveitássemos o carinho dos fãs que nos pediam para tocar no Brasil", ele contou por telefone ao UOL.
 
O tempo perdido será revertido nesta segunda-feira (30), quando o James fará um único show em São Paulo, no Cine Joia, a partir das 23h. Sobreviventes de um transatlântico pop britânico que navegou com bandas pós-punk importantes dos anos 1980, como The Cure e Echo and the Bunnymen, estes ingleses de Manchester venderam 25 milhões de discos nos anos 1990 mas, aos poucos, foram sumindo do mapa.
 
O James entrou em hiato entre 2001 e 2007, tempo suficiente para que os integrantes sentissem as mudanças --muito mais pessoais do que musicais. "Somos pessoas melhores agora. Deixamos para trás muitos problemas que nos impediam de aproveitar o James e curtir a posição extremamente privilegiada em que estamos", avalia Jim. 
 
Para ele, aprender a curtir a banda foi uma lição muito importante. "Somos sortudos por fazer o que fazemos, e por tanto tempo. Foi uma besteira deixar as relações interferirem nisso. Às vezes você só precisa de um tempo das coisas que você gosta para poder apreciá-las de verdade. Você não dá valor a uma coisa, até que ela é tirada de você", teoriza.
 
A formação que vem ao Brasil não é a original, aquela com quatro integrantes do começo da década de 1980, mas são as mesmas pessoas que gravaram os discos "Gold Mother" (1990) e "Seven" (1992). Além de Jim, estarão no palco o peculiar vocalista Tim Booth (que foi expulso da banda no início dos anos 2000, mas reconciliou-se anos depois), o guitarrista e violinista Saul Davies, o tecladista Mark Hunter, o baterista David Baynton-Power e, de volta à banda, o guitarrista Larry Gott e o trompetista Andy Diagram. "É a nossa formação mais forte", considera Jim. 
 
No Brasil, o disco mais conhecido do James é provavelmente "Laid", lançado em 1993 com produção de Brian Eno e que impulsionou a faixa-título como um dos maiores hits da banda. Mas nem por isso ela deve entrar no repertório do show de hoje. "Temos uma lista de 50 músicas que escolhemos para tocar em cada show. Então não tocamos sempre o que todo mundo quer ouvir o tempo todo, não é hit atrás de hit, nós misturamos", adianta o baixista.
 
Por isso o show de São Paulo terá muitas canções grandes, revela Jim, mas também faixas dos primeiros álbuns. "Não gostamos de ter obrigação de tocar uma música", ele diz, mas sem negar que os fãs possam esperar por "Sit Down", "Say Something", "Out to Get You", "P.S." e "Five-O".
 

Futuro do James
Há 30 anos na estrada e com os integrantes na casa dos 50, Jim conta que a vida rock and roll foi ficando para trás com o tempo. "A atmosfera da turnê é muito diferente agora. A maioria de nós tem famílias e crianças pequenas, então não é aquela coisa de ficar acordado até tarde bebendo. É mais cuidar de nós mesmos, manter nossa sanidade e tentar ser feliz e aproveitar".
 
Em 2010 a banda lançou dois mini-álbuns, intitulados "The Night Before" e "The Morning After". Agora, o James trabalha no box "The Gathering Sound", previsto para sair no dia 6 de julho. "Temos muitos problemas com esse box [risos]. Basicamente está num pen drive, com todos os álbuns. Gastamos muito tempo tentando resolver como isso será lançado ou quando, é um pesadelo", conta Jim. 
 
Para ele, o box não deve atrair novos fãs porque "custa muito dinheiro". "O lado bom é que tudo vai estar num pen drive, então será bem fácil fazer cópias, como eu sei que as pessoas fazem, e muito desse material será compartilhado. Esta é uma das maneiras boas que a indústria mudou. Sim, as vendas de CDs caíram, o que não é bom, mas a propagação da música ficou muito mais fácil. As pessoas se conectam com o público de uma maneira muito mais direta", ele diz.
 
No segundo semestre, o James começa a compor um novo álbum. "Não queremos ser apenas uma banda que toca os grandes hits e as músicas antigas que todo mundo sabe. É muito importante para nós que o novo material entre no repertório. Espero que, dedos cruzados, o novo disco saia no ano que vem. Mas como o álbum será, como vai soar, e como iremos distribui-los para o mundo... essa é uma questão que ainda temos que pensar".
 
JAMES EM SÃO PAULO
 
Quando: hoje, dia 30/04; abertura da casa às 22h; show às 23h30
Onde: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade)
Quanto: R$ 120 (inteira)
Ingressos: bilheteria do Cine Joia
Informações: 0/xx/11/3231-3705