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"MCA foi um dos maiores super-heróis da história do hip-hop", diz Rodrigo Brandão

Adam Yauch (centro), do Beastie Boys, morto na última sexta (4) - AP Photo/The Canadian Press, Aaron Harris
Adam Yauch (centro), do Beastie Boys, morto na última sexta (4) Imagem: AP Photo/The Canadian Press, Aaron Harris

Rodrigo Brandão

Especial para o UOL*

05/05/2012 09h13

Essa sexta-feira (4) levou embora um dos maiores super-heróis da história do hip hop, e da música pop das últimas décadas em geral: Adam Yauch, conhecido como MCA, o integrante budista dos Beastie Boys.

De cara assumo que sou fã incondicional do grupo: Beastie Boys é meu Corinthians! Não defendo que seja a melhor banda do mundo, mas é a mais importante da minha vida. E sei que também falo por mais um monte de gente planeta afora.

Poucos artistas podem se orgulhar de uma carreira tão longeva sem nenhum disco ruim, nenhuma tentativa de seguir tendência ou tornar seu som mais comercial. Adam, o xará Horovitz (King Ad Rock) e Michael Diamond (Mike D.) estão entre esse seleto grupo.

Iconoclastas, revolucionários, mestres do estilo são todos adjetivos que se encaixam sem exageros se o assunto é o trio que inspirou sua alcunha nas iniciais BB dos Bad Brains, uma das maiores influências desde suas origens hardcore punk. Não `a toa, Yauch produziu em 2007, o disco mais recente da banda, Built A Nation.

De cara assumo que sou fã incondicional do grupo: Beastie Boys é meu Corinthians!

Me lembro até hoje a primeira vez que ouvi falar dos B-Boys. Era uma tarde de 1987, e o locutor da 89FM (a “Rádio Rock” era o slogan)  anunciava, durante o horário de lançamentos e novidades, que a próxima música era “uma mistura de hip-hop e heavy metal”. Fiquei curioso, nem conseguia imaginar como seria o tal som. No instante que o primeiro refrão de Girls, do “disco do avião” bateu no ouvido, eu já tava fisgado, pulando na sala.

Paul’s Boutique, apesar de genial, passou meio batido a princípio, mas quando Check Your Head foi lançado em plena era grunge, o bicho pegou.

O disco é talvez o auge criativo do trio e, de cara, chapou toda a molecada skatista, alternativa e a galera mais cabeça aberta do rap. Entre samples de Jimi Hendrix, beats arrasa-quarteirão, e instrumentais psicodélicas de sabor jazzístico, a turma do Adam Yauch botou a cereja no bolo ao incluir uma versão punk-rock de Time For Livin’ (Sly & The Family Stone). Foi a mais improvável auto-reinvenção que eu já tinha acompanhado.

A fórmula escolhida por eles, de seguir rimando sob as bases do dj, mas pegar os instrumentos pra tocar as vinhetas lisérgicas e retomar o hardcore dos primórdios se provou tão inédita e radical quanto bem-sucedida. Ninguém antes se lançou como grupo de rap E banda de rock ao mesmo tempo. Nesse momento da carreira, MCA revelou forte musicalidade ao se mostrar íntimo do baixo acústico, um instrumento considerado complexo pra maioria dos músicos de formação punk.

Foi aí que, na hora de escolher desde discos de vinil até roupas e tênis, eu e quase todos meus amigos, assim como uma legião internacional, começou a ter os Beastie Boys como referência.

Seja remix, a revista Grand Royal, cd de banda do selo de mesmo nome, camiseta da street wear X-Large, festival Tibetan Freedom... qualquer coisa relacionada com eles passou a despertar interesse.

No instante que o primeiro refrão de Girls, do "disco do avião" bateu no ouvido, eu já tava fisgado, pulando na sala.

Aí, quando Sabotage estourou, com o já clássico vídeo que revelou o cineasta Spike Jonze, puxando o álbum Ill Communication, tava tudo dominado.

Durante essa turnê, em 1995, eles vieram pra cá, tocaram duas noites na Lapa e deram entrevista pro Fabio Massari, que foi poupado do humor ácido que o grupo cultivou perante a imprensa graças a uma camiseta do Blues Explosion, power trio de amigos dos Beasties. Foi nesse dia que me encontrei com Yauch pela primeira de três vezes.

Onze anos depois, quando voltaram ao país, rolou até uma foto com a banca completa e meus amigos da Nação Zumbi, que abriu o show deles na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba. Era o aniversário de 40 anos do Ad Rock, os três e o dj Mix Master Mike tavam na estica, de terno e gravata, e por conta da conexão mútua com o produtor Mario Caldato, sinkou um momento alto astral.

Antes de encerrar, é importante citar uma outra faceta menos divulgada do vulgo MCA: diretor de clipes. Como a maioria dos trabalhos vinha assinada por um certo Nathanial Hörnblowér, inclusive o dvd Awesome, I Fuckin’ Shot That!, pouca gente sabe que vários videos da banda são obra dele.


Rodrigo Brandão é MC do grupo Mamelo Sound System, ex-VJ apresentador do Yo! MTV Raps e idealizador do Festival Indie Hip Hop que teve 10 edições e foi extinto em 2010.