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"Vou ficar um tempo sem dormir", diz Wagner Moura depois de tributo à Legião Urbana

Wagner Moura canta sucessos da Legião Urbana em tributo para sete mil pessoas no Espaço das Américas, em São Paulo (29/5/2012) - Fernando Donasci/UOL
Wagner Moura canta sucessos da Legião Urbana em tributo para sete mil pessoas no Espaço das Américas, em São Paulo (29/5/2012) Imagem: Fernando Donasci/UOL

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

29/05/2012 22h21Atualizada em 30/05/2012 02h54

O tributo era à Legião Urbana, mas a noite acabou sendo de Wagner Moura. Convidado para se juntar ao guitarrista Dado Villa-Lobos e ao baterista Marcelo Bonfá e fazer os vocais do show em homenagem aos 30 anos da banda brasiliense, o baiano Wagner não sucumbiu à responsabilidade de assumir o lugar de Renato Russo, morto em 1996.

“Eu vou ficar um tempo sem dormir. Tem o Andy Gill no palco, tem Bonfá e Dado. São os meus heróis, os meus ídolos”, disse o ator logo depois do show, ao ouvir os elogios dos ex-integrantes da Legião – “Ele trouxe uma areia nova para o nosso caminhãozinho. Não é qualquer um que segura a peteca”, disse Bonfá; “Ele é um cara que tem uma coragem muito grande e não tem medo de arriscar no que acredita. Estar nesse palco hoje cantando o nosso repertório da forma que ele fez é algo que o cara tem que ser muito macho para fazer”, completou Dado.

Wagner abriu e fechou a apresentação desta terça-feira (29), no Espaço das Américas, em São Paulo, com duas músicas com as quais já estava familiarizado: o show começou às 22h com “Tempo Perdido”, canção do álbum “Dois” (1986), que o ator cantou com Alinne Moraes no filme “O Homem do Futuro” (2011); e foi encerrado pouco mais de duas horas mais tarde com “Será”, que Wagner interpretou em “Vips” (2011) – a 26ª canção da noite, uma a mais do que o previsto.

Visivelmente nervoso no início, já ao fim da terceira música o ator demonstrava estar bastante à vontade, colocando emoção na interpretação, dançando, pulando e até se jogando no chão. "Essa é, talvez, a noite mais emocionante da minha vida", disse antes de convidar Fernando Catatau, guitarrista da banda Cidadão Instigado, para tocar "Andrea Doria".

A participação de Catatau não foi a única do show. Clayton Martins, companheiro de banda do guitarrista, foi convidado a subir ao palco para tocar gaita em “Geração Coca-Cola”, cantada por Dado durante uma pausa de Wagner.

Na sequência, juntaram-se à banda os dois principais convidados da noite: o guitarrista Andy Gill, da banda inglesa Gang of Four, e Bi Ribeiro, baixista do Paralamas do Sucesso. O que provavelmente foi um dos momentos mais emocionantes para os músicos acabou sendo a parte mais morna do show para o público, que não se empolgou com “Damage Goods”, do grupo inglês. Mas a volta de Wagner na música seguinte --“Ainda É Cedo” misturada ao refrão de “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division--, ainda com a participação dos convidados, voltou a animar os fãs.

Wagner não se deixou abalar nem pelos problemas com o microfone, que chegou a falhar neste momento do show, e com o retorno, que o ator retirou dos ouvidos em diversos momentos. A plateia, que cantava tão alto que chegava a abafar a voz do vocalista, não pareceu se incomodar, e sua empolgação ajudou até a fazer com que alguns deslizes de Wagner, mais perceptíveis na transmissão pela TV, passassem despercebidos ao vivo. Em alguns momentos, chegou-se a ouvir gritos de “Capitão! Capitão!”, em referência ao personagem de Wagner em “Tropa de Elite”.

Quando a banda deixou o palco, depois de uma versão que misturava "Perfeição" a "Lithium", do Nirvana, o público não esfriou e começou a cantar “Será” a plenos pulmões para o palco vazio. Wagner, Dado e Bonfá retornaram logo em seguida para apresentar "Teorema", "Antes das Seis", "Giz" e "Pais e Filhos" (misturada com "Stand By Me", de John Lennon), e já se retiravam do palco quando o ator chamou todos de volta para tocar "Será", levando os fãs ao delírio.

Reações
A banda de Wagner, Bonfá e Dado se apresentou para um público de cerca de sete mil pessoas, formado especialmente por fãs na faixa dos 30 aos 40 e poucos anos, que se mostraram bastante emocionados durante quase todo o show, e muito dispostos a perdoar qualquer falha. Apesar de se ouvir aqui e ali gritos de “Renato!”, o que mais se escutava eram comentários de aprovação ao desempenho de Wagner.

“Eu achei que ele foi meio fã, meio intérprete, que ele estava com muito tesão no palco e contagiou todo mundo”, disse a jornalista Neila Mara Lopes, 34 anos, que chegou a ver a Legião Urbana se apresentar nos anos 1990.

O repórter do “CQC” Rafael Cortez, que foi ao show para ver Wagner, lembrou que muita gente criticou o ator nas redes sociais e disse que quem estava no show pôde ver que “ele foi incrível”.

Depois do show
Em conversa rápida com jornalistas após a apresentação, o guitarrista Dado Villa-Lobos disse que o show “foi contagiante”. “A gente voltou a ter esse momento, essa sensação que a gente tinha alguns anos atrás. Foi muito intenso, porque muita história passou aí por esse palco, por esses trinta anos, e a gente estar revivendo isso dessa forma, como a gente fez hoje, foi muito incrível”.

Wagner Moura também voltou a repetir que foi o dia mais emocionante de sua vida, mesmo com os problemas. “A melhor hora foi quando eu joguei aquele negócio [o retorno] fora do ouvido, que aí você pode trocar com esse público que os caras têm. E esse amor todo que essa banda suscita na gente, fã… Para a minha geração e na minha vida é uma coisa muito importante. Antes de a gente entrar, eu falei para Dado: ‘Dado, aconteça o que acontecer, já valeu a pena pra caralho pra mim’. Eu acho que é por isso que eu sou artista, para procurar essas coisas que me levem a um lugar que não é o evidente, que me modifiquem, que me movam, que me emocionem”, disse.

O ator também afirmou que sentiu a responsabilidade de tocar para um público tão devoto, mas que o mais forte foi “o prazer e o tesão” de estar ali como fã. Ele prometeu que o show desta quarta (30) será melhor: “Eu acho que a gente vai se entender melhor, eu particularmente, com a coisa técnica, de se ouvir no palco, que é nova para mim”.

Confira o setlist do show:

“Tempo Perdido”
“Fábrica”
“Daniel na Cova dos Leões”
“Andrea Doria”   
“Quase Sem Querer”
“Eu Sei”
“Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto”
“A Via Láctea”
“Esperando Por Mim”
“Índios”
“Monte Castelo”
“Teatro dos Vampiros”, cantada pelo baterista Marcelo Bonfá
“Geração Coca-Cola”
“Damage Goods”, do Gang Of Four
“Ainda é Cedo” + “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Divison
“Baader Meinhof Blues”
“Sereníssima”
“Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar”
“Há Tempos”
“1965 (Duas Tribos)” 
"Perfeição" + "Lithium", do Nirvana

Bis
"Teorema" 
"Antes das Seis"
"Giz"
"Pais e Filhos" + "Stand By Me", de John Lennon
"Será"


Tributo à Legião Urbana
Onde: Espaço das Américas, em São Paulo (Rua Tagipurú, 795 - Barra Funda - São Paulo)
Quando: 29 de maio (esgotado) e 30 de maio, às 21h15
Quanto: R$ 200 e R$ 100 (meia)