Herança de Woodstock está no circuito de festivais de hoje

JAKE COYLE

Em Nova York

A cultura de grandes festivais de hoje deve muito a Woodstock --lições tiradas do incrível sucesso e dos pesadelos da logística.

"Permanece na memória de todo mundo como o original", disse Michele Scoleri, diretora artística do Bumbershoot, festival anual realizado em Seattle.

Fãs de grandes festivais de rock se preparam todo verão para terem apenas uma fração do impacto de Woodstock. Os festival de hoje são mais organizados, eficientes e não precisam avisar o público para evitar o ácido marrom.

Os promotores de Woodstock --Michael Lang, Joel Rosenman, John Roberts e Artie Kornfeld-- acharam que seus esforços de último minuto seriam suficientes para produzir o que hoje levaria um ano para preparar. O festival --que levou mais de 400 mil pessoas a Bethel, Nova York, entre 15 e 18 de agosto de 1969-- saiu do papel, apesar dos diversos problemas (trânsito, chuva, falta de comida de água) apenas aumentarem o mito do evento.

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Em sua recente biografia "The Road to Woodstock", Lang escreveu: "Desde o início, acreditei que se fizéssemos nosso trabalho direito e com paixão, as pessoas se revelariam e criariam algo sensacional."

Woodstock foi muitas coisas --um curto e inocente momento de paz e música-- mas também abriu caminho para um circuito de festivais que explodiu nos últimos anos.

"Muitos deles se baseiam em Woodstock --Bonnaroo e Coachella especialmente", disse Lang em uma entrevista. "Criamos um ritual que continua a ser repetido."

Woodstock não foi o primeiro grande festival de rock norte-americano. Monterey Pop, realizado na Califórnia em 1967, foi o precursor dos festivais de rock. Cerca de 200 mil pessoas foram ao evento, lembrado principalmente pelo público e shows de artistas como Jimi Hendrix e outros -- tudo registrado no documentário "Monterey Pop", de D.A. Pennebaker.

Em 1968, aconteceu o Miami Pop Festival, que Lang também organizou.

E semanas antes de Woodstock, aconteceu o Festival Pop Internacional de Atlanta, que teve shows de Led Zeppelin, Creedence Clearwater Revival e Janis Joplin.

O "New York Times" quase não cobriu o Woodstock, achando que seria apenas uma sequência dos demais eventos.

Após Woodstock aconteceu o festival de Altamont, na Califórnia, em dezembro de 1969. Era esperado que se tornasse a versão da costa oeste de Woodstock, mas o festival ficou marcado pela violência, que culminou em um homicídio durante o show dos Rolling Stones.

Nos anos seguintes a Woodstock, muito da cultura hippie foi comercializada, assim como a experiência do festival. Eventos como o Califórnia Jam, de 1974, foi realizado para pegar carona na tendência dos grandes eventos.

Enquanto o circuito de festivais continuou a crescer na Europa, nos Estados Unidos aconteceu um declínio no final dos anos 70 e 80. Entre as exceções esta o Live Aid, de 1985.

O renascimento aconteceu nos anos 90, com o Lollapalooza e a turnê Warped. O 30º aniversário de Woodstock em 1999 foi outro ponto baixo, quando os frequentadores se rebelaram contra o caráter capitalista do evento onde a garrafa de água custava US$ 4.

Mas, na última década, o espírito de Woodstock (e do Califórnia Jam) foi redescoberto por festivais bem organizados e com grande público, como o Bonnaroo, Coachella e o renascido Lollapalooza. Há muitos outros, como o Austin City Limits, o Pitchfork Music Festival e o novato All Points West, cuja segunda edição aconteceu em Nova York neste ano.

O momento atual pode ser o apogeu dos festivais norte-americanos. As escalações têm boa curadoria, as filas para os banheiros são curtas, a segurança é profissional na maioria dos casos e o som geralmente é bom. Promotores são mais responsáveis que na época de Woodstock e pensam em como diminuir o impacto ambiental.

"O entusiasmo de quem vai a festivais hoje pode ser o mesmo de quem foi a Woddstock, mas o que falta é espontaneidade", disse Marley Brant, autor do livro "Join Together! Forty Years of the Rock Festival".


Festivais têm sucesso não apenas em vender um pacote de artistas (mais de 100 atrações tocaram em Bonnaroo neste ano), mas também ao prometer uma experiência comunal: Você vai se arrepender se não for, essa é a mensagem.

 

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