Com "Cradlesong", Rob Thomas volta à sua carreira solo

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

Rob Thomas tem dois empregos --e está contente. O cantor/compositor é o vocalista da banda de rock Matchbox Twenty, a voz e caneta por trás de sucessos como “Back 2 Good” (1996), “Push” (1996), “Real World” (1996), “3 AM” (1996) e “Bent” (2000), entre outros. Mas após estar ocupado com o grupo por grande parte de 2007 e 2008, Thomas está de volta à sua outra ocupação: ser um artista solo.

Thomas lançou “Cradlesong”, seu segundo álbum sem o Matchbox, no final de junho, após seu esforço platinado “...Something to Be” (2005), que foi o primeiro álbum solo de um membro de grupo de rock do sexo masculino a estrear em primeiro lugar na parada Billboard 200.

Em “Cradlesong” ele trabalhou novamente com o produtor Matt Serletic, e diz que a missão não mudou desde seu último lançamento. “A ideia não era fazer soar como meu último álbum solo”, diz Thomas, de 37 anos, “mas apenas escolher honestamente aquelas que considerava as melhores canções que compus, sem nenhuma pretensão”.

“Eu não me preocupo com o que estas canções dizem a meu respeito ou se ‘essa canção tem mais esse astral e preciso daquele outro’. Eu apenas digo, ‘ok, eu adoro essa canção e é algo que quero dizer, então precisa estar no álbum’. Não é tão complicado --apenas difícil de executar", conta. Thomas não precisava de opções para “Cradlesong”. Ele gravou 25 canções, 14 das quais aparecem no álbum. As demais serão oferecidas como faixas bônus por diversas lojas no varejo ou aparecerão em algum trilha sonora.

Compor esse material enquanto trabalhava em um projeto do Matchbox Twenty, entretanto, ajudou Thomas a acentuar ainda mais as diferenças entre os dois “empregos”. “Eu percebi que, entre minha dinâmica e a do Matchbox, eu sou mais um compositor de pop/rock. Com o Matchbox nós acabamos explorando mais o lado rock do pop rock, enquanto no meu trabalho solo, eu estou livre para fazer um pouco mais de pop. E é um mundo aberto. Ele pode ser o que você quiser que seja.”

Cria dos anos 80
E o que Thomas quer que ele seja? “Ah, escutando as canções que escolhi para o álbum, fica claro que sou uma cria dos anos 80”, ele diz rindo, acrescentando que algumas das novas canções da coleção “Exile on Mainstream” (2007) do Matchbox Twenty foram inspiradas por um vídeo do concerto Live Aid, de 1985. “É possível ouvir em algumas das melodias e ritmos, pela forma como as canções estão reunidas e nos sons que tocamos".

Ele completa: “não quer dizer que cheguei e disse, ‘eu quero tornar estas canções como dos anos 80’. Está mais para você gravá-las e então escutar e pensar: ‘uau, essa canção soa muito anos 80. Essa também’. É quase como se você se colocasse em uma espécie de transe estranho de compositor e deixasse o que quer que seja sair, de forma que posso olhar no final e ficar tão surpreso quanto qualquer outra pessoa.”

Thomas nasceu em 14 de fevereiro (Dia de São Valentino, que é o dia dos namorados em alguns países) de 1972 em Landstuhl, Alemanha Ocidental, na base militar onde seu pai estava estacionado. Após o divórcio de seus pais, ele foi criado por sua avó na Carolina do Sul e por sua mãe na Flórida, onde conheceu os futuros companheiros de banda Paul Doucette e Brian Yale. Juntos eles formaram o grupo Tabitha’s Secret, que se transformou no Matchbox Twenty e estourou em seu álbum de estréia, “Yourself or Someone Like You” (1996), que vendeu mais de 8 milhões de cópias e deu origem a cinco singles de sucesso.

O Matchbox Twenty manteve um pico multiplatinado por seus três primeiros álbuns, mas o estrelato individual de Thomas cresceu ainda mais em 1999, quando dividiu a autoria e cantou no sucesso “Smooth” de Santana, que vendeu mais de 2 milhões de cópias como single e conquistou três prêmios Grammy, incluindo Gravação do Ano. Isso deu a Thomas uma posição --e talvez um terceiro emprego-- como compositor de aluguel, e seu currículo subsequente inclui trabalhos para cantores como Marc Anthony e Mick Jagger.

Ciência da composição
Esse trabalho, sem causar surpresa, lhe deu um entendimento mais profundo da ciência da composição. “Precisa ter partes iguais de inspiração e domínio técnico. Não pode ser só técnica, porque então você diz ‘ah, agora entendo como se compõe uma canção’ e o que há de mais bonito em compor é o fato de você não entender. Não dá para explicar por que você está sentado em uma sala e ouve uma melodia que ainda não existe. Isso é algo sobre a qual você não tem nenhuma responsabilidade".

Thomas acrescenta: “quando você começa a sentir (que entendeu o processo), é quando você começa a compor a mesma canção repetidas vezes. Então, se passo um mês sem compor uma canção, eu não tenho nenhum problema com isso, porque significa que eu simplesmente não tive nenhuma idéia. Então, de repente, eu começo a compor e simplesmente não paro por semanas. Eu espero nunca perder a diversão do processo. Eu não quero que algum dia tenha que descer a escada e dizer: ‘ok, é hora de compor uma canção, então vamos fazer assim, toque este acorde e aquele acorde.’ Eu quero que nunca se transforme nisso, tipo, uma fábrica".

Além de Serletic, diz Thomas, ele usa sua esposa, Marisol, e Doucette --a quem ele chama rindo de “minha outra esposa”-- como caixas de ressonância para suas idéias. De fato, foi Marisol e sua batalha com uma doença autoimune que forneceu inspiração para o primeiro single de “Cradlesong”, “Her Diamonds”. “Ela passa por momentos bons e ruins, e estávamos em um momento realmente ruim quando a compus".

Todavia, Thomas busca conduzir este ponto de partida muito pessoal para uma direção mais universal. “Eu acho que meu trabalho como compositor é mais escrever sobre como aquele momento me faz sentir, não especificamente sobre o fato em si. Não se trata de compor uma canção sobre uma mulher com uma doença autoimune --e estou escrevendo sobre empatia e sobre estar em uma situação onde você está impotente, quando a única coisa que pode fazer é ter empatia e ser solidário".

O cantor fala que “meu tipo favorito de canção é aquela onde, quando a pessoa a escuta, ela a incorpora na sua própria vida e faz como que seja sobre sua vida, porque aquela canção repercute com o que a pessoa está vivenciando. Há um tipo de anonimato que é inerente nela, porque não estou realmente escrevendo a meu respeito. Eu estou escrevendo sobre uma emoção que senti por causa de algo específico que estou vivendo”.

Único ponto de vista
Ele disse conseguir fazer isso melhor em seu trabalho solo do que quando está no Matchbox Twenty, acrescenta Thomas, porque consegue escrever por um único ponto de vista. “As canções do grupo sempre envolvem nós quatro, mesmo quando sou o único escrevendo as letras. Elas precisam representar todos. Há um acordo --que não me incomoda, mas fico feliz por ter outro escoadouro. E sou afortunado por ter o Matchbox, porque se isso fracassar miseravelmente, eu posso simplesmente agir como se nunca tivesse acontecido e voltar e gravar com o Matchbox, e me dedicar a isso".

Thomas e seus companheiros de banda estão de fato conversando sobre o próximo álbum do Matchbox Twenty, e pode até mesmo começar a compor antes de setembro, quando Thomas sairá em turnês para divulgar “Cradlesong”. Todas as outras colaborações estão engavetadas por ora, com Thomas dizendo que tentará limitá-las tanto por motivos profissionais quanto pessoais.


“Essas coisas só podem acontecer quando tenho mais tempo sobrando. Quando você está fazendo algo como gravando um álbum, você fica envolvido demais, de forma que só pode acontecer entre álbuns, quando tenho algum tempo e não estou trabalhando em nada específico, momento em que minha cabeça estará no lugar certo para aquilo. E, sério, se eu tiver um minuto e não o dedicar para minha esposa, ela provavelmente me dará uma paulada na cabeça. Eu prefiro que isso não aconteça".

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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