Creed volta à ativa com novo disco e quer deixar uma nova "primeira impressão"

GARY GRAFF

Os rumores de reunião do Creed eram intensos antes mesmo dos integrantes da banda começarem a conversar a respeito no final do ano passado. Após todo o drama e recriminações amargas na separação do grupo em 2004, tudo o que bastou foi um telefonema para que o cantor Scott Stapp e o guitarrista Mark Tremonti começassem a acertar as coisas.

  • Divulgação

    Com visual novo, integrantes do Creed voltam à ativa como uma banda "mais pesada"

"Eu acho que Mark e eu chegamos a um ponto onde estávamos cansados das pessoas falarem por nós", diz Stapp, de 35 anos, falando por telefone de um estúdio de gravação em Nashville, onde a banda está trabalhando em um novo álbum. "A falta de comunicação foi parte do motivo para estarmos nesta situação".

Stapp, que estava em Orlando, na Flórida, para cantar o hino nacional no Champs Sports Bowl no final de dezembro, telefonou para o empresário de Tremonti para dizer que queria se encontrar com Mark. "Nós trocamos alguns telefonemas, tínhamos nossas guitarras e foi realmente positivo", lembra Stapp.

"Pegamos nossas famílias, conversamos e saímos juntos como costumávamos. Trocamos cartões de Natal e continuamos nos comunicando, mas estávamos ambos trabalhando ativamente em outras coisas e formando famílias, assim como crescendo como artistas e outras coisas --espiritualmente, mentalmente e como homens. O momento era certo", conta.

Cimentada logo após uma jam na casa de Stapp, em Boca Raton, também na Flórida, a reunião do Creed marca o retorno de uma das bandas de hard rock mais bem-sucedidas dos Estados Unidos, um quarteto --que também inclui o baterista Scott Phillips e o baixista Brian Marshall-- que desfrutou de um sucesso fenomenal no final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Formada por Stapp e pelo seu colega de colégio, Tremonti, em 1995, a banda vendeu 35 milhões de álbuns em todo o mundo e foi o primeiro grupo a emplacar sete singles consecutivos no primeiro lugar nas paradas de rock. "With Arms Wide Open" (2001) ganhou um Grammy como melhor canção de rock. Mas o sucesso "mexeu conosco", reconhece Stapp.

Do fim ao recomeço
Nascido Anthony Scott Flippen na Flórida e criado em um rígido lar pentecostal onde seu pai, um pastor e dentista, proibia o rock and roll, Stapp teve que sair de casa aos 17 anos. A espiritualidade, entretanto, permaneceu um elemento central para ele. Os temas de "busca" em suas letras levaram muitos a rotularem o Creed como uma banda cristã --para irritação de seus companheiros de banda.

CREED: "WITH ARMS WIDE OPEN"

"Eu achei que estava estragando os planos deles de sexo, drogas e rock and roll", diz Stapp. "Eles não entendiam por que isso estava acontecendo à carreira deles de rock and roll. Foi um motivo constante de ressentimento que persistiu na banda até a separação", conta.

Entre tantos problemas, Marshall foi expulso no final de 2000. Stapp lutou contra a dependência de substâncias e, na época do lançamento de "Weathered" (2001), estava cada vez mais errático por causa de nódulos na garganta, pneumonia e ataques de ansiedade. No último show da turnê para promover o álbum, em Chicago em 2002, Stapp estava tão intoxicado por uma mistura de álcool e do analgésico Oxycontin que cantou parte das letras de forma ininteligível, esqueceu outras, cantou deitado e deixou o palco antes da hora.

O grupo começou a produzir um quarto álbum no início de 2004, mas rompeu de forma ressentida antes de chegar a algum lugar. "As diferenças pessoais superaram nosso progresso na banda", diz Tremonti, de 35 anos, que com Marshall e Phillips formou um novo grupo, o Alter Bridge. "Eu não quero apontar dedos. As pessoas apenas tinham pontos de vista diferentes".

Stapp também quer evitar ressuscitar antigas brigas. "Quando se é bem-sucedido e várias pessoas ao seu redor começam a crescer, às vezes há uma falta de comunicação", ele diz.

Olhando para trás, ele acha que foi um erro o Creed ter anunciado formalmente a separação, em vez de simplesmente permitir que os membros da banda passassem algum tempo separados. "Nós precisávamos de uma pausa. Passamos por momentos difíceis e as coisas estavam ruindo fisicamente. Não era 'não quero mais andar com você' ou 'eu não gosto mais de você', mas às vezes você está tão próximo do que está acontecendo que não consegue enxergar. É o que aconteceu com a gente".

O fardo do cabelo comprido
Enquanto seus colegas de banda se concentravam no Alter Bridge, Stapp lançou uma carreira solo que incluiu uma canção na trilha sonora de "A Paixão de Cristo" (2004) e um álbum solo, "The Great Divide" (2005).

O período também foi marcado por problemas conjugais e várias outras controvérsias, como uma briga de bar em 2005 com os membros da banda 311, uma aparição embriagada na Spike TV, uma prisão em 2006 por embriaguês em Los Angeles (um dia após seu casamento com sua segunda esposa, a ex-miss Nova York, Jacklyn Nesheiwat) e o lançamento de um vídeo em 1999 mostrando Stapp e Kid Rock em atos sexuais com quatro mulheres em um ônibus de turnê.

Stapp reúne todos esses episódios como "erros imbecis que eu gostaria de poder voltar atrás para apagar. Eu nunca aleguei ser nada além de um sujeito normal que comete erros como todo mundo". Mas ficou claro que ele estava em uma crise que precisava ser resolvida antes que ele pudesse prosseguir com sua vida, carreira e tudo mais.

"Eu acho que o que me enlouqueceu foi que não encontrei qualquer solução para minha vida, espiritualmente", diz Stapp, que credita à sua família, incluindo um filho de cada um de seus dois casamentos, por ajudá-lo a atingir um grau de paz. "É um dia diferente para mim agora, porque a luta interna acabou. Eu não estou tão conflituoso espiritualmente e como ser humano".

CREED: "DON'T STOP DANCING"

Stapp até mesmo cortou seu característico cabelo comprido como um gesto de desculpas e reconciliação com sua família e qualquer um que possa ter alienado com seu comportamento ao longo da última década. "Eu senti como se um fardo tivesse sido removido de mim", explica o cantor.

Segundo ele, quando está com alguém do passado, mesmo que possam ter ideias preconcebidas, as pessoas não mais veem a pessoa da qual lembravam. "Isso me dá a chance de dizer 'me desculpe' e acertar quaisquer erros que possa ter cometido naquela época".
 
Quando o Creed se reuniu, diz Stapp, "foi tão fácil para nós chegarmos e nos abraçarmos e dizer: 'cara, me desculpe se fiz algo que te magoou'. Poder conversar sobre nossas esposas e filhos, ter esse laço comum de família como nosso alicerce, ver cada um de nós como pais e maridos, permitiu que a confiança se desenvolvesse mais rapidamente. E nos comove o simples fato das pessoas ainda estarem interessadas em nós".
 
Reflexões de "Full Circle"
Os membros da banda podiam simplesmente ter se acomodado com aquela que provavelmente será uma turnê lucrativa, mas em vez disso decidiram iniciar o trabalho em um novo álbum, "Full Circle". A faixa-título nasceu na primeira sessão em que os membros do Creed voltaram a tocar juntos, enquanto canções como "Don't Give Up", "Slow Suicide" e "A Thousand Faces" foram compostas nas sessões subsequentes.

As novas sessões contêm "muitas reflexões", diz Stapp, que acrescenta rapidamente que não são necessariamente tão sérias quanto podem sugerir. "Não é um álbum de queixas, sem esperança. São histórias sendo contadas, mas também de muita pauleira".

Stapp conta que a banda está "mais pesada" agora. "É de um lugar diferente, de um tipo de reflexão diferente e de um nível diferente de maturidade, mas somos uma banda de rock, então ainda há essa audácia. Há uma confiança e um orgulho que sentimos apenas coletivamente. Nossa música tem um frescor e ainda está muito ligada a quem somos e ao nosso som, mas também sofreu uma evolução natural".

A reunião do Creed não colocou fim aos outros projetos dos membros do grupo. Stapp ainda planeja concluir seu segundo álbum solo e o Alter Bridge pretende lançar em breve um disco ao vivo e um novo trabalho de estúdio em 2010. Mas todos consideram o Creed de volta à ativa e o vocalista diz que a banda está melhor do que nunca.


"Nós somos melhores músicos e entertainers agora", diz Stapp, "e estamos realmente confiantes nas canções. Estamos tendo uma segunda chance de deixar uma primeira impressão, e estamos empolgados com isso. Nos sentimos realmente honrados e abençoados por termos isso em nossas vidas".

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

 

Tradutor: George El Khouri Andolfato

UOL Cursos Online

Todos os cursos