Com disco novo nas lojas, Black Crowes diz que está feliz com "status cult"

GARY GRAFF
The New York Times Sindycate

O Black Crowes pode ser "o grupo mais improvável de todos que reúne pessoas focadas na carreira", como coloca o vocalista Chris Robinson, mas isso não impediu a banda de durar mais que muitas outras ao longo do caminho. O álbum de estreia, "Shake Your Money Maker" (1990), introduziu a banda nascida na Geórgia e influenciada pelo rock clássico com dois singles que ocuparam o primeiro lugar das paradas de rock: "She Talks to Angels" e uma versão impetuosa de "Hard to Handle" de Otis Redding, com mais de 8 milhões de cópias vendidas.

Foi um lançamento empolgante para uma carreira que produziu, de lá para cá, outros sete álbuns de estúdio --incluindo o novo "Before the Frost... Until the Freeze" (2009)-– e uma colaboração com Jimmy Page do Led Zeppelin. No currículo do grupo ainda há brigas notórias entre Chris Robinson e seu irmão mais novo, o guitarrista e co-compositor Rich Robinson, e uma pausa de três anos. "Pense em quão afortunados somos para ainda estarmos aqui", diz Chris, de 42 anos. "Pessoas bem mais talentosas do que nós não tiveram a chance de gravar tantos álbuns, seja por qual for o motivo. Sou muito grato por isso".

Mesmo o declínio das vendas desde "Shake Your Money Maker" e as críticas ocasionais que desprezam os Crowes como datado --um crítico os chamou de "banda arcaica"–- não diluíram seu entusiasmo ou senso de propósito. "Eu acho que estamos felizes com nosso status cult", diz Chris na sala de estar do ônibus de turnê dos Crowes, relaxando antes de uma apresentação no Rothbury Festival, no oeste de Michigan.

O vocalista acha que seria "a coisa mais idiota do mundo" se tentassem ser algo que não são. "Nós passamos por muitos ciclos diferentes, e é sempre uma disputa, de certa forma, por sermos uma banda realmente contracultural. Somos contrários ao sistema de muitas formas, seja por nossa política liberal ou pela forma como lidamos com a indústria musical. Mas sabe de uma coisa? Eu acho que está mais divertido do que nunca. O ritmo está melhor e estamos nos sentindo mais realizados".

  • Black Crowes participa do programa "David Letterman Late Show", em 01/09/2009

Seu irmão concorda. "Eu estou mais do que feliz com a forma como as coisas estão", diz Rich. "Com o novo pessoal que temos [o guitarrista Luther Dickinson e o tecladista Adam MacDougall], pela primeira vez em muito tempo parece que esta é realmente nossa banda e este é o local para o qual caminhávamos".

Atualmente o Black Crowes, que também inclui o baterista fundador Steve Gorman e o antigo baixista Sven Pipien, gravam para seu próprio selo, o Silver Arrow Records. Isso dá ao grupo um grau de independência para buscar o caminho musical que quiser. "Há a energia que ainda precisamos para ser criativos", diz Chris.

Os instintos de "Before the Frost..."
O cantor fala que o potencial criativo dos Crowes está sempre no que está acontecendo agora. "Eu não sei quão longe esta banda poderia ir vivendo do passado, dos nossos maiores sucessos. É possível viver disso, é o que muitas bandas fazem, mas não é como víamos a nós mesmos. Para mim, se trata de 'o que podemos fazer que ainda não fizemos?'", questiona.

"Before the Frost... Until the Freeze" é uma maior expressão dessa liberdade criativa do que "Warpaint" (2008), o álbum de "retorno" dos Crowes, que foi o primeiro da banda em sete anos e seu primeiro para o Silver Arrow. "O lance em 'Warpaint' que me deixou mais empolgado foi o de termos mergulhado definitivamente em nossas raízes em muitas canções", diz Chris, "e acrescentamos mais elementos folk e country, que sempre foram uma parte importante, mas que às vezes chegávamos ao limiar e recuávamos para algo mais intermediário. Desta vez, seguimos mais nossos instintos".

Para o novo álbum, Chris queria seguir ainda mais esses instintos. Sua ideia, inspirada no álbum ao vivo "Europe '72" do Grateful Dead, era gravar todo o material novo diante de uma plateia ao vivo. "Você escuta [o 'Europe '72'] e eles tocam muitas músicas que se tornaram ícones para eles", diz o cantor. "Até mesmo 'He's Gone', aquela é a primeira vez que a tocaram".

Outra peça do quebra-cabeça se encaixou enquanto Chris estava de férias em Woodstock, em Nova York, com sua namorada e Ryder, seu filho com a ex-esposa Kate Hudson. O três assistiram uma "Midnight Ramble", uma jam session comunitária conduzida por Levon Helm, da The Band, em seu celeiro/estúdio de gravação próximo. "Nós fomos até lá e foi muito divertido. A música era ótima", lembra Chris. "Lá estávamos em Woodstock, conversando sobre a logística (para o álbum) e eu sentado atrás da mesa de estúdio do Levon, escutando o que eles estavam fazendo e foi algo como 'está bem aqui!'".

BLACK CROWES - "LICKIN'"

"Before the Frost... Until the Freeze" foi gravado durante cinco shows no celeiro de Helm, em fevereiro e março. Os Robinsons concluíram a composição das canções apenas duas semanas antes das sessões e a banda chegou em uma segunda-feira para cinco dias de ensaios antes das primeiras apresentações. Os shows e o álbum foram produzidos por Paul Stacey, ex-produtor do Oasis que trabalhou com Chris Robinson em seus dois álbuns solo e que também produziu "Warpaint".

A gravação do álbum também contou com participações de convidados, como o multi-instrumentista e ex-músico de Bob Dylan, Larry Campbell, que agora está tocando com Helm. "Uma das coisas que gosto a respeito dos Crowes é que trabalham de forma rápida e realmente orgânica", diz o guitarrista Dickinson, que colocou seus North Mississippi Allstars em espera para ingressar na banda. "Tudo envolve o sentimento, que é tão importante e muito raro atualmente".

20 anos na estrada
Chris saboreia a capacidade dos Crowes de reunir 18 novas canções, mais um cover de "So Many Times" do Manassas em um prazo tão curto. O álbum está disponível como um CD de 11 canções, com nove músicas gratuitas para download, com todo o material disponível na edição em vinil. "Há alguma canções ali que possuem arranjos complicados. É um verdadeiro testemunho de todos na banda, da musicalidade e talento de todos, o fato de soar tão fácil, como se tivéssemos ensaiado por um mês quando o gravamos".

O vocalista se diz satisfeito com a energia do novo disco. "Está longe de ser perfeito, e isso não é algo em que nos interessamos. Eu acho que simplesmente mostra a profundidade do que a banda pode fazer. É o exemplo perfeito de onde estamos, onde estivemos e para onde vamos, tudo ao mesmo tempo".

Enquanto isso, a banda está se preparando para uma comemoração de 20 anos. Segundo Chris, provavelmente envolverá um relançamento de 'Shake Your Money Maker", com demos e material ao vivo, assim como incluir "uma boa parte" daquele álbum nos shows da banda em 2010.

Olhando 20 anos para trás, Chris ainda curte "Shake Your Money Maker" e aquela etapa da carreira dos Crowes. "É de quando tudo é novo para você e contêm esse tipo de alegria, quando você ama aquilo, vive, respira e acredita naquilo, mas que também parece como se pudesse ser arrancado de você".

Mesmo assim, apesar de reconhecer que "talvez outros membros da banda sejam mais nostálgicos do que eu", o vocalista não planeja mergulhar demais no passado enquanto o Crowes entra em sua terceira década. "Nós temos sorte de ganhar a vida fazendo música, ainda por cima uma vida boa. Mas, ao mesmo tempo, nós temos famílias e bebês. Se vamos viver esta vida com estas pessoas neste mundo, então é melhor que a música seja muito boa, porque, caso contrário, por que fazer isso?".

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

 

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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