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Kings of Leon trabalha em novo disco com músicas que "soam como Radiohead e The Band"

Os integrantes do Kings of Leon: Matthew Followill, Nathan Followill, Caleb Followill e Jared Followill - Lego/NYT
Os integrantes do Kings of Leon: Matthew Followill, Nathan Followill, Caleb Followill e Jared Followill Imagem: Lego/NYT

GARY GRAFF<br>The New York Times Sindycate

04/10/2009 10h00

O Kings of Leon vivia duas vidas distintas, conta o baterista Nathan Followill, e só agora a banda conseguiu unir as duas. Antes do lançamento do disco "Only By Night" (2008) e do single premiado com o Grammy, "Sex On Fire", o quarteto norte-americano de Nashville --composto por três irmãos e um primo-- era famoso no Reino Unido, onde tinha 15 singles nas paradas e era a atração principal em shows em arenas.

Em casa, entretanto, eles eram virtualmente anônimos. "No Reino Unido e Europa, nossos seguranças andavam com a gente, porque as pessoas não nos deixavam em paz. Era uma loucura", conta Nathan, de 30 anos. "Daí chegávamos em casa e a única pessoa que nos conhecia era nossa mãe. Quase desistimos da ideia de algum dia sermos grandes, especialmente na América. Mas esse álbum saiu, com uma canção com as palavras 'sexo' e 'fogo', e tudo mudou. Quem poderia imaginar?".

"Sex On Fire", que ocupou o topo da parada de singles alternativos da Billboard, de fato ajudou a impulsionar "Only By Night", o quarto álbum do Kings of Leon, a vendas que renderam um disco de platina nos Estados Unidos. Também rendeu outro single, "Use Somebody", que chegou ao Top 5. Mas a verdade é que havia um pouco de tensão na banda antes disso acontecer.

Nathan e seus irmãos, o cantor e guitarrista Caleb e o baixista Jared, sempre tocaram juntos. Filhos de um pregador pentecostal itinerante, Ivan "Leon" Followill --e netos de outro pregador, também chamado Leon, daí o nome da banda--, os irmãos eram frequentemente chamados para tocar nos seus serviços religiosos pelo sul da América. "Sabíamos que era um tipo diferente de criação", reconhece Jared, de 22 anos. "Olhando para trás, é legal o que fazíamos, não temos vergonha. Não temos que evitar qualquer coisa no mundo". E isso inclui a música.

KINGS OF LEON - "SEX ON FIRE"

Apesar de Jared dizer que a mãe deles, Betty-Ann, "não queria que escutássemos rock and roll", o pai deles colocava no rádio quando ela não estava no carro. "Meu pai escutava emissoras de rock antigo”, diz o baixista, "e a gente ouvia The Band, Tom Petty, Neil Young, Bob Dylan, esse tipo de som. Não era algo importante na vida dele, era algo que ele ouvia para passar o tempo enquanto estávamos na estrada".

O gosto dos irmãos, no final das contas, se expandiu, principalmente após o divórcio de seus pais e a mudança deles para Nashville com sua mãe. Lá eles conheceram um compositor chamado Angelo Petraglia, que os ajudou a aperfeiçoar seus talentos e também os apresentou a outros tipos de música. "Eu passei por uma fase The Cure", lembra Jared, "e depois comecei a ouvir Pixies, que mudou minha vida. Era muito diferente de tudo. Eles faziam exatamente o que queriam, não se importavam com mais nada, exceto a música que queriam fazer", conta.

Uma banda por um contrato
Nathan e Caleb eram os membros originais da banda. Foram eles que assinaram um contrato de gravação como uma dupla com a RCA Records no início dos anos 2000. A gravadora sugeriu que formassem uma banda completa, então os irmãos recrutaram Jared, que só tinha 16 anos na época e teve que aprender a tocar baixo, e o primo deles, Matthew, que assumiu a guitarra principal. "Esta é a primeira banda em que todos nós já estivemos", diz Nathan. "A maioria das bandas toca junta por uns seis anos antes de conseguir um contrato, e nós formamos a banda porque tínhamos um contrato".

Um EP inicial, "Holy Roller Novocaine" (2003), gerou uma badalação para o primeiro álbum do Kings of Leon, "Youth and Young Manhood", que foi lançado naquele mesmo ano. Ele foi bem recebido: a revista "Rolling Stone" deu ao álbum quatro de cinco estrelas, enquanto o "New Musical Express" britânico o chamou de "um dos melhores álbuns de estreia dos últimos dez anos".

"Não esperávamos aquilo", diz Jared. "Quando as pessoas nos ligavam e contavam que eles estavam dizendo essas coisas, não sabíamos o que dizer a respeito. É bacana. Nós ficamos felizes, mas não estamos tentando ser a maior banda de todos nem nada assim. Nós estamos apenas fazendo música que queremos ouvir".

A visibilidade geral do Kings of Leon, se não suas vendas de discos nos Estados Unidos, cresceu durante mais dois álbuns e turnês abrindo para U2, Bob Dylan e Pearl Jam. A disparidade da popularidade da banda em casa e no exterior parecia estranha, reconhece Nathan, mas ele também via benefício nisso. "Eu acho que, na verdade, nos ajudou, já que nunca nos cansamos disso".

Nathan conta que eles sempre aguardavam "ansiosamente" para ir ao Reino Unido e Europa. "Éramos grandes lá, mas também queríamos voltar para casa, porque havia um certo grau de anonimato. Isso nos manteve famintos e humildes. É difícil ficar convencido quando você chega em casa e ninguém sabe quem você é. Isso manteve o fogo sob nossos traseiros. Mas tudo acontece por um motivo e realmente estamos curtindo onde estamos agora".

KINGS OF LEON - "USE SOMEBODY"

DVD ao vivo e remixes
Os Followills riem quando falam sobre a reação de alguns de seus fãs mais antigos a respeito do sucesso mais recente do grupo. A banda tem três tipos de fãs agora, diz Nathan: aqueles que só conhecem "Sex On Fire", que ganhou um Grammy de melhor performance de rock; aqueles que descobriram a banda por meio dessa canção e então saíram atrás do restante de nosso catálogo; e, finalmente, "os fãs de carteirinha que se recusam a vibrar ou cantar com 'Sex On Fire', só para nos mostrar que não são fãs apenas por causa dessa canção".

Da última categoria, Nathan recorda: "havia duas garotas em nosso show, em Las Vegas, que ficaram sentadas de braços cruzados, balançando a cabeça para frente e para trás, se recusando a cantar quando tocamos 'Sex On Fire', mas então cantaram todas as letras de todas as outras canções do restante da noite. Foi muito engraçado".

E, segundo Nathan, não para por aí: "eu recebi alguns e-mails de despedida de fãs dizendo que foi muito bom até aqui, mas que chegamos a um ponto onde eles teriam que nos compartilhar com muita gente que não gosta de nós pelos motivos 'certos'. Mas as mesmas pessoas me enviaram e-mails dois meses depois, agindo como se nada tivesse acontecido, e agora estão de volta. Se todo mundo gostasse de você não teria graça, então é bom contar com esse tipo de variedade".

As coisas podem continuar melhorando para o Kings of Leon. A banda planeja lançar um DVD ao vivo, filmado em julho na arena O2, em Londres, mas está ainda mais empolgada com um álbum de remixes, que apresentará as canções do grupo revistas por nomes como Kenna, Lykke Li, Pharrell, Mark Ronson, Justin Timberlake e outros. "É legal ter essas pessoas nos procurando antes de termos uma chance de convidá-las. É incrível ouvir sua canção tocada por pessoas muito criativas", diz Nathan.

O sucesso de "Only By Night" manteve o Kings of Leon na estrada por quase um ano e meio. Apesar do grupo desejar um descanso, os meninos já começaram a trabalhar em material novo, grande parte composto durante a checagem de som pré-concerto, que Nathan --que deverá se casar em novembro-- descreve como "abrangendo de tudo. Há coisas que soam como Radiohead, há coisas que soam como Thin Lizzy, há coisas que soam como The Band".

Segundo o músico, "nós estamos em um ponto agora em que podemos ser experimentais e tentar coisas que teríamos pavor de fazer em nossos primeiros álbuns. Agora nos vemos um pouco mais aventureiros". E é esse tipo de material, diz o baterista, que provavelmente levará os quatro Followills de volta ao estúdio em breve.

"No final da turnê de cada álbum", diz o baterista, "a gente costuma dizer que vamos tirar um ano de férias. Daí nós vamos para casa e, após duas semanas sentados, a gente pergunta: 'vocês querem ensaiar?' E isso bota nossa criatividade para funcionar, nos leva a compor e, antes que você perceba, nós estamos de volta tocando. Isso é legal. Eu odiaria chegar ao ponto de não querer mais fazer isso".

 (Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)