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"Único lugar onde a música realmente vive é nos clubes", diz Will. i.am, do Black Eyed Peas

Os integrantes do Black Eyed Peas em foto de divulgação - Divulgação
Os integrantes do Black Eyed Peas em foto de divulgação Imagem: Divulgação

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

22/02/2010 13h15

Por mais inconcebível que possa parecer agora, o líder do Black Eyed Peas, Will.i.am, diz que estava “apavorado” quando o grupo lançou seu mais recente álbum, “The E.N.D.”, em junho de 2009. 

“É como ser um surfista profissional e todo os oceanos secassem: ‘Vamos surfar!’ ‘Claaaro’”, explica o compositor, músico e produtor, que co-fundou os Peas em 1995. “É o equivalente a músicos lançarem discos sem que existam lojas de discos.” 

“(The E.N.D.) simplesmente explodiu sem a indústria fonográfica tradicional, o que é ótimo. Mas não sabíamos o que aconteceria. Foi assustador.” 

O quinto álbum de estúdio dos Peas é, na verdade, o “Boom Boom Pow” ouvido ao redor do mundo. O álbum com 15 canções estreou no 1º lugar na parada Billboard 200 e ficou no topo das paradas de sete outros países. Seus primeiros dois singles, “Boom Boom Pow” e o hino de festa “I Gotta Feeling”, passaram 26 semanas no topo da parada Billboard Hot 100, e os Peas ganharam três prêmios Grammy, incluindo melhor álbum pop vocal. 

Claramente, “The E.N.D.” estava a altura da sigla de seu título: “The Energy Never Dies” (a energia nunca acaba). 

“Nós fizemos um álbum para o momento”, explica Will.i.am, 34 anos, que nasceu William Adams, “e o momento agora é dos clubes. Dizer: ‘Vamos fazer um álbum para as rádios’ é algo perigoso agora. O único lugar onde a música realmente vive é nos clubes. Então fizemos esse trabalho para os clubes.” 

Clipe de "I Gotta Feeling"

A cantora Stacy Ferguson, também conhecida como Fergie, sente que o som do álbum “representa uma nova energia” para os Peas, apesar dos lançamentos anteriores do grupo –incluindo sucessos como “Let’s Get Retarded” (2003), “Where Is the Love?” (2003), “My Humps” (2005) e “Pump It” (2005) –também terem sido favoritos das pistas de dança. 

“Frequentar os clubes realmente trouxe muita inspiração para este álbum”, ela diz. “Nós ficamos tão inspirados pelo novo e pela necessidade de seguir em frente que decidimos seguir nossos instintos.” 

O sucesso de “The E.N.D.” é particularmente gratificante para os integrantes da banda, porque ele vem após vários anos nos quais grande parte da atividade musical dos Peas ocorreu fora dos palcos, levando a rumores sobre o fim do grupo. 

A banda decolou após a entrada de Fergie em 2003, com os álbuns “Elephunk” (2003) e “Monkey Business” (2005), ambos sucessos multiplatinados que transformaram os quatro cantores em astros internacionais e Will.i.am no produtor mais requisitado do mundo pop. 

Após “Monkey Business”, entretanto, os integrantes do grupo aproveitaram seu maior renome para realização de trabalhos individuais. Fergie lançou o álbum solo “The Dutchess” (2006), que obteve três discos de platina, se casou com o ator Josh Duhamel e apareceu no filme musical “Nine” (2009). Will.i.am lançou seu próprio álbum solo, “Songs about Girls” (2007), e produziu canções para Chris Brown, Mariah Carey, Diddy, Fergie, Michael Jackson, John Legend, Rihanna, Justin Timberlake, U2 e Usher, entre outros. Ele também lançou uma rede social online chamada Dipdive e criou o “Yes We Can” (2008), um vídeo viral para a campanha presidencial de Barack Obama. Os outros membros do grupo, Apl.de.ap e Taboo –nascidos Jaime Gomez e Allan Lindo respectivamente– também buscaram projetos musicais solo e como atores. O resultado de todo esse trabalho fora do grupo foi a percepção de que os Peas tinham acabado, o que Fergie disse que nunca foi o caso. 

“Eu acho que eram outras pessoas que estavam falando a respeito, não nós”, ela diz. “Era apenas pessoas especulando, e se espera um pouco disso atualmente. Mas antes de tudo somos amigos, de modo que, para nós, nunca foi uma questão de fazer outro álbum. Era apenas uma questão de quando fizesse sentido.” 

Ideias para “The E.N.D.” começaram a surgir em 2006 e o grupo até mesmo tinha um título provisório, “Evolution” (evolução), que teve que ser mudado quando a cantora de rhythm and blues Ciara escolheu esse título para seu álbum de 2006. “From Roots to Fruits” (das raízes aos frutos) também foi considerado antes do quarteto adotar “The E.N.D.”, mas após a turnê de divulgação de “Monkey Business”, diz Will.i.am, o grupo estava esgotado e precisava dar um tempo até estar pronto para outra turnê.

Fábrica musical em Londres
Em setembro de 2008 as coisas começaram a rolar. Com Fergie em Londres filmando “Nine”, os outros membros dos Peas foram até ela, cheios de ideias. Mais de 60 canções resultaram das sessões no Metropolis Studios, onde os Peas ocuparam várias salas diferentes. 

“Foi realmente legal, uma espécie de fábrica musical”, lembra Fergie. “Você passava horas em uma sala fazendo uma canção e, quando seus ouvidos ficavam cansados dela, ia para outra sala onde as pessoas estavam trabalhando em uma canção diferente, com toda uma nova vibração e seus ouvidos frescos para aquilo. Era algo confortável, ótimo e com excelente vibração.” 

BEP toca "I Gotta Feeling" em Chicago

“Neste álbum eu pude explorar completamente partes diferentes da minha voz, personagens diferentes. Eu estava canalizando a fase inicial da Madonna em ‘Meet Me Halfway’, porque a palavra ‘borderline’ estava lá e ela me remeteu a quando tinha 10 ou 11 anos, quando assisti a turnê ‘Like a Virgin’. E em ‘Out of My Head’ eu meio que canalizei Millie Jackson. Eu tive que fazer de tudo.” 

E não apenas no trabalho com os Peas, que visitavam as casas noturnas de Londres tanto para dançar como para fazer uma pequena pesquisa de mercado para seu novo material. 

“Will e Apl discotecavam e nós nos divertíamos bastante juntos”, diz Fergie. “Eu sinto neste álbum a mesma empolgação que sentia no início, com ‘Elephunk’, quando estava ingressando na banda. Ele parece tão novo, fresco e divertido. É o que é –divertido de novo.” 

“Essa energia vem do tempo que passamos distantes, do tempo que passamos fazendo outras coisas. Após nos reencontrarmos, nós percebemos o quanto gostamos de estar juntos e de fazermos parte deste grupo.” 

Em nenhum outro lugar esse espírito está mais representado, ela diz, do que em “I Gotta Feeling”, o animado segundo single de “The E.N.D.” que ganhou vida adicional em eventos esportivos, em comerciais de televisão e até mesmo, segundo Will.i.am, no celular pessoal de Oprah Winfrey. 

“Essa canção é dedicada a todas as pessoas que trabalham em empregos entediantes e que não veem a hora de chegar a sexta-feira”, diz Fergie. “É como um exército de pessoas querendo se divertir.” 

E é o que conseguiram, diz Will.i.am, que liberou todo o material de “The E.N.D.” para que D.J.s de todo mundo remixem e compartilhem online. 

“Não importa para onde você vá, em que país esteve, você ouviu ‘I Gotta Feeling’”, ele diz. “Oito, 10 versões diferentes dela em uma noite. É uma loucura. Mas nós conseguimos esse tipo de gravação. Nós queríamos que as pessoas dessem seu toque pessoal às canções, não apenas escutassem a nossa versão e dissessem, ‘que legal’.” 

O compromisso dos Peas com “The E.N.D.” permanece forte. O grupo caiu na estrada com um show de alta tecnologia, que Will.i.am chama de “uma festa futurista no palco”, complementada com uma séria ação de sub-woofers –“para o baixo te envolver”, ele diz. A turnê deverá avançar por 2011, mas Will.i.am diz que a próxima leva de música dos Peas não deverá demorar, sendo lançada, provavelmente, enquanto os Peas ainda estiverem na estrada. 

“Nós temos alguns truques em nossas mangas para algo já em junho”, diz Will.i.am, que também colaborou com o The Who e Slash em um remix do clássico da banda de 1965, “My Generation”, em benefício dos esforços de ajuda humanitária ao Haiti. “Eu ainda não posso dizer o que é, entretanto. Eu não quero que o grupo fique bravo comigo. E prefiro dizer isso como um grupo, porque é o que somos.” 

“Mas o futuro está aqui, isso eu posso dizer.” 

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

Tradutor: George El Khouri Andolfato