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Minha meta é compor hoje algo que não poderia ter feito ontem, diz Peter Frampton

O guitarrista, cantor e compositor Peter Frampton - Divulgação
O guitarrista, cantor e compositor Peter Frampton Imagem: Divulgação

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

20/04/2010 07h58

Pela primeira vez em muito tempo, Peter Frampton está lançando um álbum sob grandes expectativas. Bem, não é como em 1977, quando “I’m in You” seguiu “Frampton Comes Alive!” (1976), um fenômeno que passou 10 semanas no primeiro lugar da parada Billboard e vendeu mais de 16 milhões de cópias em todo o mundo.

Mas o novo “Thank You Mr. Churchill” é o sucessor de “Fingerprints” (2006), que rendeu a Frampton seu primeiro Prêmio Grammy --melhor álbum pop instrumental-- e obteve mais atenção do que o roqueiro veterano vinha desfrutando no último quarto de século de sua longa carreira. “Este é o primeiro álbum que aguardo com tanta expectativa”, diz Frampton, que completará 60 anos em 22 de abril, falando por telefone de seu estúdio caseiro, em Cincinnati.

“É como a antítese de ‘I’m in You’ –não poderia ser mais diferente do que eu sentia naquela época, que era puro medo. Hoje é pura alegria e empolgação, aguardando ansiosamente por ele. É completamente diferente". É claro, diz Frampton, que a viagem nos anos 70 até o pináculo do pop –e a queda– foi essencial para seu ponto de vista.

Peter Frampton - "Show me The Way"

“Eu acho que estou mais ciente do mundo e da minha posição nele, o que posso e o que não posso fazer. Eu acho que, musicalmente, eu estou apenas experimentando em ir além da minha caixa e me reinventando. Minha meta é sempre acordar hoje e compor algo que não poderia ter feito ontem. Esta sempre será minha meta.”

O rosto de 1968
Essas ambições criativas fazem parte do modo de ser de Frampton desde que ele se recorda. Filho de um professor de arte da Bromley Technical School em Beckenham, Inglaterra –onde David Bowie foi um colega de classe– ele tinha 7 anos quando descobriu um banjo ukelele de sua avó no sótão e começou a tocá-lo. Ele logo aprendeu violão e piano, e aos 10 anos já estava tocando em uma banda chamada The Ravens, frequentemente dividindo o palco com George & The Dragos de David Bowie.

“Ele era um pouco mais velho do que eu, mas estávamos aprendendo sobre música e ligados em bandas e rock and roll na mesma época, o que compensava a diferença de idade.”

Frampton passou por vários outros grupos, entre eles The Trubeats, The Preachers –que foram produzidos e empresariados pelo baixista dos Rolling Stones, Bill Wyman– e, quanto tinha 16 anos, The Herd. Esta última emplacou alguns sucessos no Reino Unido e a revista adolescente “Rave” nomeou Frampton “O Rosto de 1968”. No ano seguinte ele se uniu a Steve Marriott, dos Small Faces, em uma nova banda de hard rock, chamada Humble Pie.

Foi muita atividade em um período curto, mas Frampton diz que naquela época ele não via a música como uma atividade para toda a vida. “Eu nunca pensei a respeito. Eu me recordo de que assistíamos Muddy Waters e John Lee Hooker e todos aqueles caras do blues no (programa da TV britânica) ‘Ready, Steady, Go’, tocando ‘Dimples’ (1956) e coisas assim, e eles pareciam ancestrais. Há essa percepção de que música é coisa de jovens. Você não pensa que é algo que ainda estará fazendo quanto tiver 60 anos, ou 50, 40 ou mesmo 30. Não parecia possível, sabe como é?”.

Superastro
Frampton, que também tocou no célebre “All Things Must Pass” (1970) de George Harrison, permaneceu no Humble Pie até 1971, quando lançou uma carreira solo. “Frampton Comes Alive!” o transformou em superastro –um papel inesperado que, combinado com o uso liberal de drogas e álcool, o levou a algumas decisões que arruinaram sua credibilidade– posando sem camisa para a capa da revista “Rolling Stone”, estrelando na pouco recomendada adaptação cinematográfica de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1978) dos Beatles e dando uma guinada decididamente pop em “I’m in You”.

“Não havia livro de regras para essas coisas. Todo mundo ao meu redor estava apenas entusiasmado em manter o sucesso, a ponto de fazer você quase se sentir... desesperado. Eu dava ouvido a muito do que os outros tinham a dizer e tinha medo de dizer não para as coisas, mesmo quando não pareciam acertadas.”

O declínio comercial de Frampton foi rápido, mas ele reconstruiu sua reputação artística se concentrando em sua guitarra, incluindo uma passagem pela banda de Bowie em “Never Let Me Down” (1987) e participando da turnê “Glass Spider”, uma reunião em 1991 com Marriott e turnês com os Rhythm Kings de Bill Wyman e com a All-Starr Band de Ringo Starr. Ele também continuou lançando álbuns solo e o sucesso de “Fingerprints”, seu primeiro trabalho totalmente instrumental, o permitiu ser novamente apreciado basicamente por sua música.

“Não foi realmente uma reinvenção, foi mais uma reeducação, ou uma educação, quanto muito”, diz Frampton, que mora em Ohio com sua terceira esposa, Tina –a filha deles é a atriz Mia Frampton, estrela do seriado “Make It or Break It” do “ABC Family Channel”. “As massas que compraram ‘Frampton Comes Alive!’, a maioria pensou que era meu primeiro álbum. Elas não tinham conhecimento da minha carreira anterior e eu certamente perdi a maioria dessas pessoas pouco depois disso.”

“De forma que (‘Fingerprints’) foi um álbum muito diferente de Peter Frampton e que não tinha nada a ver com ‘Frampton Comes Alive!’, o que é algo maravilhoso de poder dizer. Receber o Grammy por, na prática, minha musicalidade e o modo como toco guitarra –e não, digamos, pela imagem de Frampton– foi algo realmente espetacular para mim.”

Peter Frampton - "I'm In You"

Agradecimento a Churchill
Apesar de ter sido discutido um segundo volume de “Fingerprints” como próximo passo, Frampton optou por retornar à música cantada. Ele trabalhou em “Thank You Mr. Churchill” basicamente em Cincinnati, compondo com seu velho colaborador Gordon Kennedy e co-produzindo com Chris Kimsey, que foi o engenheiro do primeiro álbum solo de Frampton, “Wind of Change” (1972), que Frampton reencontrou via Facebook.

Entre os músicos convidados estão o baterista do Pearl Jam, Matt Cameron, que Frampton conheceu quando atuou como consultor para o filme “Quase Famosos” (2000), membros dos Funk Brothers da Motown na faixa “Invisible Man” e seu próprio filho, Julian, em “Road to the Sun (with Smoking Gun)”.

A força motriz do álbum, diz Frampton, foi a natureza pessoal, autobiográfica, das letras, incluindo a faixa título –em que agradece ao primeiro-ministro da Inglaterra dos tempos de guerra, Winston Churchill, pela liderança que trouxe o pai de Frampton de volta para casa em segurança da Segunda Guerra Mundial --e a adição no final de “Vaudeville Nanna and the Banjolele”, que recorda sua introdução à música. “Black Ice” e “I’m Due a You” tratam de sua luta para recuperar e manter a sobriedade.

O guitarrista se afasta de si mesmo em canções como “Restraint”, que comenta os recentes resgates a Wall Street, e o rock pesado “Asleep at the Wheel”, que foi inspirada pelo sequestro da adolescente japonesa Megumi Yokota por agentes norte-coreanos, no final dos anos 70.

Ultimamente Frampton tem sido incomumente prolífico, o que ele atribui a vários fatores. “É a idade avançada”, ele diz rindo. “Certamente isso tem tido um grande papel, assim como meus oito anos de sobriedade. Essas duas coisas, eu acho... eu me sinto mais velho, com a sabedoria que adquiri ao longo do caminho, eu espero, mas ainda com a mesma mentalidade que tinha aos 18 anos no Humble Pie, querendo tocar e me tornar mais prolífico".

“Eu acho que há uma corrida para ser mais prolífico. Não que eu esteja dizendo: ‘Oh, Deus, é melhor eu compor mais canções, eu não tenho muito tempo’. Não é isso. É que me sinto bem no ponto em que estou no momento e, dentro deste negócio maluco que está virado de cabeça para baixo, por ainda poder fazer isso e pessoas ainda quererem me ouvir e nos assistir".

Frampton planeja dar às pessoas essa oportunidade com uma turnê de divulgação de “Thank You Mr. Churchill”. Ele planeja shows ao lado de colegas como Yes e Steve Miller Band, além de estar considerando um retorno à Europa e outros territórios fora dos Estados Unidos. “Já era hora. Nós permanecemos na América do Norte nos últimos anos e agora é hora de sair. Eu estou pronto para levar este álbum para um novo palco, ao redor do mundo".

Enquanto isso, ele está pensando em seu próximo trabalho em estúdio. “Sinto que algo como as complexidades da música ‘Restraint’ estão sinalizando um caminho diferente para mim. Qguardo ansiosamente para me envolver ainda mais nisso, elaborando alguns riffs e tudo mais. Eu escuto muita música diferente e me inspiro por todo tipo de coisa, assim como às vezes gosto do silêncio e de não ter nada, podendo ir ao piano ou ao violão e começar algo do zero. Não há regras. Eu apenas lido com as coisas da forma como aparecem e tudo isso tem sido de muita ajuda para mim".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.
 

Tradutor: George El Khouri Andolfato