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"Quero fazer mais do que gravar, quero ser um entertainer", diz Justin Bieber; leia entrevista

O cantor canadense Justin Bieber em foto de divulgação - Divulgação
O cantor canadense Justin Bieber em foto de divulgação Imagem: Divulgação

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

24/05/2010 10h33

Justin Bieber não tem muito o que dizer –pelo menos não para adultos em entrevistas.

Respostas rápidas, diretas, de uma sentença, bastam para o garoto de 16 anos, um membro entusiasta da geração Twitter que é tão presente na rede social de Internet que, sempre que passam mais de 12 horas sem um tweet, corre o rumor de que ele morreu.

Por outro lado, Bieber não tem muito o que dizer. Os números falam por ele. O adolescente canadense foi uma das maiores sensações da música pop em 2009 e as coisas não mudaram neste ano. Seu primeiro single, “One Time”, saiu em maio de 2009 e chegou ao Top 30 de mais de 10 países, chegando ao 17º lugar na parada Billboard Hot 100. Seu vídeo foi assistido pela internet mais de 100 milhões de vezes durante os primeiros seis meses de lançamento. Bieber se tornou o primeiro artista solo a contar com quatro singles Top 40 antes mesmo do lançamento de seu primeiro álbum –neste caso um EP, “My World”, que em novembro estreou no 6º lugar na parada Billboard 200. De lá para cá o álbum já recebeu disco de platina e todas as suas sete canções chegaram às paradas, totalizando mais de 3,3 milhões de faixas individuais vendidas.

Isso estabeleceu uma base sólida para o primeiro álbum pleno de Bieber, “My World 2.0”, uma mistura de pop com sabor de rhythm and blues que em março estreou no 1º lugar em cinco países, incluindo os Estados Unidos e o Canadá.

Mas os números de vendas contam apenas parte da história. A Biebermania se tornou um fenômeno mundial, provocando tumultos até na Austrália, onde o cantor teve que cancelar uma apresentação na televisão porque o público era ruidoso demais. Bieber está se aproximando de 3 milhões de fãs no Facebook e 2 milhões de seguidores no Twitter, muitos deles travando batalhas com os fãs dos Jonas Brothers sobre qual das atrações é maior e melhor, e seu canal no YouTube já foi assistido quase 170 milhões de vezes. Ele foi o convidado especial do jantar anual da Associação dos Correspondentes da Casa Branca e o convidado musical do programa “Saturday Night Live”.

Logo, não causa surpresa quando Bieber diz se sentir ótimo a respeito de sua carreira ainda nova. “Esta é uma oportunidade única na vida”, ele diz, falando por telefone de Los Angeles. “Tudo está transcorrendo de modo excelente, apenas viajando pelo mundo, podendo conhecer novas pessoas e desfrutando cada minuto disso. Eu fico surpreso ao ver que tantas pessoas estão gostando de ouvir minha música, mas é ótimo.”

Justin Bieber - "Baby"

Música em primeiro lugar
Ainda mais impressionante é o fato de Bieber fazer sucesso sem o benefício da exposição excessiva na mídia. Ele não veio do mundo do “American Idol”, nem conta com o império Disney lhe dando apoio, como os Jonas Brothers ou Miley Cyrus.

“Nós lançamos artistas do modo tradicional”, diz Antonio “L.A.” Reid, presidente-executivo da gravadora de Bieber, a Island Def Jam. “Frequentemente, apesar desses garotos serem muito talentosos, nós pensamos neles primeiro como astros de TV, com a música ficando em segundo lugar. Com Justin a música vem em primeiro lugar.”

Esse amor de Bieber pela música veio de sua mãe, a webdesigner Pattie Mallette, que o criou em Stratford, Ontario, como mãe solteira. Uma cristã devota que trabalhava em dois empregos, Mallette apresentou seu filho à música e à igreja, onde ele começou tocando bateria aos 2 anos.

“Minha mãe sempre amou a música e sempre me encorajou”, lembra Bieber. “Eu cresci ouvindo muito Boyz II Men e Michael Jackson, um pouco de Tracy Chapman... Eu acho que eles definitivamente me inspiraram a me tornar o artista que sou, o estilo que canto e tudo mais. Era algo que sempre esteve em mim.”

Bieber também mantém um relacionamento com seu pai, Jeremy Bieber, que o apresentou ao rock clássico.

Ele então começou a tocar piano e guitarra, lembrando que os amigos de sua mãe o ensinaram a tocar “Smoke on the Water” (1972) do Deep Purple e seu pai ensinou “Knockin’ on Heaven’s Door” (1973) de Bob Dylan e “Give a Little Bit” (1977) do Supertramp. Na adolescência ele passou a se apresentar na rua, diante do Avon Theatre de Stratford, tocando canções de Lifehouse, Edwin McCain, Justin Timberlake e Usher para ganhar dinheiro para poder jogar golfe em um campo próximo.

Sucesso na internet
Quando tinha 12 anos, Bieber ficou em segundo lugar em um concurso local de talentos, mas se tornou uma sensação viral quando sua mãe postou sua interpretação de “So Sick”, de Ne-Yo, no YouTube para parentes e amigos. Quando outras pessoas começaram a responder, ela continuou postando novos clipes –“A coisa foi ficando cada vez maior”, lembra Bieber– e no final ele começou a adicionar suas próprias canções.

“Eu não me lembro da primeira canção que compus, mas eu sabia que, para ser um artista de verdade, compor é algo que você precisa fazer, para expressar quem você é como pessoa. Eu estou apenas tentando transmitir que sou jovem e estou me divertindo por ser adolescente e gostar de garotas diferentes, e coisas que sei com que as pessoas vão se identificar.”

Scott “Scooter” Braun, um empresário de Atlanta que trabalhava como diretor de marketing da So So Def Recordings de Jermaine Dupri, tropeçou por acaso no trabalho de Bieber no YouTube e ficou particularmente impressionado com a versão do jovem para o clássico “Respect” (1967), de Aretha Franklin. Ele conseguiu convencer Mallette não apenas a deixá-lo empresariar Bieber, mas também que se mudasse para Atlanta –que, acrescentou Bieber, foi a primeira viagem de avião feita por ele e sua mãe.

Eles começaram a desenvolver material original para Bieber e apresentá-lo para as gravadores, o que levou a uma guerra de propostas entre Usher e Timberlake, com o primeiro vencendo e conseguindo que Bieber fosse contratado pelo Raymond Braun Music Group, um joint venture formado especialmente entre ele e Braun, em 2008.

Justin Bieber - "One Time"

Seu primeiro encontro com Usher, um artista que ele reverenciava na infância, ainda parece impressionar Bieber.

“Foi incrível”, lembra o jovem cantor e compositor. “Eu adorei poder conhecê-lo e ter a chance de me apresentar para ele, dele opinar sobre o que eu estava fazendo. Eu fiquei espantado por ele querer me contratar.”

Esse tipo de sucesso que Bieber conseguiu, especialmente em uma idade tão precoce, é um ímã para ódio, e ele recebeu sua cota. Não que ele se preocupe muito com isso.

“Muita gente diz: ‘Só gostam dele porque é bonitinho’, ou que sou algo artificial ou coisas assim. Mas me parece que há mais pessoas que gostam de mim do que o contrário, então prefiro prestar atenção nelas.”

Ele prefere se preocupar com suas metas criativas.

“‘2.0’ foi feito um pouco depois (de ‘My World’), de forma que eu tinha um pouco mais de experiência, se é que posso dizer isso. Ambos foram legais e divertidos de fazer, mas (‘My World’) foi meu primeiro álbum –eu não tinha muita ideia do que estava fazendo. Mas no segundo álbum eu meio que tinha um pouco mais de noção.”

O primeiro single do álbum, “Baby”, foi composto em parceria com uma equipe que incluiu Tricky Stewart e The-Dream, além da participação de um rap de Ludacris. Ele se tornou seu maior sucesso até o momento. “Nós simplesmente decidimos gravar essa canção chamada ‘Baby’ e elaboramos em cima dela, começando a experimentar conceitos diferentes.”

“U Smile” tem uma intenção mais específica, a de ser uma mensagem para seus fãs.

“O conceito é, basicamente, que quando meus fãs sorriem, isso me faz sorrir. É assim simples.”

Entre esses fãs está o presidente dos Estados Unidos, para quem Bieber já se apresentou duas vezes –ou, mais provavelmente, para suas duas filhas pequenas.

“A coisa mais louca que me aconteceu até o momento foi me apresentar para o presidente. Foi incrível, poder apertar sua mão e saber que ele me convidou para me apresentar para ele, o que foi ótimo.”

Primeira turnê e disco novo
Nos próximos meses ele fará sua primeira turnê como astro principal, e um novo álbum deverá sair antes do fim do ano, seja um álbum de Natal ou algum tipo de junção dos dois álbuns “My World”. Bieber também está começando a pensar em trabalhar como ator.

“Eu sinto que sou um garoto engraçado. Eu gosto de pregar pegadinhas no pessoal da minha equipe, de forma que adoraria fazer uma comédia. Eu quero continuar gravando, mas quero poder fazer mais do que isso. Eu quero ser um entertainer.”

Suas ambições são altas, mas Bieber promete que o sucesso não subirá à cabeça. Ele ainda está fazendo o colegial por meio de professores particulares e cursos online –apesar de ter pouco a dizer de bom sobre a experiência– e está trabalhando com um professor de canto para ajudá-lo a lidar com os efeitos da mudança de voz.

Em outras palavras, o adolescente mundialmente famoso ainda é um adolescente.

“Eu tenho minha mãe e meu pai para me manterem com o pé no chão. Minha mãe geralmente viaja comigo, de forma que ela está presente o tempo todo para cuidar dos meus interesses. Eu nunca estou em casa mas, se estivesse, ela certamente me faria cumprir minhas tarefas de casa. Com certeza.”

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato