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"Estou ocupando um espaço onde sou de fato um artista respeitado", diz Drake sobre carreira de rapper

Drake durante apresentação no BET Awards, no Shrine Auditorium, em Los Angeles (27/06/2010) - Getty Images
Drake durante apresentação no BET Awards, no Shrine Auditorium, em Los Angeles (27/06/2010) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

28/06/2010 19h25

Há cinco anos, Aubrey Drake Graham começou a fazer música como um complemento à sua carreira de ator como o atleta paraplégico Jimmy Brooks nos 138 episódios do drama adolescente canadense "Degrassi: The Next Generation" (2001-2009). Apresentando-se como Drake, o rapper canadense emplacou seis singles no Top 20, sendo que três deles --incluindo "Forever" (2009), com Eminem, Lil Wayne e Kanye West-- atingiram o 1º lugar na parada de rap da Billboard.

O cantor de 23 anos já esteve presente em canções de Mary J. Blige, Jamie Foxx, Jay-Z, Alicia Keys, Trey Songz, Timbaland e Lil Wayne, que contratou Drake para seu selo Young Money Entertainment. As vendas de seu EP "So Far Gone" (2009) estão se aproximando do status de disco de ouro.

Tudo isso antes mesmo de Drake lançar seu primeiro álbum, "Thank Me Later", que saiu em 15 de junho como um dos lançamentos mais aguardados do ano. "Ele ainda não lançou nenhum CD fiasco", disse o rapper T.I. em uma entrevista de rádio, e posteriormente disse à "Rap-Up TV" que "(Drake) tem uma capacidade incrível de fazer coisas que ninguém mais está fazendo".

Drake reconhece seu talento e diz que "às vezes é surreal". "Tem sido ótimo. Conheci pessoas que admiro e terei histórias para contar por muitos anos. Eu queria que gostassem de mim. Ser 'o cara' é difícil. Todo mundo quer comentar sobre você, odiar ou encontrar um motivo para não acreditar. Quando você faz algo ótimo, as pessoas não têm muito o que dizer, mas quando você faz algo negativo, as pessoas mal conseguem esperar para atacar. Fico feliz pelo sucesso que estou tendo e, se permanecer concentrado e fazer minha música, sinto que tudo dará certo".

Espaço próprio na música
A música está no sangue de Drake: seu pai, o músico afro-americano Dennis Graham, tocava bateria para Jerry Lee Lewis, e seus tios são o baixista do Sly & Family Stone, Larry Graham, e o renomado músico de Memphis, Teenie Hodges. Drake nasceu em Toronto e, após o divórcio de seus pais quando ele tinha 5 anos, permaneceu lá com sua mãe, uma professora branca de escola.

Ele foi criado no rico bairro predominantemente judeu de Forest Hill --onde Drake fez seu bar mitzvah-- e começou a atuar no colégio, no Forest Hill Collegiate Institute, apesar de não ter se formado. "Minha mãe sempre jogava palavras cruzadas e me forçava a usar", lembra Drake, sentado em um sofá nos bastidores antes de um show no subúrbio de Detroit. "Ela me deu um tesauro quando eu era pequeno e me fazia pesquisar nele".

Drake não foi um bom aluno, mas a escola deu a ele a oportunidade de entrar em "Degrassi", quando o pai de um colega de classe, que era agente de talentos, percebeu o potencial no engraçadinho da sala. "Nunca tive medo de autoridade, então sempre me manifestei e sempre fui expulso. Costumava dizer coisas espertas, e meu timing sempre fazia com que o garoto da minha classe risse, e acho que ele contou para seu pai. Mas nunca fui de colocar almofadas de peido na cadeira dos outros ou coisas assim".

Seu papel na televisão o colocou no mapa de Hollywood, mas também o estimulou a buscar a música. "Fazer parte de um grande elenco foi ótimo, mas eu não sentia que era meu caminho. Eu tinha esse forte desejo de ser líder e naquele ambiente havia verdadeiros astros no programa, mas eu não era um deles. Nunca consegui ficar sentado ociosamente observando a vida passar, então comecei a meter as caras na cena musical de Toronto e a abrir meu próprio espaço".

Drake - "Over"

Trabalhando com os produtores Boi-1da e D10, Drake chamou a atenção para sua música com duas compilações em cassete --"Room for Improvement" (2006) e "Comeback Season" (2007)-- assim como canções postadas online. "Ninguém em Toronto fazia rap dessa forma", diz Drake. "O fato de haver um gancho fácil nas canções era algo muito diferente. Muita gente dizia: 'ele não soa como canadense, ele soa norte-americano!'".

Sem causar surpresa, Drake começou a fazer incursões ao sul da fronteira. Sua canção "Replacement Girl" (2007), com participação de Trey Songz, transformou Drake no primeiro rapper canadense sem contrato com uma gravadora a ter um vídeo exibido no BET Awards.

O improviso de Drake no remix de "Man of the Year" de Lil Wayne chamou a atenção do rapper de New Orleans, que convidou Drake para participar de sua turnê e os dois começaram a gravar juntos. Até que Drake assinou com a Young Money, de Wayne. "Uma das minhas maiores coisas é a lealdade, e Wayne apareceu lá no início para provar ao mundo que eu era alguém que merecia atenção. Havia tantas gravadoras me oferecendo tantas coisas diferentes, mas eu senti que o certo era ficar com as pessoas com quem comecei".

O atualmente preso Lil Wayne certamente fez sua parte para manter Drake visível, levando o rapper mais jovem em turnê em 2009 e o apresentando em duas faixas da compilação "We Are Young Money" (2009). Mas Drake sofreu um revés quando machucou o joelho no palco em julho passado. "Ficar sentado no apartamento, passando por uma visita diária do médico, comendo de modo saudável e indo à academia, nada disso é tema para um álbum de rap", ele brinca.

Isso lhe deu tempo para definir o que queria fazer em seu disco, enquanto uma versão revisada de "So Far Gone" estreava no 6º lugar da parada Billboard 200 e ele aparecia em "Un-Thinkable (I'm Ready)", do álbum "The Element of Freedom" (2009) de Alicia Keys, que retribuiu o favor cantando em "Fireworks", a primeira faixa de "Thank Me Later”".

"Eu queria proporcionar uma experiência musical às pessoas", diz Drake. "Gosto de abrir a mente dos fãs do meu gênero". Para isso, "Thank Me Later" conta com uma diversidade de convidados, incluindo Swizz Beatz, The-Dream, Jay-Z, Young Jeezy, Nicki Minaj, T.I. e, é claro, Lil Wayne, enquanto Kanye West produziu duas faixas e Timbaland cuidou de outra.

Drake e Timbaland - "Say Something"

Processo de aprendizado
"A música para mim sempre envolveu empolgação e risco. No início você não entende, então as canções vão conquistando você aos poucos. Eu acho que a música deve ser empolgante assim, como um processo de aprendizado. Acho que se as pessoas escutarem sua música e disserem imediatamente 'esta é a melhor canção que já ouvi', algo não está necessariamente certo", pondera.

Por isso, Drake é o primeiro a admitir que não é extremamente experimental. "Não sinto que minha música é arriscada. Acho que dominei o risco de seguir pelo caminho seguro. Eu sempre incluo alguma forma de melodia. Eu entendo o que torna uma canção ótima, mas também sei como torná-la diferente, e tento empregar esses dois dons", conta.

Segundo Drake, correr esses riscos faz com que ninguém questione sua credibilidade. "À medida que passam os dias, cada vez menos eu ouço sobre 'Degrassi' e sobre meu trabalho como ator, e mais sobre o fato de que, musicalmente, eu estou ocupando um espaço onde sou de fato um artista respeitado. Isso me faz crer que algo está certo".

Mas Drake não abandonou sua carreira de ator. Após uma turnê de verão para divulgação de "Thank Me Later", ele planeja fazer "pelo menos um ou dois filmes", mantendo essa peça de seu quebra-cabeça pessoal no lugar, enquanto continua desenvolvendo sua carreira musical. Seu modelo é outro cantor e ator de sucesso, o vencedor do Oscar, Jamie Foxx.

"Um dos meus melhores amigos nesta indústria é Jamie Foxx, logo espero algum dia fazermos um filme juntos. E sou um grande fã de Judd Apatow, um fã de timing humorístico. Eu adoro todos aqueles filmes que eles fazem. É, eu realmente quero voltar a atuar", conclui Drake. "Certamente é algo em que estou interessado e sempre estarei, juntamente com a música".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato