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Sem "dominar" inglês e espanhol, Enrique Iglesias lança CD bilíngue com Akon, Pitbull e Usher

Enrique Iglesias durante show no Heroes Concert, no Twickenham Stadium, em Londres (12/09/2010) - Getty Images
Enrique Iglesias durante show no Heroes Concert, no Twickenham Stadium, em Londres (12/09/2010) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Syndicate

28/09/2010 08h30

Enrique Iglesias fez sucesso cantando tanto em inglês quanto em espanhol, mas as duas línguas nunca se encontraram... até agora. "Euphoria", o novo disco do filho de 35 anos do superastro latino Julio Iglesias, é o primeiro esforço bilíngue em uma carreira de gravações que tiveram início em 1995 e que já vendeu mais de 55 milhões de álbuns.

É um trabalho que ele poderia ter feito há muito tempo, mas Enrique diz que, apesar de sua vontade, as gravadoras não queriam fazê-lo. "É um álbum que, há cinco anos, eu disse que queria fazer. E as gravadoras me disseram que não estavam preparadas. Tinha a ver com a política interna da empresa. Eram dois selos diferentes e era preciso reunir todos em torno da ideia", ele conta.

Foi o que Enrique fez ao preparar "Euphoria", reunindo os chefes de seus dois selos --Universal Republic e Universal Music Latino-- para uma sessão conjunta de audição. "Eu levei os dois ao estúdio, toquei todos os tipos de canções e perguntei: 'o que vocês acham a respeito de fazer este álbum?'". Artisticamente, Enrique achava que isso tornaria o álbum mais eclético. "Faria com que parecesse mais real. Eu não queria separá-lo a esta altura da minha carreira. E isso não significa que, no futuro, não possa fazer um álbum só em inglês ou só em espanhol".

Enrique Iglesias e Pitbull - "I Like It"

O entusiasmo de Enrique prevaleceu, mas com uma concessão: em julho, "Euphoria" foi lançado em duas versões, uma com mais canções em inglês e outra pesando mais para faixas em espanhol. Ele estreou no 10º lugar na parada Billboard 200 e ficou no topo das paradas de álbuns latinos e de álbuns pop latinos. Também chegou ao 1º lugar na Espanha e no México, rapidamente ganhando disco de ouro no segundo, e ficou no Top 10 em nove outros países, o que deixou Enrique eufórico.

"Eu detesto estar preso à ideia de me concentrar em apenas uma [língua] a esta altura da minha carreira", diz o cantor, que nasceu na Espanha, se mudou para Miami quando tinha 8 anos e continua morando lá com sua namorada, a tenista Anna Kournikova. "Alguns dias eu falo mais em espanhol, em outros eu falo mais em inglês. E sempre disse que não falo nenhuma das línguas perfeitamente, porque cresci principalmente em Miami. Nós temos nosso próprio dialeto lá, tipo espanglês. Nós tendemos a misturar ambas as línguas, então nunca consegui dominar nenhuma delas perfeitamente".

Sucesso, Ricky Martin e  o homem mais sexy
Enrique dominou os negócios da família depois de resistir inicialmente a seguir os passos de seu pai. O filho de Julio Iglesias era apenas um menino quando seus pais se divorciaram. Ele e seu irmão mais velho, Julio, foram enviados para Miami para serem criados por uma babá depois do sequestro do avô deles na Espanha. Enrique começou a tocar em bandas quando tinha 17 anos, mas quando se matriculou na Universidade de Miami, não foi para estudar música, e sim administração e negócios.

Enrique Iglesias e Nicole Scherzinger (Pussycat Dolls) - "Heartbeat"

No final, o impulso para cantar predominou. Ele contratou o ex-empresário de seu pai e até mesmo saiu se oferecendo às gravadoras como Enrique Martinez, tentando não explorar seu sobrenome famoso. Mas foi como Enrique Iglesias que ele assinou com o selo independente mexicano Fonovisa. Ele ganhou um Grammy por seu álbum de estreia autointitulado em 1995, que o estabeleceu nas paradas internacionais e o levou a ser rotulado de "Homem Mais Sexy do Mundo" pela edição espanhola da revista "People".

Ele ficou surpreso em como o mercado latino era separado do pop mainstream nos Estados Unidos. "O que realmente me surpreendeu foi a existência de um imenso público de língua espanhola neste país. Ninguém de língua inglesa sabia quem eu era, mas mesmo assim conseguia lotar os shows no Madison Square Garden, Staples Center ou no Miami Arena. O público latino também é muito leal. Quando gosta de você, ele permanece ao seu lado".

Esse público estabelecido transformou Enrique em um artista disputado quando Ricky Martin sacudiu seu traseiro e provocou o interesse dos fãs americanos por música latina. Logo ele se viu alvo de uma batalha que levou a um contrato de US$ 40 milhões para sua estreia em língua inglesa. "Enrique" (1999) ganhou disco de platina e lançou os sucessos "Bailamos", "Rhythm Divine" e "Sad Eyes", um cover de Bruce Springsteen.

"Escape" (2001) ganhou três discos de platina graças ao single "Hero", que após o 11 de Setembro se tornou um dos hinos de cura dos Estados Unidos –algo que lhe causou certo desconforto. "Foi um pouco estranho", reconhece Enrique. "Me incomodou um pouco no início, porque não era esse o significado da canção, mas daí pensei: 'é uma canção de amor, sobre ajudar a pessoa que você ama. É algo completamente lógico em um momento como este'. Pode soar piegas, mas é o tipo de canção que acho que as pessoas querem ouvir em momentos como esse, quando sentem que precisam de amor. É uma canção muito sincera".

Enrique Iglesias & Juan Luis Guerra - "Cuando Me Enamoro"

Parcerias com Akon, Pitbull e Usher
O tom é consideravelmente mais leve em "I Like It", o primeiro single em língua inglesa de "Euphoria". Seu videoclipe até mesmo conta com o elenco do popular reality show "Jersey Shore" da MTV. Enrique e o produtor Red One compuseram a canção há dois anos. "Tenho uma cadeira de massagem, e estava deitado nela quando adormeci. E Red One começou a tocar os primeiros acordes, e ela pareceu muito boa de cara. Nós olhamos um para o outro e dissemos: 'esta canção tem uma energia bacana, vamos levá-la adiante'. O que gosto nela é que não foi pensada demais nem influenciada por ninguém. É apenas uma canção divertida".

Parte da diversão foi incluir uma parte do sucesso de 1983 "All Night Long (All Night)", de Lionel Richie, na canção --e conseguir com que Richie a recriasse na gravação. "É divertido, porque é como dizer a uma lenda para que venha ao estúdio cantar quatro palavras de uma de suas canções mais conhecidas, mas Lionel é muito pé no chão e um cara muito legal. Eu o considero um amigo. E ele foi gentil o bastante para fazê-lo".

"I Like It" não foi a única faixa a contar com um convidado famoso: Akon, Pitbull, Nicole Scherzinger das Pussycat Dolls e Usher participam do lado inglês do projeto, enquanto o lado latino foi reforçado por Juan Luis Guerra, o astro dominicano que colaborou com Enrique em "Cuando Me Enamoro", que se transformou no 21º primeiro lugar do cantor na parada de canções latinas da Billboard. "Ele era a única pessoa que eu não conhecia pessoalmente. Ele fez um dos primeiros grandes shows latinos que assisti e é um dos meus compositores favoritos de todos os tempos".

Enrique conta que ficou nervoso ao trabalhar com Guerra. "Eu lhe disse: 'olha, eu adoraria colaborar com você', e a primeira coisa que ele disse foi 'eu tenho que ouvir a canção', algo que respeito. Então enviei a música para ele e ele me fez esperar por algumas semanas. Fiquei muito nervoso, porque eu não sabia como ele iria reagir. E então ele disse sim e gravou todos os vocais na República Dominicana. Eu não sabia o que esperar, mas assim que recebi a canção de volta, ela me causou arrepios. Eu pensei imediatamente: 'minha nossa, isto é realmente algo especial'".

Enrique espera fazer a turnê de divulgação de "Euphoria", que ele diz finalmente apresentá-lo como um artista completo, em vez de um dividido entre seus públicos latino e de língua inglesa. "É ótimo lançá-lo e dizer: 'isto é o que andei fazendo. É esta que tem sido a minha vida'. Foi divertido combinar inglês e espanhol e as pessoas que vêm de origens musicais completamente diferentes. Para mim, isso é o que torna o álbum empolgante e interessante, que faz cada canção soar como um mundo diferente. É exatamente o que eu precisava fazer agora", conclui Enrique.

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato