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"Adoraria pensar que redefini o termo 'garota festeira'", diz Ke$ha sobre sua carreira

Ke$ha durante apresentação no Bud Light Hotel em Dallas, no Texas (05/02/2011) - Getty Images
Ke$ha durante apresentação no Bud Light Hotel em Dallas, no Texas (05/02/2011) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

10/03/2011 07h00

A capa da edição de fim de ano da revista norte-americana "Billboard" diz tudo sobre o ano de 2010 para Ke$ha, sem contar as excelentes perspectivas para a cantora pop em 2011. Na capa, ela aparece com um casaco de pele, usando uma coroa e com um sorriso largo, enquanto segura uma garrafa de champanhe. Quem pode culpá-la por celebrar?
 
No ano passado, Ke$ha vendeu mais de 2 milhões de cópias de seu álbum de estreia, "Animal", que ficou no topo das paradas, e o EP seguinte, "Cannibal". Seu primeiro single, "Tik Tok", ficou em 1º lugar em 11 países. Além disso, mais quatro sucessos Top 10 ("Blah Blah Blah", "Your Love Is My Drug", "Take It Off" e "We R Who We R", que também chegou ao 1º lugar) a transformaram na Principal Artista Revelação e Artista Hot 100 do Ano da "Billboard", ficando à frente de Justin Bieber, Lady Gaga e Katy Perry.
 

Ke$ha - "Tik Tok"

Quanto a 2011, ele levará Ke$ha para sua primeira turnê como atração principal, a "Get $leazy Tour". "Não acho que alguém seja capaz de se preparar para o tipo de insanidade que foi o ano passado", diz a cantora de 23 anos, que nasceu Kesha Rose Sebert, em Los Angeles, e foi criada principalmente em Nashville. "Eu me sinto incrivelmente felizarda. Em todos os aspectos foi insano, dos shows e fãs até minhas experiências e desenvolvimento como artista, compositora e pessoa".
 
Ela não parou para perceber o impacto pleno de seu pop dançante até 7 de novembro, quando foi nomeada Melhor Artista Revelação pelo MTV Europe Music Awards e disse aos fãs: "Espero que possa inspirar vocês a mostrar o dedo aos cínicos e ser vocês mesmos". "Aquele foi um prêmio votado pelos fãs, o que me fez perceber que todas minhas gravações e os anos que passei compondo, morando no meu carro, o abandono da escola, toda experiência e o sono perdido valeram a pena, porque percebi que conto com o apoio de meus fãs".
 
Jovem, sem dinheiro e irrelevante
O sucesso rápido de Ke$ha pode ter surpreendido alguns observadores mais do que deveria. A música está no seu DNA: sua mãe, Pebe Sebert, era cantora e compositora, e criou Ke$ha e os dois irmãos como uma mãe solteira vivendo do bem-estar social. Um músico e engenheiro de Los Angeles chamado Bob Chamberlain alega ser o pai biológico de Ke$ha e é uma presença ativa na vida dela desde que ela tinha 19 anos. Mas após uma conversa com a revista "Star", Ke$ha escreveu no Twitter que "eu ainda não sei quem é o meu pai", e desde então tem mantido essa história.
 
A família se mudou para Nashville quando Ke$ha tinha 4 anos. Lá sua mãe fechou um novo contrato editorial e também ensinou Ke$ha e tocar violão e compor canções. "Cresci escutando todo tipo de música", diz ela, que começou compondo canções pop, country e com toque de rap. "A música é mágica. Você pode mudar o humor de uma pessoa em três minutos e meio. E apresentar uma canção que as pessoas gostam em um ambiente com 2 mil pessoas, que estão lá apenas para ver você, é melhor do que sexo. É o sentimento mais intenso que existe, tenho certeza. É eufórico".
 
Mas demorou um pouco para Ke$ha chegar a esse ponto. Na escola ela tinha mentalidade totalmente acadêmica e esteve matriculada para fazer parte do programa internacional Baccalaureate. Mas a família Sebert teve um contato com a fama ao receber Paris Hilton e Nicole Richie em um episódio de 2005 da série delas de reality TV, "The Simple Life", que colocou Ke$ha em destaque. Ela enviou algumas fitas demo e, encorajada por alguns produtores que as ouviram, se mudou para Los Angeles.
 

A música é mágica. Você pode mudar o humor de uma pessoa em três minutos e meio. E apresentar uma canção que as pessoas gostam em um ambiente com 2 mil pessoas, que estão lá apenas para ver você, é melhor do que sexo

Ke$ha
O trabalho inicial dela foi nos bastidores, como cantora de apoio no single "Nothing In This World" (2006) de Paris Hilton, "Lace and Leather" (2008) de Britney Spears e em "Right Round" (2009) de Flo Rida, aparecendo no vídeo de "I Kissed a Girl" (2008) de Perry e compondo em parceria com The Veronicas e outros. Esse período também incluiu um "lado sombrio", incluindo morar no carro e "roubar legumes enlatados de uma loja". Ainda assim havia um raio de esperança mesmo nessas experiências. 
 
"Eu era jovem, sem dinheiro e irrelevante", diz a cantora, que atualmente está envolvida em um processo de US$ 14 milhões com a empresa que administrava sua carreira, a DAS Communications, que alega que ela encerrou prematuramente seu contrato antes de assinar seu contrato atual com a RCA Records. "Passei quatro anos em um período que talvez não tenha sido financeiramente estável como outros, e acho que isso realmente me ajudou a crescer e desenvolver meu estilo musical, além de me dar um ponto de vista interessante sobre a vida. E me ajudou a compor um álbum muito coeso que falava sobre um estilo de vida".
 
Esse estilo de vida, ela diz, envolve não permitir que nada fique entre você e se sentir bem. "Nem mesmo dinheiro", diz Kesha. "Eu acho que é um tema comum na minha música. Dinheiro deve determinar sua felicidade. Você não precisa dirigir um carro bacana ou vestir uma roupa de grife. Você pode se divertir ficando em casa sem fazer nada ao lado de pessoas bacanas. Isso é relevante para a sociedade agora, porque estamos obviamente passando por uma recessão, então acho que as pessoas se relacionam com as canções. Não acho que esse seria meu ponto de vista se não tivesse vivido sem dinheiro em Los Angeles como aconteceu".
 

Ke$ha - "Your Love Is My Drug"

Redefinindo o termo "garota festeira"
Ke$ha também cultivou uma imagem de garota festeira barata, empregando conceitos visuais ousados e ocasionalmente controversos, não diferente dos de Lady Gaga e da antecessora de ambas, Madonna. Mas o toque de Kesha é mais discreto, uma postura gentil voltada mais para divertir do que para chocar. "Eu festejo, mas não sou irresponsável. Não fico bêbada e não sou uma vadia. Você me apresenta qualquer situação e vou tentar ser criativa e me divertir com ela. Eu escolho sempre tentar me divertir. Adoraria pensar que redefini o termo 'garota festeira', porque não acho que é necessariamente uma coisa negativa".
 
Ela diz que sua intenção era a de que "Cannibal", que estreou em novembro no 15º lugar na parada Billboard 200, fosse "uma boa companhia para 'Animal', um pouco mais sombrio em alguns pontos e mais vulnerável e trágico", particularmente nas faixas mais melódicas como "The Harold Song" e "C U Next Tuesday". Ela está particularmente orgulhosa de "Sleazy", que conta com a participação de Andre 3000 do Outkast, que ela considera "um dos músicos e letristas favoritos de todos os tempos".
 
Ke$ha estava fazendo uma experiência quando fez o rap em "Tik Tok", ela diz, mas agora se sente à vontade nesse estilo musical. "Eu sempre pude cantar, mas conheci [o produtor] Dr. Luke e ele realmente começou a explorar diferentes gêneros de música comigo. Começamos a brincar com rap e funcionou, então demos continuidade nisso. É como um antigo sonho meu. E agora me sinto afortunada por poder fazer rap em meu álbum e o resultado ter sido tão bom a ponto de meu rapper favorito estar no álbum comigo".
 
A turnê "Get $leazy", que a manterá na estrada durante grande parte de 2011, será "uma festa dançante ridiculamente divertida", promete Ke$ha, mas também "mostrará às pessoas mais alguns aspectos da minha musicalidade e personalidade que você pode não estar esperando. Eu toco muitos instrumentos e posso dançar e realmente cantar. Eu farei tudo isso e, ao mesmo tempo, cobrir todo mundo de glitter".
 
Ela também espera passar uma mensagem positiva. "Eu quero que as pessoas se sintam como se estivessem em uma festa na minha casa e que possam ser a versão mais crua e visceral de si mesmas sem serem julgadas. Eu quero que meu show seja um lugar onde você possa vir, se vestir de modo maníaco, assumir seu estado mental e ser totalmente legal".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan