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Em tom retrospectivo, Foo Fighters lança álbum gravado em fita analógica e encara o passado em documentário

Os integrantes do Foo Fighters durante gravação do programa "Hoppus On Music", em Nova York (12/04/2011) - Getty Images
Os integrantes do Foo Fighters durante gravação do programa "Hoppus On Music", em Nova York (12/04/2011) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

26/04/2011 07h00

Ao final do novo documentário "Back and Forth" sobre os Foo Fighters, o fundador da banda, Dave Grohl, revela seu maior arrependimento a respeito do grupo. "Honestamente, se eu tivesse levado minha carreira a sério, teria batizado a banda com outro nome", diz Grohl, "porque é o pior nome de banda do mundo", ele completa sobre a gíria originada durante a Segunda Guerra Mundial para denominar objetos voadores não-identificados.
 
Tarde demais. Grohl e seus companheiros dos Foo Fighters estão presos ao nome após 16 anos, sete álbuns de estúdio, 9,5 milhões de discos vendidos e seis prêmios Grammy. O sucesso da banda foi, de fato, a inspiração para o novo álbum, "Wasting Light", o primeiro em quatro anos. "Após tocar para 85 mil pessoas em um estádio, a gente pensava: 'o que faremos agora?'", lembra Grohl, de 42 anos. "Vamos gravar um grande álbum de rock em uma garagem!", ele mesmo responde.
 
Grohl está sentando com seus companheiros de banda no pátio de um parque bucólico em Austin, no Texas, um dia após a pré-estreia de "Back and Forth" no festival South by Southwest. Naquela mesma noite, os Foo Fighters fariam uma apresentação ao vivo, tocando na íntegra "Wasting Light" --que foi mesmo gravado na garagem da casa de Grohl em Encino, na Califórnia. "Mas é uma garagem bem limpa, ligada a uma mansão", ressalta o baterista Taylor Hawkins.
 
Grohl --que iniciou os Foo Fighters como um projeto de um homem só, em 1994, após o fim Nirvana-- sorri levemente encabulado. "Sim, fica em uma mansão", ele reconhece. "Mas ainda é apenas uma garagem. Fizemos algumas gravações no outro estúdio que temos, onde outras bandas gravam. Mas a garagem parecia ser o local certo para fazer este álbum que, para mim, trata mais de uma experiência".
 

Um disco com personalidade e imperfeição
Após dois anos trabalhando fora do grupo, Grohl [que lançou uma nova banda, Them Crooked Vultures, com John Paul Jones do Led Zeppelin e Josh Homme do Queens of the Stone Age] reuniu os Foo Fighters para gravar "Wasting Light" com Butch Vig, que também produziu "Nevermind" (1991), o álbum que projetou o Nirvana. O disco foi gravado em fita analógica em vez de computadores digitais e tem participações do ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic, e de Bob Mould, um herói de Grohl desde seus tempos de Hüsker Du e Sugar.
 
"Eu não penso na gravação do álbum como um processo estéril no estúdio. Penso nos dois ou três meses em que vivemos todos juntos e trabalhamos todo dia, e meus filhos estavam lá e fizeram amizade com a banda. Foi algo mais do que o típico processo de gravação de um álbum. E essa era a intenção, fazer de uma forma como nunca fizemos. Seria especial e teria caráter", ele conta.
 
A tecnologia à moda antiga acentuou o rock cru e poderoso que é a marca dos Foo Fighters desde as primeiras demos de Grohl, em meados dos anos 90. "Gravar em equipamento analógico, de 24 pistas, dá mais personalidade e imperfeição", diz Grohl. "Com a gravação digital você tem a opção de fazer as coisas mais perfeitas e pode manipulá-las, e às vezes você tira o elemento humano delas. Com a fita, assim que você aperta o botão 'gravar', é o que é. Há um limite para o que você pode fazer para corrigir as coisas e fazê-las soar melhor".
 
Grohl conta que a banda ensaiou as canções do disco no estúdio para assegurar que estavam prontos para gravar assim que chegassem à garagem. "E acho que toda aquela preparação fez com que soasse como cinco pessoas com instrumentos e canções, em vez de uma imensa ambientação sônica. De uma forma estranha, talvez subconsciente, pareceu mais seguro voltar à forma como se faziam antigamente", completa Hawkins. "Há certa segurança e conforto nisso, tira você desse lance de estádio e você volta a ser apenas uma banda de rock and roll".
 

Trailer de "Back And Forth" (em inglês)

Preparado para encarar o passado
As sessões de "Wasting Light" foram registradas em "Back and Forth" pelo documentarista James Moll, um fã que nunca havia visto os Foo Fighters tocarem ao vivo antes de assinar o contrato para o projeto. A experiência em estúdio foi "um das vantagens de fazer este filme", diz Moll, mas ele foi cuidadoso em tentar não atrapalhar, usando equipamento remoto e apenas um cameraman presente quando os Foo Fighters estavam trabalhando.
 
Ele vê o uso de fita analógica como um reflexo do tom retrospectivo que caracteriza tanto o filme quanto o álbum. "Segue a linha de um dos temas que tratamos no filme", diz Moll, "que é o Nirvana e o fato de Dave estar agora, eu acredito, mais aberto a falar sobre suas experiências no Nirvana como nunca esteve antes. E convidar Krist Novoselic para tocar no álbum e fazer as coisas à moda antiga fechou um círculo. Tudo faz sentido".
 
"Back and Forth" começa com o suicídio de Kurt Cobain e o fim do Nirvana. Tanto Grohl quanto o guitarrista Pat Smear, um ex-integrante do Nirvana que está tocando novamente no Foo Fighters, falam sobre a banda anterior com uma maior profundidade. "Não é algo sobre o que você deseja falar o dia todo, todo dia", diz Grohl. "Mas, neste caso, James estava lá por um motivo e ele faz você se sentir seguro para confessar coisas que nunca tinha encarado".
 
O fim do Nirvana "é realmente onde começa os Foo Fighters", diz Moll. "Ela foi a maior banda de rock do mundo, ele foi o baterista, a banda tem um fim trágico e agora ele está em uma encruzilhada: 'o que vou fazer da minha vida?' Se você fosse escrever isso como um roteiro de um filme, se fosse ficção, é onde você começaria", ele fala.
 
Smear também teve dificuldade em ressuscitar as lembranças do Nirvana, acrescenta o diretor. "Quando ele viu o filme depois, me disse: 'eu não percebi que tinha dito essas coisas'. Mas estou feliz por ele ter dito. Ele foi uma testemunha muito próxima das coisas que aconteceram com Kurt Cobain e com o Nirvana, e isso realmente soma à história que estamos contando", diz Moll.
 
Moll também entrevistou os ex-Foo Fighters William Goldsmith e Franz Stahl sobre a saída acrimoniosa deles da banda, e falou com os atuais músicos --Grohl, Hawkins, Smear, o baixista Nate Mendel e o guitarrista Chris Shiflett-- separadamente, para que ninguém soubesse o que os outros disseram até assistirem ao filme.
 
Ele insiste que os integrantes da banda nunca tentaram controlar ou manipular o conteúdo do filme. "Eles queriam que eu fizesse o filme como eu quisesse", diz Moll. "Dave até mesmo me disse: 'sim, esta pode ser a nossa história, mas o filme é seu'. E, francamente, eu não teria feito se tivessem me dito que algo estava fora dos limites. Então não seria honesto".
  
Com o lançamento de "Wasting Light", os Foo Fighters estão retornando à estrada, começando com uma verdadeira turnê de "garagem" para os vencedores de um concurso, mas prosseguindo em uma turnê padrão que colocará a banda de volta às arenas e estádios de todo o mundo. Todavia, diz Grohl, ele mal pode esperar para sair e fazer shows, deixando o drama de fazer um filme e um álbum no espelho retrovisor dos Foo Fighters.
 
"Isso nos tomou dois anos, e me assusta", diz o cantor. "Mas nós tentamos manter as coisas simples e fazer o máximo que pudermos sem nos desgastarmos. E, caso chegue ao ponto de não conseguirmos mais apreciar, sabemos que temos que quebrar o vidro 'em caso de emergência', parar e retomar mais tarde. Acho que é isso o que nos manteve na ativa por tanto tempo", conclui Grohl.
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato