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Baterista do Red Hot Chili Peppers relembra 29 anos de banda e diz que novo CD está a caminho

Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot Chili Peppers, canta durante show da banda norte-americana em Santiago, Chile. O grupo está em turnê do disco "I"m with you" (17/9/2011) - Felipe Trueba/EFE
Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot Chili Peppers, canta durante show da banda norte-americana em Santiago, Chile. O grupo está em turnê do disco "I'm with you" (17/9/2011) Imagem: Felipe Trueba/EFE

Gary Graff

The New York Times Sindycate

01/05/2012 06h00

Em 1988, quando Chad Smith chegou para fazer um teste para entrar no Red Hot Chili Peppers, uma coisa chamou sua atenção. "Eu me lembro de ter pensado: 'Esses caras são baixinhos'", lembra o baterista rindo. "Eu olhava para as capas dos discos deles e pensava: 'Esses caras vão ser uma tremenda banda de sucesso'. E então eu entrei lá e eles eram baixinhos, e eu muito mais alto que eles. Foi um pouco estranho".
 
Durante os 29 anos desde que o primeiro disco deles foi lançado, os Red Hot Chili Peppers venderam mais de 80 milhões de álbuns em todo o mundo e ganharam sete prêmios Grammy. Entre seus sucessos de rádio estão hinos como "Under the Bridge" (1991), "Give It Away" (1991), "Otherside" (2000), "Californication" (2000), "By the Way" (2002) e mais. A mistura de funk, punk, hip-hop e rock melódico forneceu um modelo criativo aberto para as gerações subsequentes de bandas.
 
Nem o grupo --que atualmente conta com os cofundadores Anthony Kiedis no vocal e Flea no baixo, além do guitarrista Josh Klinghoffer-- está descansando em seus louros. Mesmo ao entrarem para Hall da Fama do Rock and Roll como parte da turma de 2012, os Chili Peppers estão na estrada promovendo seu 10º álbum de estúdio, "I'm With You", que estreou em agosto do ano passado no 2º lugar da parada Billboard.
 
"É emocionante, cara", diz Smith, de 50 anos, falando por telefone de seu apartamento em Nova York. "Se você chegasse para mim e dissesse: 'Ei, você vai se mudar para a Califórnia, entrar para os Chili Peppers, vender milhões de discos, viajar por todo o mundo, e 25 anos depois vai entrar para o Hall da Fama do Rock and Roll', eu diria: 'Você tá totalmente chapado!'. E aqui estamos".


Nos últimos álbuns, em 'Stadium Arcadium' e certamente em 'By the Way', Flea e John (Frusciante) sempre disputavam quem era a força criativa da banda. É o que acontece quando você tem personalidades muito fortes e pessoas muito criativas, mas somos uma banda bastante democrática e sempre foi assim

Chad Smith


Sucesso com drama
A aventura dos Chili Peppers começou no início dos anos 1980, quando Kiedis, Flea, o guitarrista Hillel Slovak e o baterista Jack Irons, que eram amigos na Fairfax High School de Los Angeles, começaram a tocar juntos como Tony Flow and the Miraculous Mates of Mayhem. O guitarrista Jack Sherman e o baterista Cliff Martinez entraram na banda para o autointitulado primeiro álbum dos Chili Peppers, em 1984, mas "Freaky Styley" (1985) trouxe Slovak, enquanto Irons chegou para gravar "The Uplift Mofo Party Plan" (1987).

O grupo recebia bastante atenção da imprensa, lembra Smith, mas apenas como um "tipo de banda underground universitária. Ela não era a 'Grande Banda de Rock'". O sucesso da banda quase deixou de acontecer. Slovak, na época com 26 anos, morreu de overdose de heroína em 1988. Um Irons pesaroso deixou o grupo, mas Kiedis e Flea decidiram seguir em frente, recrutando Smith e o guitarrista John Frusciante, na época com apenas 18 anos, para substituírem Irons e Slovak.
 
As mudanças deram ótimos frutos. "Mother's Milk" (1989), o primeiro álbum da nova formação, recebeu disco de platina e vendeu mais de 2,6 milhões de cópias em todo o mundo. "Blood Sugar Sex Magik" (1991) recebeu sete discos de platina, com 15,2 milhões de cópias vendidas mundialmente, dando início a uma série de álbuns multiplatinados que incluem "One Hot Minute" (1995), "Californication" (1999), "By the Way" (2002) e "Stadium Arcadium" (2006).
 
Mas o sucesso não veio sem drama, devido a questões de saúde, problemas de abuso de substâncias e, mais notadamente, a saída de Frusciante em duas ocasiões separadas, mais recentemente em 2009. Felizmente, diz Smith, "Klinghoffer já estava na órbita dos Chili Peppers", tendo tocado em alguns dos álbuns solo de Frusciante e feito turnê com o grupo como músico de apoio. "Quando pensamos em quem chamar para tocar guitarra foi algo como: 'Que tal esse cara? Nós já namoramos, não é? Então vamos nos casar'", lembra Smith rindo.
 
As sessões de "I'm With You", as primeiras de Klinghoffer com a banda, foram algumas das mais tranquilas que os Chili Peppers já fizeram, diz Smith. "Nos últimos álbuns, em 'Stadium Arcadium' e certamente em 'By the Way', Flea e John (Frusciante) sempre disputavam quem era a força criativa da banda. É o que acontece quando você tem personalidades muito fortes e pessoas muito criativas, mas somos uma banda bastante democrática e sempre foi assim".
 

No Hall da Fama
O anúncio do Hall da Fama veio enquanto os Chili Peppers estavam concentrados em "I'm With You", o que contribuiu para uma sobreposição estranha entre o passado da banda e seu presente bastante ativo. "Não conversamos muito sobre isso. Soubemos a respeito (do Hall da Fama) no mesmo dia que soubemos que tínhamos sido indicados para o Grammy de Melhor Álbum de Rock. Foi o dia dos prêmios, mas nossa reação foi 'que legal. Isso é ótimo', mas não mais que isso".
 
Klinghoffer, de 32 anos, é o integrante mais jovem a ingressar no Hall da Fama, o que agrada aos Chili Peppers. Eles também não se incomodam com a decisão de Frusciante de não participar da cerimônia, acrescenta Smith. "Ele não se sentiu à vontade, o que respeitamos. Nós o convidamos, ele agradeceu o convite, mas preferiu não ir. Tudo bem. Ele é o tipo de sujeito que, quando termina algo, apenas quer seguir em frente na próxima fase de sua vida. Os Chili Peppers não estão no radar dele no momento".
 
Mas a ausência dele não diminuiu a celebração em Cleveland, no dia 14 de abril. "Estou muito satisfeito com ela", diz Smith. "Música não é uma competição. Sim, é bom ganhar Grammys e coisas assim, mas isto é diferente. Não se trata do sabor do mês, é algo por uma longa carreira que fomos suficientemente afortunados em ter. As pessoas que estão lá... Não é brincadeira".

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Novo disco à espera
A campanha de "I'm With You" atingiu um obstáculo quando Kiedis teve que se submeter a uma cirurgia no pé para reparar algumas lesões antigas. O grupo foi forçado a adiar sua turnê pela América do Norte, mas isso deu ao restante da banda tempo para iniciar novo material.
 
"Nós ensaiamos e então pintaram algumas ideias para canções e coisas assim, e tocamos juntos por duas semanas. Foi realmente divertido. Tudo saiu ótimo --fluente e realmente natural, como se estivéssemos tocando juntos há um bom tempo, que foi o que aconteceu. Nós enviamos os CDs (para Kiedis) e ele disse: 'Eu adorei o material! Soa incrível. Eu adorei os novos jams!'".
 
O baterista espera que, como resultado, o próximo álbum dos Red Hot Chili Peppers saia em um prazo menor do que os cinco anos que separaram "Stadium Arcadium" e "I'm With You", ou os quatro anos entre "By the Way" e "Stadium Arcadium".
 
"É o que eu espero. Cheguei em casa e disse para eles: 'Ei, pessoal, estarei aqui por duas semanas. Vamos nos reunir para tocar?' E todo mundo disse, 'Sim! Vamos tocar!'. Isso é bom para tudo. É bom para o moral, é bom para o futuro. O futuro é promissor". (Tradução: George El Khouri Andolfato)
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.