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24/07/2006 - 21h55
Baterista do Gang of Four fala sobre o retorno do ícone pós-punk, que toca no Brasil em setembro

FERNANDO KAIDA
Editor-assistente de UOL Música


"Somos quatro caras de 50 anos que tocam como se tivessem 23". É desta forma que o baterista inglês Hugo Burnham descreve o que o público brasileiro pode esperar do show do grupo Gang of Four, que participa em setembro da terceira edição do Campari Rock.

Desta vez o festival será uma turnê que passará por São Paulo (6), Florianópolis (8) e Belo Horizonte (9). Além do Gang of Four, tocarão no evento o grupo sueco The Cardigans e bandas nacionais que ainda serão divulgadas.

Formado em Leeds, na Inglaterra, em 1977, o Gang of Four lançou pelo menos dois discos fundamentais do pós-punk, "Entertainment", de 1979, e "Solid Gold", de 1981, por sua mistura de rock'n'roll, black music e letras politizadas. Após a saída do baixista Dave Allen, em 1982, e de Burnham, no ano seguinte, os remanescentes Andy Gill, guitarra, e Jon King, vocal, seguiram até 1984, quando acabaram com o grupo.

Um dos nomes mais citados quando o assunto são as influências de grupos do novo rock, como Franz Ferdinand, Bloc Party, The Rapture, Futureheads, Radio 4 e Hot Hot Heat, os integrantes do Gang of Four voltaram a tocar juntos no final de 2004. "É mais divertido agora porque o lado comercial é menos importante", diz Burham sobre o retorno.

"Quando voltamos, concordamos que deveríamos ser tão bons quanto antes, e conseguimos", decreta o baterista, que atualmente dá aulas de redação e análise da indústria musical, entre outros assuntos, para estudantes do curso de música do New England Institute of Art, em Boston.

Na bem-sucedida turnê de retorno, que passa agora pelo país, a banda mostra clássicos do pós-punk, como "To Hell With Poverty", "Damaged Goods", "I Love a Man in Uniform", e outras que inspiraram não apenas grupos atuais, mas diferentes gerações de artistas, como Red Hot Chili Peppers e R.E.M.. "Nós somos uma grande banda de rock. Música boa nunca desaparece", afirma o baterista.

Durante a conversa com UOL Música, Hugo Burnham fala do retorno do Gang of Four, das influências da banda quando começaram e do disco "Return The Gift", no qual regravaram algumas de suas melhores canções, e que serve de base para a turnê. Lançado em 2005, o CD deve sair no Brasil pela Sum Records em agosto.

Leia abaixo os melhores momentos da entrevista com Hugo Burnham, do Gang of Four.

UOL - Vocês estão prestes a vir ao Brasil pela primeira vez. O que o público brasileiro pode esperar do show do Gang of Four?

Hugo Burnham - Quatro caras de 50 anos de idade que ainda tocam como se tivessem 23. É sério. Quando decidimos voltar com a banda, em novembro de 2004, todos nós concordamos que seria muito importante levar isto a sério, para que fossemos tão bons quanto antes. Quando se tem 23 anos é fácil subir no palco e tocar por uma hora, uma hora e vinte, cheio de energia. Aos 50 é mais difícil, por motivos óbvios. Mas encaramos com muita seriedade a idéia de tocarmos com a mesma energia e foco de antes. Acho que estamos tocando melhor por sermos mais velhos, possivelmente mais espertos, e porque bebemos menos. Tocamos de maneira mais inteligente, sabendo como equilibrar nossas energias.

UOL - O que fez vocês decidirem reformar a banda?

HB - Diferentes motivos. Nós quatro fizemos muitas coisas desde o fim do Gang of Four, mas o grupo definiu muito do que aconteceu depois com cada um dos integrantes. Nós nos divertimos bastante da primeira vez, e está sendo mais divertido agora porque o lado comercial é menos importante. Antes, a banda era a nossa carreira, e nós não sabíamos muito sobre negócios. Agora, temos nossas próprias carreiras e famílias. O Gang of Four hoje é algo tão criativo quanto antes, mas muito mais divertido, pois nossas vidas não dependem dele.

Muitas pessoas não têm uma única chance de fazer parte de uma grande banda. Nós tivemos duas. As pessoas sempre tiveram interesse no Gang of Four. O que nós fizemos é eterno, divertido e sempre agrada as pessoas. Acho que termos feito isto tão bem faz com que as pessoas ainda amem a banda.

UOL - Como foi tocar com os demais integrantes depois de 20 anos?

HB - No príncipio fiquei bastante nervoso. Antes de começarmos eu achava que não conseguiria fazer direito, pois não tocava bateria desde 1985. Mas quando nós quatro começamos a tocar, tudo voltou rapidamente. Não parecia que tanto tempo havia se passado. Foi ótimo, nós trazíamos à tona o melhor de cada um como músicos, e ainda fazemos isto.

UOL - Por que você acha que a música de vocês é tão influente para os novos grupos?

HB - Porque é excitante e desafiadora. Os temas que as pessoas ouviam em nossa música continuam tão relevantes hoje quanto há 20 anos. Nós somos uma grande banda de rock. Todo mundo tem influências quando cria sua música. Muitos dos meus alunos e adolescentes nos Estados Unidos ainda ouvem Led Zeppelin, Queen, Pink Floyd e bandas do tipo. Música boa não vai embora. E nós nunca fomos tão famosos para que as pessoas pudessem se cansar do Gang of Four.

UOL - Parece que vocês são mais populares hoje do que antes

HB - Sim, é como o Velvet Underground. Ninguém os ouvia quando começaram, mas todo mundo ouve Velvet Underground hoje em dia.

UOL - Há muitas bandas de sucesso hoje, como Franz Ferdinand, Bloc Party e The Rapture que citam vocês como influência

HB - Sempre se interessaram pelo Gang of Four, como o Red Hot Chili Peppers, R.E.M. ou mesmo o Nirvana --que disseram que fomos uma grande influência. O interesse mantém o nome vivo, faz com que as pessoas ouçam sua música. Mas nos últimos três ou quatro anos apareceram muitas bandas que são mais inspiradas pelo nossa sonoridade do que pelas letras. Acho que isto acontece porque nossos ritmos e sons são muito interessantes, agressivos e divertidos.

UOL - Este interesse das bandas novas nos últimos anos foi importante na decisão de voltar a tocar?

HB - Nós andamos conversando sobre a volta nos últimos cinco ou seis anos. Por conta do grande interesse recente, tudo ficou mais fácil, pois criou-se uma demanda. Há três anos, o bem-sucedido retorno do Pixies serviu de sinal para os promotores e agentes pensarem: 'os Pixies são tão influentes e estão tendo sucesso, o Gang of Four é muito influente, surgiu há muito mais tempo e há tanta gente soando como eles, deveríamos ter o Gang of Four de volta, encorajá-los a tocar juntos novamente'. E acabou acontecendo de em 2004 nós quatro podermos dar espaço para o grupo em nossas vidas. Como Dave mora no Oregon, eu moro em Boston e os outros dois estão em Londres, é complicado e caro para nós quatro nos encontrarmos para ensaiar. Todos somos ocupados, mas no ano passado deu para fazer.

UOL - Você reconhece alguma banda nova que carregue características do Gang of Four?

HB - Há muitos que carregam algo no som. Por exemplo: o Franz Ferdinand, especialmente no primeiro disco, tinha algo de similar nos ritmos e músicas, mas ele não se parecem conosco. Eles são uma grande banda pop, nós nunca fomos pop, nós somos uma banda de rock. O Bloc Party, não sei se intencionalmente ou não, se apropriou de mais idéias do Gang of Four. Eles têm uma canção chamada "The Price of Gas", frase que está escrita na contra-capa do nosso segundo disco. Mas são 20 anos de diferença, não tem importância se eles estão próximos de como soamos. E eles estão sendo bem-sucedidos, mais do que a gente.

UOL - Por que vocês decidiram regravar as músicas antigas no CD "Return The Gift"?

HB - Nós queríamos dar uma cara nova para algumas das canções e queríamos lançar algo para mostrar que estávamos de volta. Muitos dos nossos discos entraram e saíram de catálogo com o passar dos anos. Além disso, queríamos regravar as músicas do disco "Entertainment", que eu considero brilhante, bem produzido, mas ele não reflete muito bem o modo como soamos ao vivo. E também, honestamente, porque não detínhamos os direitos das gravações originais dos discos antigos, as gravadoras é que são as donas deles. Pensamos que, se vamos sair e trabalhar duro para ter nossa música e criatividade por aí novamente, queremos ser pagos por isso. As gravadoras não nos pagariam. Nós não ganhamos nada por cada disco que a EMI vende.

UOL - "Return The Gift" é uma boa introdução à música do Gang of Four?

HB - Acho que sim. Ao invés de comprar uma compilação, ou um álbum, aqui estão 12 ou 13 músicas (o CD traz 14) das quais gostamos e vamos tocar. E você ainda leva (como bônus) um disco com remixes feitos por novos artistas, o que é ótimo. Nós enviamos a idéia dos remixes para diversas pessoas e começamos a obter respostas. Não houve muito controle sobre quem faria as versões, quisermos ver quem estava interessado no trabalho. Foi um risco de nossa parte, mas correr riscos sempre fez parte do Gang of Four.

UOL - Vocês pretendem compor material novo?

HB - Posso dizer que estamos planejando isto agora. Nos próximos dois ou três meses, vamos tentar trabalhar em três ou quatro músicas. Se der certo, ótimo. Se não der, tudo bem, não vamos forçar.

UOL - Vocês são uma grande influência para muitas bandas, mas quais eram as suas influências no começo?

HB - Para nós quatro era muito reggae, dub, Jimi Hendrix, um grupo inglês chamado Dr. Feelgood, Funkadelic, Chic. Dave também ouvia muitas coisas como Can.

UOL - Você conhece música brasileira?

HB - Uma banda brasileira tocou em Boston na semana passada, alguns alunos estavam comentando na sexta-feira (21), mas não me lembro do nome.

UOL - Cansei de Ser Sexy (CSS)?

HB - Sim! As pessoas adoraram. Meus alunos que foram ver falaram que eles são ótimos. Estou muito animado com a viagem. As viagens desta vez estão muito melhores. Fomos ao Japão, vamos ao Brasil, tudo que não fizemos da primeira vez.

UOL - Há algo de especial que você gostaria de fazer durante a estadia aqui?

HB - Não ficarei muito tempo no Brasil. Acho que chego um dia depois e volto alguns dias antes dos outros caras. Eu tenho de dar aula antes da ida e depois dos shows. Mas eu quero experimentar a ótima comida brasileira e quero beber.

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