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Por que meu filme preferido nem sempre é o que vence o Oscar?

Entrada do Teatro Dolby, em Los Angeles. onde foi realizada a 88ª edição do Oscar - Jordan Strauss/Invision/AP
Entrada do Teatro Dolby, em Los Angeles. onde foi realizada a 88ª edição do Oscar Imagem: Jordan Strauss/Invision/AP

James Cirmino

Colaboração para o UOL, em Los Angeles (EUA)

25/02/2017 13h26

Você é daqueles que assiste à cerimônia de entrega do Oscar todo ano e, quando termina, diz que “nunca mais vai assistir essa porcaria”, porque além de ser “interminável”, “passa muito tarde” e ainda por cima “só ganha o pior filme”?

Então, sobre o horário de exibição não há muito que se fazer, afinal Los Angeles tem uma diferença de fuso em relação ao Brasil no inverno americano que varia entre cinco e seis horas, e a duração é longa até pra eles por causa dos comerciais, que são quem paga a conta.

Já quanto à eleição, sua frustração pode diminuir ao entender como funciona o processo de escolha dos vencedores. Assim como na eleição para presidente dos Estados Unidos, os vitoriosos não são selecionados pelo voto direto — embora a Academia não tenha um colégio eleitoral.

O que ocorre em relação ao prêmio é uma eleição por “voto preferencial”. Isto significa que, tanto na primeira etapa, quando são escolhidos os indicados, quanto na segunda etapa, quando é decidido quem vai levar a estatueta para casa, os 6.687 membros da Academia preenchem a cédula de votação numa lista do mais para o menos preferido, em sua opinião.

Por exemplo, se em 2017 o filme que você mais gosta é “Até o Último Homem” e o que você menos gosta é “La La Land”, você vai colocar aquele em primeiro e este em último.

O problema está nos filmes que estão entre esses dois. Supondo-se que seu segundo filme preferido seja “Estrelas Além do Tempo” e o terceiro “A Chegada”, pode ser que um desses acabe levando o Oscar.

Mas como assim? Acontece que, caso “Até o Último Homem”, que foi sua primeira opção, receba poucos votos dentre os 6.687 eleitores, ele é eliminado da disputa. E aí o seu voto passa a valer para o segundo escolhido, no caso “Estrelas Além do Tempo”. E se este filme também tiver poucos eleitores, aí o voto vai para o seu terceiro favorito (“A Chegada”).

O processo continua até que um dos candidatos obtenha 50% dos votos + 1, como no segundo turno das eleições brasileiras. Com isso, a Academia tem como objetivo premiar apenas aqueles que tiverem o maior suporte e evitar vitórias apertadas, zebras e empates.

No entanto, este modelo cria outro problema: favorece aqueles filmes, produtores, atores que têm mais familiaridade com os membros da Academia. Sim, é bom não esquecer que a Academia, até o ano passado, era um clube restrito em que 91% de seus integrantes eram brancos, 76% eram homens e cuja média de idade era de 63 anos.

Portanto, não causa surpresa que dentre últimos vencedores na categoria "Melhor filme" tenham sido filmes que falem exatamente sobre… a indústria do entretenimento, como “O Artista” (2012), “Argo” (2013) e “Birdman”(2014).

Também não espanta que filmes de franquias e de super heróis apenas sejam indicadas em categorias técnicas como efeitos especiais e edição de som.

Portanto, hoje em dia e já há algum tempo, o Oscar não é apenas uma premiação desconectada do que dá lucro para a indústria, do que dá prazer aos jovens e do que emociona os cinéfilos.

É uma cerimônia que, por alguma razão, amamos odiar porque, basicamente, é uma grande “festa da firma”. Por esse motivo, os critérios de escolha são baseados em razões pessoais como amizade, favorecimento, política e interesse (sim, eles também são humanos). O mérito artístico é, na maioria das vezes, aquilo que na publicidade se chama de “story telling”, e que, em bom português, significa "história pra boi dormir".