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Música, amor e clichês da (quase) vida adulta: Livro define a adolescência

Capa do livro "A Guerra do Rock" - Divulgação
Capa do livro "A Guerra do Rock" Imagem: Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

16/06/2017 04h00

A adolescência pode ser resumida como um período complicado. É aquela fase que você quer ser adulto, mas ainda sente alguns receios como uma criança assustada. E entre tudo isso temos a descoberta dos romances, a necessidade de pensar em como se virar daqui a alguns anos e ainda tentar encontrar pessoas para chamá-las de amigas. A explicação clichê anterior é justamente o que a primeira parte da saga "Guerra do Rock" (editora Rocco) apresenta para o leitor, só que em um formato criativo, agradabilíssimo de ler e que tem como mote a música, ou melhor, o rock.

Escrito por Robert Muchamore, o livro conta a história de três personagens principais: Jay, Dylan e Summer. Cada um com a sua realidade, sua condição econômica e seus problemas. Enquanto um quer ser músico de qualquer forma, o outro não se encaixa em único grupo sequer e a terceira precisa se desdobrar para ir à escola e cuidar da avó enferma. A única coisa que todos têm em comum é a música. O pano de fundo é um reality musical no estilo do "The Voice" para descobrir qual a melhor banda britânica com integrantes de até 18 anos.

O escritor inglês Robert Muchamore - Divulgação - Divulgação
O inglês Robert Muchamore, de detetive particular a escritor de best-sellers
Imagem: Divulgação

Inúmeras referências são recorrentes, da boy band One Direction ["metralhada" pelos roqueiros adolescentes] passando por Nirvana, Talking Heads, Black Flag, Metallica e Led Zeppelin. A Brontobyte é a banda do guitarrista Jay, que ele fundou com os melhores amigos da infância. Mas sabe como são as bandas e as tretas rolam soltas. Em uma dessas discussões, Jay é expulso do grupo e parte na missão de formar outra banda para chamar de sua. Seleciona seus irmãos e convoca um baterista estranho que mais parece um John Bonham menor de idade. O resto é história.

Dylan é filho de um rockstar, que agora vive da fama e da fortuna da década de 1980. O garoto estuda em um internato e tenta driblar professores e inspetores para ficar sossegado em seu quarto. Em um chuvoso dia, Dylan conhece um menino desengonçado que está tentando gravar algumas demos de sua banda. Observador do trabalho do pai quando mais novo, Dylan passa a acreditar que ser produtor musical pode ser um caminho divertido a ser trilhado.

Summer, de longe a figura mais carismática do livro, não chama a atenção dos garotos e passa por apuros em casa. A garota mora sozinha com a avó doente, que precisa de cuidados constantes e depende da ajuda do governo com medicamentos. Tímida, Summer acaba sendo expulsa da aula em um dia e conhece Michelle. E adivinha o que a nova amiga tem? Claro, uma banda de mulheres que quebram tudo em uma sala minúscula e aconchegante no fundo de uma empresa.

Não é só rock, bebê

Engana-se quem pensa que "Guerra do Rock" é apenas mais um livro com um bando de adolescente chatos vestindo camisetas do Ramones e criticando qualquer banda pop, porque tudo é "programado, pensado e produzido". Robert Muchamore escreve nas estrelinhas o desenrolar de uma fase que os mais velhos sempre vão se lembrar com aquele ar nostálgico.

Capa do livro "Crash Land", última parte da saga "Guerra do Rock" - Divulgação - Divulgação
Capa do livro "Crash Land", última parte da saga "Guerra do Rock"
Imagem: Divulgação

O escritor passa por situações batidas, comuns quando se tem 15 anos, mas introduz uma racionalidade para essa faixa etária que falta em muitas obras destinadas a esse público-alvo. É algo semelhante ao que J.K. Rowling criou em Harry Potter, quando descreveu o crescimento de um menino qualquer para um dos bruxos mais poderosos que já existiu. Analisar a saga de Harry como apenas uma história entre o bem e o mal é muito simplório.

Temas mais delicados como suicídio, depressão e agressão sexual são abordados de maneira pontual. A diferença entre os personagens, tanto os principais quanto os secundários, tenta tirar o leitor da "bolha" em que vive, apresentando situações e contextos que podem não ser costumeiros no cotidiano. A história dá abertura para muitas situações interessantes, que serão contadas nas próximas edições. A primeira parte de "Guerra do Rock" chegou recentemente no Brasil, mas o capítulo final, após quatro livros, será lançado no dia 5 de outubro na Europa.