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Frequência Modulada

The Listening, do Little Brother: todo mundo ama. Mesmo.

Frequência Modulada

20/08/2019 16h57

 

Desde a meia noite de hoje, os fãs estão matando a saudade de um dos grupos que fez sucesso e bateu forte aqui pelo Brasil – o trio da Carolina do Norte, Little Brother lançou o literalmente inesperado álbum May The Lord Watch, pegando todo mundo no contrapé. Mas desde fevereiro de 2003, o seu álbum de estreia The Listening garantiu lugar na lista dos mais queridos dos ouvintes de rap, chamado de "underground" na época. Não que tenha ficado no passado ou com tom nostálgico, até porque as rimas de Phonte e Big Pooh em cima das batidas criadas pelo gênio dj 9th Wonder são tocada até hoje nas festas de rap mas, de fato o The Listening é sempre citado pelos fãs como um trabalho extremamente inovador na época.

Após um hiato de quase 10 anos, onde cada um dos 3 integrantes foi cuidar de seus projetos paralelos dentro e fora da música (9th Wonder virou professor na North Carolina Central University, Big Pooh virou comentarista esportivo e Phonte elevou o nível tanto em seus álbuns solo como em suas parcerias com Foreign Exchange e com o cantor Eric Roberson) e, umas semanas atrás fomos surpreendidos por um mini-doc contanto passagens do começo do grupo e as gravações de The Listening.

Como obviamente fazemos parte de quem AMA esse trabalho, juntamos aqui uma série de depoimentos sobre a densidade e importância de The Listening – olha isso:

 

Von Pea (membro do Tanya Morgan): Deve ter sido em 2000 quando eu ouvi The Story of U.S. (Unheralded Symmetrics) o álbum de comédia do Phonte e do produtor Eccentric. Phonte enviou essa parada no Napster para eu ouvir e me lembro de perguntar a ele: Onde foi que você fez isso? e ele dizia: Nós fizemos isso em casa! E isso era um grande negocio em 2000 para fazer músicas em sua casa.

Khrysis (produtor,engenheiro de som e representa The Away Team/Justice League): O primeiro som que ouvi do Little Brother foi Speed e eu não estava envolvido na equipe do Little Brother na época. Eu não estava envolvido no grupo, pois vivia fazendo a conexão Durham/Winston para a escola. Quando voltei para casa comecei a andar com Ann Missie (Patrão da Justus League) e assim comecei a me envolver mais com a galera.

DJ Brainchild (DJ, Gordon Gartrell Radio): Von Pea enviou pra mim algumas músicas do Little Brother como "Whatever You Say," "Speed," "Away From Me," e o instrumental de "The Love Joint" (Revisted) e eu prestei a atenção nos beats do 9th Wonder e depois prestei atenção nos versos do Pooh e do Phonte. Não sabia que esses caras estavam com tudo na época e o resto é historia.

Khrysis: Durante a realização do Listening, eu não estava em todas as sessões, mas eu estava lá quando fizeram Home. Eu era o mais jovem da equipe,morei com Joe Scudda e 9th Wonder por anos. Cesar Comanche morava na mesma rua. Mandamos algumas demos para o ?uestlove (membro do The Roots) Eu estava timido na hora de mandar as demos pra ele. Depois disto tudo posso lhe afirmar que nunca tinha dado autografos, tirar fotos ou algo do tipo. The Listening do LB é louco! Só posso dizer isto.

Pete Rock (Produtor, DJ nosso herói vivo): The Listening me fez viajar! Meu irmão estava me contando sobre eles e ao mesmo tempo falando com eles no telefone. Eles estavam em N.Y e vieram até a minha casa, um monte de caras da Carolina do Norte. Uns dormiam no chão e outros no lugar aonde eu fazia uns beats. Eles estavam animados assim como eu estava animado, pois esses caras se inspiraram em coisas que eu fiz no passado.

Rapper Big Pooh (Membro do Little Brother): Ser elogiado por ?uestlove e Pete Rock é tipo ser um jogador de Basketball e ser elogiado pelo Michael Jordan. Na época era tipo assim: "Whoa eu estou aqui com Pete Rock momento mágico em minha vida" e todos na época perguntando pra mim como era Pete Rock , se eu ando direto com ele ta ligado? Foi muito legal ter ficado na casa do Pete aprendemos muito com ele.

Phonte (Membro do Little Brother): Nós somos abençoados por ter esse talento de fazer música, chegamos cedo no estúdio e sentimos que temos responsabilidade no que a gente coloca no papel. Quando os artistas estão em estúdio fazendo música, alguns podem pensar: "Ok o que a rádio vai achar disto?" Enquanto nós pensavamos desta forma: "O que Pete Rock vai achar disto?" Eu não quero fazer nada que me faça mal. Eu quero que as pessoas escutem as nossas paradas e digam: Caramba!! esse som do LB é muito foda papo reto!

?uestlove (Membro do The Roots e monstro da bateria): Eu sempre achei que esses caras chegaram na hora certa.
Eles são funky, eles reveleram toda a sua negritude e reascenderam a massa do HipHop. Eles tem o mesmo senso de humor que o De La Soul . Eu acho que há uma maneira de ser bem-humorado, mas sem perder a sua dignidade.
A maioria dos grupos de hip hop são engraçados,mas igual Little Brother e De La Soul não tem.

Khrysis: O Hip Hop naquele momento estava perdendo a sua alma lentamente. Ai chegaram esses caras de Durham e Raleigh (Carolina Do Norte) um lugar aonde as pessoas achavam que não existia hip hop, ninguém usava equipamentos, Fomos os primeiro a usar Fruity Loops e Cool Edit. Naquela época a MPC era a moda, mas se você ainda não teve uma MPC ou algo parecido, você não estava fazendo nada. Mas agora todos querem usar Fruity Loops. Mano, vejo que toda a indústria passou a fazer os beats no computador depois de um tempo.

ILLMIND (Produtor): Eles realmente atingiram um acorde e preencheram um vazio que existia no Hip Hop naquele momento. Pra mim, eles trouxeram o puro Hip Hop de volta e meio que definiram o movimento Native Tongues e introduziram uma nova geração para aquele movimento. Foi um bom momento onde eles estavam carregando a tocha para a boa música, boas letras e bons beats, tudo em um só.

Evidence (Membro do Dilated Peoples): A primeira vez que ouvi falar do Little Brother foi através do linha de frente da ABB Benni B que disse que estava assinando com eles.

Rapper Big Pooh: Foi a nossa primeira vez em Cali e me lembro que Benni disse que nos iamos trombar o Evidence. Foi muito legal aquele dia.

Evicence: Me lembro que naquele dia Benni estava de carro no rolê com eles em L.A, eles conheceram tudo e ficaram sabendo de tudo que rola em L.A . Eu estava em minha casa, e ouvi o Benni gritando tipo: "Yo eu estou aqui embaixo com o Little Brother desça aqui." Mas não era uma boa hora para eu descer pois eu estava em uma discussão com um outro maluco no meu apartamento e então Benni ligou pedindo para eu descer logo, dai eu apareci na janela e disse que não era uma boa hora para descer. Acho que os caras do Little Brother me acharam um perfeito idiota. Mas eu não desrespeitei eles.

Rapper Big Pooh: Nós falamos assim: "Deixa esse bosta pra lá! " (risos) mas depois nós conhecemos ele melhor e está tudo certo.

Phonte: Passamos por um monte de coisa naquele momento, que serviram bastante no nosso processo como artistas. Naquela época tinha sempre coisa errada rolando, mas nós não tinhamos a malicia de chegar e falar um montão Agora somos mais maduros ninguém passa a perna na gente mais.

Phonte:: Eu estava sempre procurando maneiras de fazer uma performance bem bacana. Gostaria de fazer shows para platéias que não são necessariamente nosso público e isso aconteceu. Me lembro quando nos abriamos shows do Cypress Hill e olhavamos para a platéia e tinha mexicanos com várias motos, vários doidões na platéia e nós achavamos que seriamos vaiados por eles, mas não foi isso que aconteceu eles agitaram com a gente até o final da nossa apresentação. Foi deste jeito que conseguimos um outro público.

ILLMIND: Fiquei animado pelo grande passo que eles deram na carreira deles e eu torcia por eles desde o primeiro dia e fiquei mais feliz quando soube que eles causaram um impacto no movimento e em seguida chamaram a atenção de uma grande gravadora.

ILLYAS (Membro do Tanya Morgan): Foi muito louco ver o que eles estavam fazendo, pois eles abriram muitas portas para quem queria fazer algo igual ao deles.

Evidence: Pra mim, Ministrel Show foi um passo muito maior do que o primeiro álbum deles. As vozes estavam misturadas, os interludes do álbum ficaram sensasionais e pra mim o álbum é completo. e Lovin It é um clássico.
VON PEA: Eu me lembro de ter falado com o 9th antes do Ministrel Show sair e ele me disse assim: "Ae maninho, é complicado quando eles ficam com inveja de nós por estarmos conquistando o nosso barato na cidade deles. Eles acham que queremos tomar a cidade de assalto, mas não é isso que queremos, nós queremos só criar os nossos caminhos."
DONWILL (Membro do Tanya Morgan): O primeiro hit single dos caras tinha o mano Joe Scudda. Eles respeitam todos que podem chegar com eles em uma missão. Meu primeiro cheque que eu ganhei com o rap foi participar de uma sátira sobre Ministrel Show. Agradeço sempre esses caras.

Khrysis: Watch Me (Ministrel Show) foi a produção que abriu portas pra mim e por isso destaco que esta é a canção mais importante na minha carreira.
Eu não sabia que esse beat ia entrar no Ministrel Show, mas eu sabia que ela poderia entrar no álbum solo do Pohh "Sleepers" (Álbum que gosto de ouvir) e depois 9th me chama e diz que queria regravar uma canção sobre o beat que eu fiz usando o sample do Michael Jackson. Eu disse: "Pela ordem pode usar é noiss… "

Phonte: Eu me lembro de estar navegando na internet e vi uma entrevista do Bun B dizendo que estava ouvindo o Ministrel Show porque falaram pra ele que estavamos desrespeitando ele em umas músicas. Como eu podia desrespeitar Bun B? Acho que o maluco que falou pra ele entendeu errado a mensagem que queriamos passar, onde eu falei que se um cara do rap estiver vendendo droga nas ruas eu iria me preocupar com a pessoa, mas eu sei que este não é o caso do Bun B . Bun viu que não tem nada a ver com ele aquela rima.

Evidence: Eles lançaram uma mixtape com o Dj Drama enquanto nós estavamos juntos em turnê. Eles arrebentaram na mixtape e muitos caras gravam mixtapes horriveis e não foi o caso deles Drama ta ligado que não foi o caso deles (risos)

?uestlove : Quando eles foram até Philly e dei um monte de conselhos pra eles, compartilhei com eles tudo o que eu sabia com esses longos anos de sobrevivência do The Roots. Eu falei pra eles fazerem projetos paralelos eu disse a eles que poderia haver um ponto foi o que aconteceu com Slum Village que poderia haver algum interesse ou atração gravitacional de algum membro do grupo e disse a eles que eles tem que superar aquilo o mais rápido possivel e usar isso sempre ao favor deles. Se 9th se envolver com outros artistas disse para eles considerarem aquilo como uma vantagem e não uma ameaça.

?uestlove: Eu troquei uma ideia com a 9th e disse pra ele não fazer a mesma coisa que o Dilla de só ficar em casa fazendo beats. Todos os beats dele estavam em um lap top então você não tem desculpa. Você precisa ir lá fora, dar entrevistas, pois vocês são um grupo e tinham que estar juntos.

Pete Rock: Eu falei mais com o 9th do que eu falei com o Pooh e o Phonte. Eu adoraria ter conversado mais com os três. Eu já estou acostumado com este tipo de coisa, como ver os grupos se desmontando porque as pessoas não conseguem conviver uma com as outras.Todos tem as suas ideias e não podem sempre trabalhar no que o produtor quer fazer.Eu não falei mais com os rappers do que eu falei com o 9th. Eu não queria me intrometer nesta parada, mas eu poderia deixa-los com a mente aberta.
NICOLAY(Produtor do The Foreign Exchange): As pessoas fantasiam muito sobre um grupo e como os membros são. Acham que é só festa, fazer churrasco na beira da piscina e não é sempre assim. Esse tipo de expectativa afetou a Justus League, pois todos esperavam que eles eram um coletivo muito forte.

NICOLAY: Nunca falei com Phonte sobre isso porque eu não era do grupo, mas no meu ponto de vista, eles começaram como um trio,mas 9th fez muito barulho com as suas produções onde outros artistas como Jay-Z se interessou pelos seus beats. E foi por isso que ele não esteve tão presente no processo do GetBack ,pois ele já tinha saido do LB.

DONWILL: Me lembro quando saiu o GetBack e eu estava em um ponto que não queria saber de mais nada até que eu fui em uma festa do LB e estava rolando o novo álbum e conversei com o Phonte e com o Pooh e eles fizeram eu voltar a todo o vapor. Se a indústria da música não é pra você ela te chuta pra fora, mas se for pra você eu vou lutar e permanecer nela.

?uestlove: Eu poderia falar que a mensagem da música Good Clothes foi feita pra mim e para muitos outros que passaram por esse cenário.

ILLYAS: GetBack é um álbum muito foda! todos que ouviram o álbum aprovaram a parada. Foi muito louco!

Phonte: Get Back com certeza foi o meu álbum favorito! Se o Little Brother acabou ali eu mandei muito bem no álbum. Foi onde eu me tornei um homem de verdade, fiz umas rimas loucas e eu me tornei o artista que eu queria ser nesse álbum.

Rapper Big Pooh: LeftBack foi feito para os fãs. Isso não quer dizer que eu e o Phonte não vamos fazer mais músicas, nós só estamos terminando o capitulo do Little Brother.
EVIDENCE: Um dos maiores grupos que já ouvi e queria ver uma reunião deles mais pra frente.

Phonte: Eu e o Pooh somos o oposto em vários aspectos, pois eu sou música 24 hrs por dia e ele ama esportes eu odeio esportes. E nós nos respeitamos muito e por isso que nossa amizade nunca irá morrer.

?uestlove: O lançamento do The Listening foi um momento mágico em minha vida, pois era o novo capitulo do Soulquarians. Ficou claro que Erykah, D'Angelo, Mos,Talib, Common e os Roots adoraram esses caras da Carolina do Norte. Fiquei feliz de ver esses caras levando o hip hop para um outro nível agora temos esses maninhos Cudis e Drakes fazendo o seu lance e representando muito bem a parada.

 

E quando nós estivermos em condições de pensar friamente, vai rolar resenha do May the Lord Watch também…

Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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