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Como It bateu O Exorcista e se tornou o maior filme de terror da história

Roberto Sadovski

22/09/2017 17h42

Enquanto traço essas linhas, a adaptação de Stephen King It: A Coisa vai deixando pra trás a bilheteria de O Exorcista para se tornar o maior filme de terror da história. Bastou pouco mais de duas semanas em cartaz para o filme do argentino Andy Muschietti pulverizar um recorde que se mantinha há mais de quatro décadas. It, hoje, contabiliza exatos 232.406.627 milhões de dólares em caixa; o clássico de William Friedkin, contando com os relançamentos ao longo dos anos, soma 232.906.145. A diferença irrisória vai para o espaço neste fim de semana, colocando a ameaça do palhaço Pennywise no topo do ranking do gênero – e merecidamente, já que a produção, além de ser excelente, deu uma injeção de ânimo nos números combalidos das bilheterias no cinema em 2017.

O cinema de gênero é frequentemente uma aposta certeira. A combinação de orçamentos geralmente enxutos com a boa vontade dos fãs, que geralmente perdoam até as produções mais toscas, faz com que a aposta no terror seja lucrativa. O que torna a marca de O Exorcista ainda mais impressionante, e um testamento de seu poder em aterrorizar, polemizar e entreter. Mas, afinal, o que It trouxe que lhe deu a vantagem sobre seus antecessores? Antes do filme de Muschietti, o ranking que surgia atrás de O Exorcista trazia um fenômeno de marketing (A Bruxa de Blair), três "franquias" de méritos diversos (os dois Invocação do Mal, os dois primeiros Pânico, o primeiro e o terceiro Atividade Paranormal) e uma superprodução (Entrevista com o Vampiro). De todos, o que mais se aproximou do topo foi Corra!, lançado este ano, que faturou em toda sua carreira impressionantes 175.484.140 milhões de dólares. It não terá dificuldades em sair dos cinemas com números muito, mas muito superiores.

O Exorcista: maior filme de terror da história por 44 anos

Este sucesso é uma combinação de diversos elementos na engrenagem. Primeiro foi o timing perfeito de seu lançamento. It chegou aos cinemas no encerramento de uma temporada de verão frustrante para o mercado americano. A combinação de séries cinematográficas sem fôlego e filmes que falharam em monopolizar a atenção do público, mais preocupado com o encerramento de Game of Thrones na TV, contribuiu para um esvaziamento das salas. It também trouxe pedigree, apoiado por uma campanha que abusou de uma iconografia empolgante (como o próprio Pennywise) e em sintonia com o clima nostálgico dos anos 80. Os produtores foram espertos em não brigar com a concorrência, mas usá-la. Afinal, o interesse do público-alvo pelo gênero e pela época já havia sido renovado ano passado com o sucesso da série Stranger Things. Não é ao acaso que It traga tantos elementos em comum, já que Stranger Things é, por sua vez, explicitamente influenciada pela obra de Stephen King. A soma da familiaridade com qualidade surgiu como garantia de duas horas bem gastas, e o público não decepcionou.

Nas próximas semanas, It: A Coisa deve alcançar e ultrapassar outros filmes que, embora não sejam explicitamente de terror, também capricharam ao assustar a plateia. O clássico Tubarão, um dos maiores fenômenos da história, faturou 260 milhões de dólares em 1974; Will Smith enfrentou vampiros (ou zumbis, ou sabe-se lá o que eram) em Eu Sou a Lenda, que somou 256.393.010 milhões em 2007; e Haley Joel Osment disse a Bruce Willis que enxergava gente morta em O Sexto Sentido, um sucesso de 293.506.292 milhões em 1999. É um alívio para o próprio Stephen King, que viu outra de suas adaptações, o pavoroso A Torre Negra, fracassar espetacularmente, sem conseguir dar início à série que pretendia. It, por outro lado, já está com sua continuação engatilhada, com o mesmo Andy Muschietti dirigindo o Clube dos Otários de volta à Derry, no Maine, para enfrentar a Coisa em seu retorno, 27 anos depois. Curiosamente, o mesmo hiato que separa o novo filme de sua adaptação para a TV, que chegou às telinhas ianques em 1990. Nada é ao acaso.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.