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"Sei como é ser agredido pela polícia", diz Will Smith no Brasil

O astro Will Smith participa de uma entrevista coletiva em São Paulo para divulgar a nova série da Netflix - Divulgação
O astro Will Smith participa de uma entrevista coletiva em São Paulo para divulgar a nova série da Netflix Imagem: Divulgação

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

11/12/2017 12h38

Em "Bright", filme ainda inédito da Netflix, Will Smith vive um policial que tem um parceiro inusitado: um orc, espécie que no universo do longa é alvo de preconceito. E o ator se viu em uma posição diferente da que está acostumado, já que seu personagem é preconceituoso com o colega.

"Foi muito interessante, como um negro, fazer um policial que é racista com orcs", disse o ator nesta segunda-feira (11), em um encontro com jornalistas em São Paulo. "Foi interessante ser o personagem que estava mais elevado na hierarquia social, procurando alguém para colocar para baixo e mostrar a superioridade. Mas tomamos cuidado para não ficar tão pesado. O divertido dos efeitos especiais é que você consegue falar de coisas que não conseguiria falar".

O ator, que teve suas próprias experiências com a polícia, aproveitou a sua vivência como alguém que estava "do outro lado". "Com 17 anos, eu já estava ganhando dinheiro, então tinha carros legais, dirigia pela cidade. E sei como é ser agredido e assediado pela polícia. Estar do outro lado foi interessante, para mim, assim como poder ver o que se passa na mente de alguém que coloca sua vida em risco para proteger os outros, e algumas dessas pessoas os odeiam".

Smith e seu colega do filme, o ator Joel Edgerton, fizeram um laboratório com a polícia de Los Angeles para o papel – e tiveram um momento difícil quando um garotinho negro de 5 anos acenou para o carro da patrulha. "O irmão mais velho, que tinha uns 12 anos, disse 'muito bom, você tem que ser legal, se não eles vão te matar'. É um aspecto terrível dessa relação", observou.

David Ayer, Will Smith e Joel Edgerton participam da coletiva de imprensa da Netflix - Divulgação - Divulgação
David Ayer, Will Smith e Joel Edgerton participam da coletiva de imprensa da Netflix
Imagem: Divulgação

Entretenimento e sabedoria

Edgerton, que já havia tratado de racismo no filme “Loving”, sobre um casal inter-racial nos Estados Unidos, também se viu em uma situação bem diferente da que enfrenta no dia a dia. “Tive muita sorte na minha vida, sendo branco. ‘Loving’ e esse filme falam sobre injustiça e é estranho para mim ter uma reação tão forte a isso sendo que nunca experimentei uma injustiça real nessa vida”, refletiu, acrescentando que a maquiagem pesada que usou para filmar o ajudou a entrar no papel: “Me senti muito isolado no set porque estava preso a essa maquiagem e era uma coisa difícil. É muito recompensador como ator, mas eu não podia ser eu mesmo.”

Os dois atores esperam que o filme, além de divertir, possa fazer com que as pessoas reflitam sobre o tema. “Uma das coisas que me levou ao filme foi esse aspecto de falar sobre como tratamos os outros e os julgamos com base em raça, cultura e religião. E tinha muito a ver com bullying para mim", disse Edgerton. "Espero que sejamos julgados por nossas ações e nosso caráter, e não por alguma ideia sobre para quem rezamos ou qual a nossa aparência. Acho que há algo que as pessoas podem levar. Elas podem se questionar sobre como estão tratando os outros.”

“Na minha carreira, eu tento levar o entretenimento com alguma sabedoria em relação à vida”, concordou Smith. “Em relação a ‘Bright’, espero que as pessoas curtam e que isso dê a elas alguma coisa para falar. E espero que eles façam isso o suficiente para pedir à Netflix que faça uma sequência."

O ator, aliás, exibiu o mesmo bom humor da noite de domingo (10), quando falou para um público de mais de três mil pessoas na CCXP 2017 (Comic Con Experience). Na feira, Will Smith passeou fantasiado no meio da plateia. Logo ao chegar ao encontro nesta segunda, pediu desculpas por sua animação ao falar: “Estou falando alto, estou muito empolgado”. Sobrou até para o diretor David Ayer, que, em resposta a uma pergunta, disse que gostaria de ser um orc. “Temos que falar dessa questão psicológica. Esse provavelmente não é o local, mas vamos falar disso depois”, brincou, arrancando risos da plateia.