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Natureza devastada, crise política, golpe: clássico e visionário, Duna ganha nova edição

Rodrigo Casarin

16/06/2017 09h37

Um ambiente hostil, com traições e a instabilidade decorrente de um golpe político. É nesse universo familiar aos nossos dias que o jovem Paul Atreides, herdeiro de um dos principais planetas de Imperium, é treinado para encarar o futuro que o transformará em um herói e, quem sabe, no responsável por dar esperanças e novas leis para toda a galáxia.

De maneira breve, é esse o ponto de partida de "Duna", do norte-americano Frank Herbert, um dos maiores clássicos da ficção científica, para tratar de temas como ecologia, religião e política. Lançado em 1965, o título, o primeiro de uma série de seis romances, venceu importantes prêmios como o Hugo e o Nebula e foi comparado a obras como "O Senhor dos Anéis", de Tolkien. A narrativa retornou há poucos às livrarias brasileiras em uma nova edição da Aleph.

"'Duna é, em retrospecto, o melhor dos grandes romances de ficção científica, e o que mais se manteve relevante. Em parte, porque a história se passa em um futuro distante, em um universo que é radicalmente pós-computadores. Mas era também o livro certo no momento certo – na verdade, ele estava bem à frente do seu tempo. O escritor e jornalista Frank Herbert compreendia a ecologia em uma escala planetária; enquanto as pessoas começavam a pensar, falar e escrever sobre ecologia, e sobre a vida de um planeta como um conjunto de sistemas complexos e interconectados, 'Duna' já estava lá, pronto para elas", analisa o escritor Neil Gaiman no texto utilizado como introdução do volume, assinado por ele em fevereiro do ano passado.

Influência em "Star Wars"

Ao longo do tempo, "Duna" já vendeu milhões de exemplares pelo mundo e foi adaptado duas vezes para a televisão e uma para o cinema – uma segunda transposição para as telonas está sendo feita por Denis Villeneuve, mas ainda não há data para o lançamento dessa nova versão. A narrativa não é apenas uma das ficções científicas mais bem-sucedidas da história, mas uma das principais responsáveis pela difusão do gênero.

"Ao lado da 'Trilogia da Fundação', do Isaac Asimov, Duna foi uma das primeiras grandes ficções científicas a se basear fortemente em sociologia e ciência política, com um mundo em enorme crise. Os romances desse gênero que foram publicados até hoje e que trazem discussões políticas e sociais aprofundadas devem muito a essas duas histórias. Além disso, foi o primeiro livro do gênero a levantar questões ecológicas. Arrakis é um planeta devastado pela exploração humana descontrolada, onde a água se tornou um recurso tão escasso que os personagens usam trajes especiais para reter e reaproveitar o próprio suor. São questões de extrema relevância para o mundo atual, e talvez dialoguem conosco hoje até mais do que a época de publicação original", aponta Bárbara Prince, editora da Aleph

Segundo Bárbara, o clássico teria impactado até em "Star Wars". "'Duna' é uma influência clara, mas não declarada, para 'Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança'", diz. Os pontos de conexão entre a obra de Herbert e a de George Lucas iriam "desde o cenário – várias ficções pós-'Duna' incluíram planetas desérticos – passando pelos personagens e a trama com um imperador e uma guerra pelo poder, até uma droga chamada de spice", indica a editora.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.