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Aos 47 anos, Alexandre Nero finalmente tem um filme para chamar de seu

Alexandre Nero é observado por João Carlos Martins enquanto interpreta o maestro para filme - Fernando Mucci - Fernando Mucci
Alexandre Nero é observado por João Carlos Martins enquanto interpreta o maestro no filme
Imagem: Fernando Mucci

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

17/08/2017 04h00

Alexandre Nero já é um velho conhecido de quem acompanha novelas --ao menos desde o “Zoiúdo” de “Fina Estampa” (2011), ou do Comendador de “Império” (2014)--, mas só agora, aos 47 anos, o ator e músico terá um filme para chamar de seu.

Nero já fez cinema antes --apareceu em “Getúlio” (2014), “Muita Calma Nessa Hora 2” (2014) e “Crô - O Filme” (2013), entre outros--, mas, como ele mesmo diz, “papéis secundários, em que nada acontecia”. O primeiro protagonista vem só agora, depois do sucesso na TV, e está bem distante do ar pesado do Comendador, ou do humor de seu primeiro papel em novelas, o verdureiro Vanderlei de "A Favorita": ele vive o pianista e maestro João Carlos Martins na fase adulta em “João, o Maestro”, que estreia nesta quinta-feira (17).

“As pessoas não me chamavam [para papel de protagonista], o que é bem natural”, explica o ator. “No cinema, costumam chamar gente que já está mais conhecida. Com raríssimas exceções você vê alguém estreando no cinema, eu não sou o primeiro a dizer isso. O próprio Wagner [Moura] fazia cinema em papéis secundários, ele foi fazer bons papéis depois que aconteceu na TV”.

Não é também que Nero tenha focado em ir para o cinema, ou em ficar apenas na TV, até porque foco não é exatamente o forte do ator e músico curitibano. "Eu sou ator, músico, toco isso, toco aquilo. Digo que faço muitas coisas de forma mediana", diz, rindo. “Mas não fiquei visando ser teatro, ser cinema ou ser TV. Eu queria trabalhar e queria fazer bons trabalhos”, diz. “Aconteceu que desembocou em bons papéis na TV. E agora, com bons papéis na TV, as pessoas começaram a me observar”.

Daqui para frente, ele vai ter que se desdobrar entre os trabalhos na TV, como as séries “Filhos da Pátria”, que estreia em setembro na Globo, e “Onde Nascem os Fortes”, que começa a filmar em breve, e os projetos de cinema que agora estão surgindo em maior número. “Eu fiz agora 'O Albatroz', com texto do Bráulio Mantovani e direção do Daniel Augusto, e tem vários outros projetos para começar, um com o André Kloetzel, outro com o Mauro Mendonça Filho, que vai fazer a vida do Nelson Rodrigues. Todos esses como protagonista”.

Alexandre Nero em cena do filme "João, o Maestro" - Fernando Mucci/Divulgação - Fernando Mucci/Divulgação
Alexandre Nero em cena do filme "João, o Maestro"
Imagem: Fernando Mucci/Divulgação

Drama e emoção

Por enquanto, além da série global (que já está disponível no aplicativo de streaming Globo Play), os fãs do galã poderão vê-lo mostrando, de certa forma, seus dotes musicais nas telonas.

“O Nero tomou quatro aulas de piano, e quando você olhar, vai falar que é ele que está tocando”, elogia João Carlos Martins. “Na história do cinema, é uma das coisas mais perfeitas de sincronização, de atores que parecem estar tocando músicas de outros intérpretes, porque tudo que é tocado são gravações minhas”, comenta. “Por outro lado, o meu jeitão de olhar, de andar com a mão para dentro, ele pegou tudo em horas”.

No filme, Nero vive a fase mais madura do pianista, considerado um prodígio na juventude, com uma brilhante carreira internacional, até que um acidente bobo o impediu de tocar por vários anos: durante um treino com o time da Portuguesa em Nova York, ele fraturou o dedo e rompeu um nervo de sua mão direita.

Quando pode voltar ao piano, usando dedeiras de metal, desenvolveu outras lesões pelo esforço. Em 1995, um golpe na cabeça durante um assalto na Bulgária o afastou mais uma vez do piano, quase que definitivamente --depois de muitas cirurgias (já foram mais de 20), Martins voltou a tocar com a mão esquerda, antes de dar início a sua carreira de maestro.

Nero divide o papel também com Rodrigo Pandolfo (juventude) e Davi Campolongo (infância) no filme dirigido por Mauro Lima, e todos esses momentos dramáticos da vida do maestro estão na produção. E, claro, Martins não saiu incólume ao rever sua vida na tela grande.

“Eu chorei no final”, conta, citando a cena em que Nero entra na Sala São Paulo para reger uma orquestra. “A emoção que eu tive foi muito grande”.

As cenas que mais o emocionaram? “Três cenas no piano. Quando, já com dedeiras de aço, saía sangue nas teclas --é uma cena em Berlim que me tocou muito. A cena da volta ao piano no Carnegie Hall, que tinha 300, 400 pessoas quase encostadas no piano, fora 2.800 na plateia. E o meu empresário fala para mim antes de começar, isso é verdade: 'Eu mato você se você parar no meio'. E a cena do meu primeiro contato com o piano só com a mão esquerda, que o Nero faz com muita dramaticidade. É de chorar”.

No entanto, para Nero, o lado menos público de Martins foi o mais interessante de explorar e de conhecer. “O fato da nossa intimidade, de conhecer o João, de ir na casa dele, conversar, sair, e ter contato com as pessoas que convivem com o João --as pessoas gostam dele, têm carinho por ele-- isso facilitou a minha vida, de ver como ele é, principalmente o humor, que é uma coisa que eu nem sabia, não imaginava, e tentei colocar no filme”, aponta.

Mas o ator, apesar da proximidade, diz que não quis imitar o personagem real. “Para mim, o que importa é a essência daquele cara ali. Se estou com o cabelo igual, se estou andando igual, isso importa pouco. Se fiz alguma vez, foi muito mais em homenagem e em brincadeira com o João do que realmente querendo imitar”.