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Festival de Campos do Jordão comemora 50 anos divulgando música clássica

Concerto no Festival de Inverno de Campos do Jordão - Cristiano Tomaz/Futura Press/Folhapress
Concerto no Festival de Inverno de Campos do Jordão Imagem: Cristiano Tomaz/Futura Press/Folhapress

Sandra Carnota Mallón

De São Paulo

18/06/2019 14h30

O Festival de Inverno de Campos do Jordão, que completa 50 anos em 2019, assumiu neste ano a missão de divulgar a música clássica e derrubar seus clichês elitistas.

O evento, o maior do gênero na América Latina, tem como novidade diversos artistas de renome da música popular brasileira para se aproximar mais do público nesta edição comemorativa.

Dessa forma, Carlinhos Brown, Toquinho e Mônica Salmaso se apresentarão junto com uma orquestra sinfônica com a ideia de democratizar o festival.

Durante um mês, de 29 de junho a 28 de julho, mais de 100 artistas se apresentarão e oferecerão ao público shows e aulas para jovens músicos em Campos do Jordão, a 170 quilômetros de São Paulo.

Em edições anteriores, o festival já recebeu artistas de renome como o violinista e diretor de orquestra Yehudi Menuhin; o também diretor de orquestra Eleazar de Carvalho; a soprano Dame Kiri Te Kanawa; e o emblemático trio de piano Beaux Arts Trio.

O evento se baseia em dois pilares. De um lado, as apresentações e concertos e, do outro, a formação, uma vez que 200 alunos de música mergulharão no gênero e durante todo o festival conviverão e assistirão aulas com alguns dos melhores artistas do panorama musical.

"É uma iniciativa de divulgação e valorização da música clássica, da formação do público e também um estímulo ao turismo e à promoção do desenvolvimento econômico", explicou à Agência Efe Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura do Estado de São Paulo e ex-ministro da Cultura.

O festival, que nasceu há 50 anos graças à demanda do público que queria escutar música erudita, foi se consolidando até se transformar no maior da América Latina e atualmente é reflexo da crescente atração brasileira pelo gênero.

"A música clássica brasileira vive hoje seu melhor momento, é uma tendência crescente, há mais público, mais reconhecimento, mais salas de concerto de alto nível e mais músicos, o festival é a vitrine deste momento promissor", acrescentou o secretário.

No entanto, apesar do aumento do interesse pelo gênero, a música clássica ainda tem o estigma de elitismo na hora de se ter acesso a ela, tanto no plano econômico --ingressos caros--, como na esfera de formação cultural.

Campos do Jordão (SP): De 29 de junho a 28 de julho, a cidade abriga o tradicional Festival Internacional de Inverno. Em sua 44ª edição, o evento vai promover 64 concertos de orquestras, corais, grupos de câmara e bandas sinfônicas nacionais e internacionais. As apresentações são realizadas em diversos espaços da cidade, como a Praça Capivari e o Auditório Cláudio Santoro - fique ligado na programação, pois algumas atrações são gratuitas e outras voltadas para o público infantil. Na foto, Coro da Osesp se apresenta na edição passada do festival. Mais informações: www.festivalcamposdojordao.art.br - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Neste ano, o festival tenta romper essa imagem ao incluir um grande número de artistas populares brasileiros e oferecer 70% da sua programação de forma gratuita, tanto em praças como em auditórios.

Antônio Ribeiro é o diretor da Orquestra Jazz Sinfônica, fundada em 1989 graças a uma iniciativa da Secretaria de Cultura de São Paulo, cujo repertório consiste em arranjos sinfônicos de músicas populares.

Ribeiro defende a música popular brasileira como um "patrimônio cultural que não pode ser abandonado". Por esse motivo, a orquestra cria arranjos de alto nível e os apresenta no palco com artistas de diversos ritmos.

"O formato da apresentação da orquestra serve para que os jovens possam se interessar por uma didática erudita, o festival tem muito nível e é uma oportunidade cultural única", ressaltou.

Entre o público há estudantes, mas também muitos fãs que querem ver ao vivo as melhores atrações musicais.

Nesse sentido, Marcelo Lopes, diretor-executivo da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), destaca que o festival é uma "boa porta de entrada" para quem não está acostumado a ver uma orquestra sinfônica, e por isso outras possibilidades sonoras são mostradas.

"É lógico que o entendimento da música clássica de uma forma mais profunda requer uma formação prévia, mas, na medida em que fazemos estes concertos abertos ao público, sua linguagem vai sendo entendida", disse Lopes à Efe.

Para ele, este é um momento "muito relevante", no qual grande parte das classes mais pobres podem frequentar concertos e ter acesso a uma oferta musical que tradicionalmente tem preços de ingressos mais elevados.