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Tilda Swinton: Cinema não vai acabar, mas Netflix dá liberdade a cineastas

Bruno Ghetti

Colaboração para o UOL, em Cannes (França)

26/05/2017 17h00

Estrela de "Okja", um dos filmes produzidos pela Netflix em competição no Festival de Cannes, a atriz Tilda Swinton entrou na polêmica entre o serviço de streaming e as salas de cinema --as redes francesas protestaram contra o fato de as produções da Netflix não estrearem nos cinemas, e Cannes mudou as regras para o próximo ano diante das reclamações.

"O cinema nunca vai acabar. Eu não tenho esse medo. Mas estou aberta à elasticidade do formato", disse a atriz.

Ela também apontou o papel que a Netflix tem tido para o cinema independente. "A Netflix foi o único estúdio que quis fazer esse filme. E foi o único a dizer: 'Bong Joon-Ho, faça o que você quiser'", contou.

Jake Gylenhaal, seu colega de elenco, concorda. "Devemos abrir espaço para esses novos negócios, como a Netflix, que permitem que muitos mestres contem sua história em um tempo em que outros lugares não permitiram fazer com essa liberdade", disse.

O ator também afirmou que o debate é "essencial", mas é que preciso ter certa reverência com o passado. "A maneira com a qual você vai contar uma história está sempre em evolução, mas você tem que respeitar os mestres que vieram antes".

Entenda a polêmica

A Netlfix tem dois títulos na seleção principal de Cannes este ano, "Okja" e "The Meyerowitz Stories", o que gerou protestos entre os exibidores franceses, já que os títulos que competem no festival seguem uma tradição de estrear nas salas do país. No entanto, a Netflix se recusa a seguir esta regra, especialmente porque na França os filmes que passam no cinema só podem ir para o streaming após três anos. 

Mas o que poderia ter sido a chegada para ficar no calendário das principais premiações do cinema, acabou não passando de uma expectativa frustrada. Diante de muita reclamação (e possivelmente também por pressões de grupos distribuidores e exibidores de filmes das salas tradicionais), Cannes voltou atrás: em comunicado oficial há alguns dias, o evento criou uma nova regra exigindo que, a partir de 2018, o festival exiba apenas produções que serão mostradas em cinemas tradicionais.

O CEO da Netflix, Reed Hastings, ficou contrariado e reclamou em uma rede social. “O establishment está se unindo contra nós. Vejam ‘Okja’ no Netflix em 28 de junho. Um filme incrível que redes de cinema querem impedir de participar do Festival de Cannes”, escreveu.

Okja

O drama ecológico-juvenil “Okja”, do cineasta coreano Bong Joon-ho, é um filme estranho. Mostra a história de uma grande empresa que cria uma raça de porco geneticamente modificada e tenta emplacar o bicho no mercado alimentício, à base de muito falso marketing ecológico.

Mas uma menininha desenvolve laços de afetividade com um dos suínos e luta para evitar que ele se torne alimento. O filme mistura momentos de aventura infantil, com comédia pastelão e instantes de violência gráfica nada voltadas para crianças. Tilda Swinton está excelente como uma empresária supercapitalista, mas o filme é muito desigual. Ainda assim, pelo ar de novidade, parece uma aposta justa ter sido colocado entre os competidores.