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Em pleno 2017, por que há tão poucos personagens negros em filmes e HQs?

Cena do trailer de "Pantera Negra" - Reprodução
Cena do trailer de "Pantera Negra" Imagem: Reprodução

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

10/12/2017 04h00

Danai Gurira, Pantera NegraHomem-Aranha negro. A programação da CCXP 2017 (Comic Con Experience) trouxe um lado mais representativo que ainda costuma tangenciar a cultura geek: personagens e profissionais negros ainda sofrem para encontrar espaço espaço em filmes, quadrinhos e séries.

Estrela de "Pantera Negra" e "Walking Dead", Danai ganhou um painel completo no auditório Cinemark e ressaltou a importância da diversidade étnica. Em participação ao vivo em vídeo, o diretor do filme, Ryan Coogler, afirmou que viu o projeto como uma grande oportunidade de tocar em questões raciais.

Na sequência, o painel da Sony divulgou a animação “Homem-Aranha no Aranhaverso”, primeiro longa com o personagem Miles Morales, o Aranha do Universo Ultimate, um jovem negro.

“É interessante essa representatividade. A galera enfim está dando papel para o negro. Inclusive, essas versões dos novos heróis, tipo o Tocha Humana ser negro, são uma releitura que a 'negrada' adora. E quem não gostou, paciência, vá assistir outra coisa”, diz ao UOL Jean Carvalho, 31

O jovem Marcelino Junior, 28 - Rodolfo Vicentini/UOL - Rodolfo Vicentini/UOL
Marcelino Junior, 28
Imagem: Rodolfo Vicentini/UOL

Usando uma camiseta da plataforma 9 ¾ de Harry Potter, Marcelino Junior, 28, apontou outro detalhe. “Parece besteira para algumas pessoas, mas hoje mesmo a gente estava discutindo sobre quantos personagens negros existem para a gente fazer cosplay? Não tem muita opção. E não é por preconceito, mas branco normalmente tem uma facilidade maior.”

“Hoje você vê o Pantera Negra sendo tratado com o mesmo esforço que o Homem de Ferro foi tratado antes”, entende ele.

Apesar da mudança, Marcelino vê outros hábitos que continuam comuns. “Todos os funcionários que estão aqui são negros, o pessoal da limpeza e tal. Mas o evento deveria pensar nesse lado, para misturar tudo. É pensar o ambiente como um todo. Aqui na CCXP não vejo tanto preconceito, mas lá fora, sim. Aqui não tem ninguém parecido com ninguém, todo mundo se aceita. Mas lá fora não é assim.”

Carol Ferreira (à esq.) e a mãe - Rodolfo Vicentini/UOL - Rodolfo Vicentini/UOL
Carol Ferreira (à esq.) e a mãe
Imagem: Rodolfo Vicentini/UOL

Estreando na Comic Con diretamente de Salvador (BA), Carol Araújo, 18, ressalta que a representação do negro no universo cultural ainda é muito baixa. “Tudo bem, comparado com o que era, é um avanço, mas ainda falta alguma coisa para a gente se sentir representado. Ainda tem muito preconceito. Lembra quando anunciaram o Finn [personagem de ‘Star Wars’ interpretado por John Boyega]? Muita gente achou estranho, falaram que era besteira ter alguém assim na franquia.”

Osmar Cândido, 29, e Priscila Ferreira, 30, vieram do Rio de Janeiro e trouxeram os filhos Matheus, 4, vestido de Obi-Wan Kenobi, e Lucas, 1, de Homem-Aranha. E a novidade da nova animação agradou. “Eu li sobre isso hoje. Achei interessante. Uma mudança sempre é necessária, representar o povo em geral, independentemente da cor", disse o pai.