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Apito amigo: jogadores suspeitam que "FIFA" favorece quem está perdendo

Jogadores suspeitam que o resultado de uma jogada como um escanteio, por exemplo, depende mais da "vontade" do game do que de suas habilidades - Divulgação
Jogadores suspeitam que o resultado de uma jogada como um escanteio, por exemplo, depende mais da "vontade" do game do que de suas habilidades Imagem: Divulgação

Rodrigo Lara

Do Gamehall

24/03/2017 10h00

Há algo de podre no reino de "FIFA". Ao menos, é o que parece: entre jogadores, profissionais ou não, há quem esteja convencido que o jogo dá uma "ajudinha" para o time que está perdendo, o chamado "handicap". Por mais que a EA negue, a capacidade de facilitar ou dificultar determinadas ações de acordo com alguns fatores que vão muito além da habilidade dos jogadores é tema recorrente na comunidade do jogo - edições anteriores da franquia ganharam vídeos "provando" a sua existência. Será mesmo que o game "manipula" mesmo os resultados ao favorecer equipes mais fracas ou jogadores em desvantagem?

A teoria de quem jura de pés juntos que o sistema existe voltou a ganhar força após um jogador encontrar referências a algo do tipo no código de "FIFA 17". A descoberta, publicada na área referente ao game do fórum Reddit, mostra que o game teria uma dificuldade adaptativa de acordo com a situação, que mudaria o comportamento dos jogadores de acordo com o andamento dos jogos. Da forma que o código foi relatado, há margem de sobra para que os jogadores acreditem se tratar de um recurso para equilibrar partidas, como pode ser visto abaixo.

FIFA 17 - código handicap - Reprodução - Reprodução
Supostas evidências no código de "FIFA 17" reacenderam o debate sobre a existência de um sistema que manipula a dificuldade do game; EA nega
Imagem: Reprodução

E isso não agrada a comunidade. UOL Jogos entrou em contato com quatro dos melhores jogadores profissionais de "FIFA" do Brasil: Rafael "rafifa13" Fortes, Lucas "LucasRep98" Gonçalves e Matheus "Mazuco786" Mazuco, representantes do país na final mundial de FUT que será realizada em Berlim no próximo mês de maio, e Rodrigo Araújo, que foi o melhor brasileiro do game em 2016 e busca uma vaga na final em um torneio que acontecerá em Vancouver, no Canadá, em abril. 

Dentre eles, apenas Matheus não acredita que o jogo tenha um "handicap". Os demais não apenas creem na existência de algo assim, mas também concordam que a presença de um sistema do tipo atrapalharia bastante a igualdade de condições na disputa de uma partida, especialmente no cenário competitivo.

A existência do suposto sistema também afetaria quem joga o modo FUT, uma vez que fracassos seguidos incentivariam os jogadores a investirem na compra de novos pacotes de cartas - e como sabemos, é possível gastar muito dinheiro nessa modalidade.

Lenda ou realidade?

"O game muitas vezes prejudica os jogadores e acaba por decidir o destino dos jogos, sendo injusto com quem muitas vezes joga melhor", afirma Rafael. O jogador profissional é um dos que acredita que "FIFA" possui um sistema do tipo e que ele funciona "trazendo momentos de muita sorte para aqueles supostamente mais fracos e de muito azar para quem seria mais forte".

Ainda assim, Rafael acredita que, por ser algo aleatório, o jogador supostamente prejudicado em uma partida pode ser beneficiado em outra, o que ajuda a equilibrar a questão. 

Para Lucas, a sensação que fica é que, às vezes, a partida parece seguir um script. "Na minha opinião, é algo mais complexo do que simplesmente favorecer alguém mais fraco e envolver tudo que acontece no jogo, desde a posse de bola até o número de finalizações". De acordo com o jogador profissional, isso acaba atrapalhando a imagem do game e desanimando os jogadores.

FIFA 17 - FUT - Reprodução - Reprodução
A existência de um sistema do tipo prejudicaria jogadores em partidas online e, principalmente, incentivaria a compra de pacotes de cartas no modo FUT
Imagem: Reprodução

Essa teoria de que o jogo cria situações mais ou menos complicadas também é apontada por Rodrigo. Ele que lamenta a existência de algo do tipo, diz que "o vencedor deveria ser quem treina e joga mais, não quem está com sorte ou está com o handicap a favor em determinado jogo".

Matheus, por sua vez, não acredita totalmente nessa "bruxaria" de "FIFA". Para ele, o jogo até pode mexer alguns pauzinhos, mas o nível de manipulação seria muito menor do que o que se diz na comunidade do game. "O maior problema, para mim, é o estado psicológico do jogador. A pessoa erra dois gols, acha que o jogo está forçando a derrota, se desconcentra e perde. Acho que a única variação que existe é a de desempenho dos jogadores, o que, se pensar, faz o game ficar mais próximo da realidade".

E como ficam as competições?

A suposta existência de um sistema do tipo atrapalharia em um segmento que "FIFA" ganha cada vez mais espaço: o dos eSports. "Essa possibilidade (de atrapalhar) é muito grande, mas também é preciso considerar que em campeonatos os jogadores jogam em um ritmo diferente, então não se sente tanto", pontua Lucas.

Rodrigo, por sua vez, afirma que o nível parelho dos profissionais abre brechas para que um sistema do tipo seja decisivo em um momento no qual apenas as habilidades dos jogadores deveriam importar. "Nesses jogos, um detalhe faz a diferente e ter esse 'handicap' a seu favor pode influenciar".

Já Rafael aponta que esse sistema influencia muito mais as partidas online do que disputas offline. "Quando há uma disparidade maior entre os times, o sistema fica mais perceptível. Mas é um elemento que é complicado para o desenvolvimento do game como eSport".

FIFA 17 - eSport - Reprodução/Fifa.com - Reprodução/Fifa.com
Jogadores profissionais temem que a suposta existência do "handicap" afetaria a reputação da franquia em uma área na qual ela vem se expandindo: os eSports
Imagem: Reprodução/Fifa.com

Com ou sem handicap, Matheus acredita que o protagonismo ainda fica nas mãos do jogador, mesmo em disputas online. Saber se adaptar a situações diferentes, portanto, é o grande diferencial em sua opinião. "Jogadores mais preparados e acostumados com isso acabam indo bem sempre. Se houvesse realmente um sistema assim, não seria possível manter a consistência online", discorda.

Assista à análise de "FIFA 17"

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EA joga na retranca

Essa duradoura polêmica foi tema de uma entrevista feita pelo site Videogamer em 2012 com o produtor de "FIFA 13", David Rutter. Na ocasião, ele negou a existência do artifício, "Se o seu time está indo mal, os jogadores não começam a jogar pior. Se está indo bem, eles não melhoram sua performance. Esse conceito não existe", ressalta.

Anos depois, em 2015, outro produtor da série, Aaron MCHardy, disse que o caráter imprevisível de "FIFA" permite que coisas fora do normal aconteçam durante uma partida, mas que criar um sistema como o de handicap não seria possível.

O assunto chegou a gerar uma petição online há cerca de três anos, que reuniu pouco mais de 5 mil assinaturas. Até que exista qualquer tipo de prova conclusiva sobre a existência ou não de um sistema de handicap, os jogadores de "FIFA" vivem uma situação de "lenda urbana". Seria uma derrota acachapante fruto de um "mau dia" no game ou resultado de uma manipulação do jogo? Pelo visto, ainda estamos muito longe de uma resposta para essa pergunta.