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Emicida usa versos de Belchior em nova música com Pabllo Vitar e Majur

Emicida com Pabllo Vittar e Majur em "AmarElo", faixa-título de seu novo álbum - Fernando Schlaepfer
Emicida com Pabllo Vittar e Majur em "AmarElo", faixa-título de seu novo álbum Imagem: Fernando Schlaepfer

25/06/2019 12h00

Emicida resgata os versos "Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro", da música "Sujeito Sorte", de Belchior (1946-2017), e os une com o poema de sua autoria "Permita que Eu Fale, Não As Minhas Cicatrizes".

Em AmarElo, faixa-título de seu novo trabalho, os versos são cantados por Pabllo Vittar e Majur.

"As duas trazem, em suas vivências e em suas obras, histórias bonitas a respeito de acreditar em si e de lutar contra o mundo para ser quem são", explica Emicida.

Depois de Eminência Parda, lançada em maio, a música chega com um videoclipe gravado no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, protagonizado pelos três. Compõem a narrativa personagens que têm as suas cicatrizes como figurantes.

"Dividir a cena com eles dois é um marco na minha carreira e, principalmente, na música brasileira", define a cantora não binária Majur. "É muita representatividade em um momento que precisamos ter voz. AmarElo traz na sua poesia o retrato de um Brasil de multiplicidade e que ressignifica a sobrevivência de um povo que me identifico muito. Canta a busca por nosso lugar social", completa.

AmarElo é a segunda faixa do álbum com lançamento da Laboratório Fantasma e distribuição da Sony Music.

"No primeiro passo desse processo, a nossa intenção era que as pessoas se sentissem grandes ao olharem no espelho. Agora, a ideia é que elas observem ao redor e se enxerguem maiores do que os seus problemas, independente de quais sejam", diz Emicida.

O rapper apresentará a música ao vivo pela primeira vez no palco do MTV Miaw ao lado de Pabllo Vittar e Majur. A premiação será gravada em São Paulo no dia 3 de julho e vai ao ar no canal em 4 de julho a partir das 22h.

Veja abaixo a letra de "AmarElo"

Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

Eu sonho mais alto que drones
Combustível do meu tipo? A fome
Pra arregaçar como um ciclone (entendeu?)
Pra que amanhã não seja só um ontem
Com um novo nome
O abutre ronda, ansioso pela queda (sem sorte)
Findo mágoa, mano, sou mais que essa merda (bem mais)
Corpo, mente, alma, um, tipo Ayurveda
Estilo água, eu corro no meio das pedra
Na trama, tudo os drama turvo, eu sou um dramaturgo
Conclama a se afastar da lama, enquanto inflama o mundo
Sem melodrama, busco grana, isso é hosana em curso
Capulanas, catanas, buscar nirvana é o recurso
É um mundo cão pra nóiz, perder não é opção, certo?
De onde o vento faz a curva, brota o papo reto
Num deixo quieto, num tem como deixar quieto
A meta é deixar sem chão, quem riu de nóiz sem teto

Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

Figurinha premiada, brilho no escuro, desde a quebrada avulso
De gorro, alto do morro e os camarada tudo
De peça no forro e os piores impulsos
Só eu e Deus sabe o que é não ter nada, ser expulso
Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso
Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro, triste
Hoje cedo não era um hit, era um pedido de socorro
Mano, rancor é igual tumor envenena raiz
Onde a platéia só deseja ser feliz (ser feliz)
Com uma presença aérea
Onde a última tendência é depressão com aparência de férias
Vovó diz, Odiar o diabo é mó boi, difícil é viver no inferno
E vem a tona
Que o mesmo império canalha, que não te leva a sério
Interfere pra te levar a lona
Revide

Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes, não, melhor, figurantes, que nem devia tá aqui
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nóiz?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir a sobrevivência
É roubar o pouco de bom que vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir

Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro