Topo

Harvey Weinstein, um deus de Hollywood que cai em desgraça

O produtor Harvey Weinsten discursa no jantar pré-Oscar da produtora The Weinstein Company, em fevereiro de 2017 - Rich Polk/Getty Images for The Weinstein Company
O produtor Harvey Weinsten discursa no jantar pré-Oscar da produtora The Weinstein Company, em fevereiro de 2017 Imagem: Rich Polk/Getty Images for The Weinstein Company

De Los Angeles

15/10/2017 09h46

Meryl Streep o chamou de "deus", mas Harvey Weinstein caiu bruscamente do Olimpo de Hollywood para encarar as acusações de assédio e abuso sexual que acabam rapidamente com sua invejável carreira.

Weinstein, de 65 anos e mais de 100 quilos, foi uma das pessoas mais influentes na indústria de cinema dos Estados Unidos, com o poder de construir ou destruir carreiras em um piscar de olhos. Com seu irmão Bob construiu uma fábrica de sucessos de bilheteria, com 80 premiações do Oscar e mais de 300 indicações.

Tudo parece ter ido para o lixo com este escândalo revelado pelo jornal The New York Times e alimentado pela revista The New Yorker.

Mira Sorvino, Rosana Arquette, Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e Léa Seydoux, entre outras atrizes, disseram ter sido objeto de insinuações sexuais do produtor. Asia Argento, Lucia Evans, Rose McGowan, Lysette Anthony e uma outra mulher que permanece sob anonimato o acusam de estupro.

Neste sábado ele foi expulso da Academia das Artes e das Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, uma semana depois de ter sido demitido da The Weinstein Company (TWC), que fundou com o irmão Bob em 2005 depois de sair do Miramax, o primeiro estúdio que fundaram juntos em 1979 e que venderam para a Disney em 1993.

Deus

O produtor Harvey Weinstein discursa em evento beneficente ao lado da atriz Meryl Streep, em novembro de 2012 - Jemal Countess/Getty Images for Christopher & Dana Reeve Foundation - Jemal Countess/Getty Images for Christopher & Dana Reeve Foundation
Harvey Weinstein discursa em evento beneficente ao lado da atriz Meryl Streep, em novembro de 2012
Imagem: Jemal Countess/Getty Images for Christopher & Dana Reeve Foundation

Harvey chegou a ser chamado de "xerife desta asquerosa cidade sem lei" chamada Hollywood.

Entre os indicados ao Oscar a melhor filme estão "O Aviador", "Chicago", "Gangues de Nova York", "A Vida é Bela", entre outros sucessos de público e crítica.

Ganhou o Oscar de melhor produtor com "Shakespeare Apaixonado". "O Paciente Inglês", "O Artista", "O Discurso do Rei" e "A Dama de Ferro" também estão na lista dos filmes que alcançaram por suas mãos a glória do Oscar.

"Quero agradecer a meu agente e a Deus... Harvey Weinstein", disse Meryl Streep, ao ganhar em 2012 o Globo de Ouro por sua atuação como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

Ao tomar conhecimento das "vergonhosas" denúncias, das quais afirmou nunca ter tido a menor ideia, ela se disse "horrorizada", assim como muitos artistas, diretores e até mesmo políticos, como o ex-presidente Barack Obama e a ex-candidata à Casa Branca Hillary Clinton, que receberam doações generosas de produtores para suas campanhas.

Foi uma brilhante carreira de 30 anos, tempo no qual, segundo a imprensa, ele manteve a conduta condenada pela Academia de Cinema Britânica (Bafta), que também o expulsou.

Índios e cowboys

O produtor Harvey Weinstein durante conferência em Sun Valley, Idaho, em julho de 2017 - Drew Angerer/Getty Images - Drew Angerer/Getty Images
O produtor Harvey Weinstein durante conferência em Sun Valley, Idaho, em julho de 2017
Imagem: Drew Angerer/Getty Images

Weinstein nasceu em 19 de março de 1952 e disse em várias entrevistas que quando tinha entre 10 e 12 anos, brincando de índio e cowboy, um galho entrou no seu olho, obrigando-o a fazer repouso.

Seus pais trabalhavam e o pequeno Harvey costumava ir para casa da vizinha, dona de livraria, para ler.

"Muito novo eu já lia grandes histórias e ficava encantado. Eu precisava ir para um outro mundo", disse ao jornal The Guardian em 2003.

Primeiro ele leu "Outline of History", de H.G. Wells, depois "O Vento Levou" e mais tarde "Guerra e Paz", contou em uma entrevista ao The Telegraph em janeiro de 2016.

Com uma fortuna estimada em US$ 150 milhões, Weinstein era reconhecido por suas contribuições em campanhas contra a aids, diabetes juvenil, esclerose múltipla e ao Partido Democrata.

Weinstein, que admite os assédios, mas nega as acusações de estupro, disse que buscará ajuda e pede uma segunda chance.